William Siri: Prefeitura, cadê o Plano Verão na Zona Oeste?

Planejamento prevê a maioria dos investimentos na região para prevenir danos das chuvas da estação deste ano, mas quase nada saiu do papel

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Vista aérea da orla do bairro da Barra da Tijuca • Foto: Rafa Pereira, Diário do Rio

No último dia 21 começou o verão, a estação mais amada pelos cariocas e turistas da nossa cidade. Conhecido pelas altas temperaturas, ele trouxe consigo uma frente fria que não demorou a dar lugar ao sol. Assim, logo nos primeiros dias de 2023, os termômetros registraram calor superior aos 35ºC, o que passou a preocupar muita gente. Enquanto para alguns o verão é sinônimo de férias e praia, para boa parte da população ele representa possível perigo e risco de danos pela inação do Poder Público.

É simples saber o porquê. As altas temperaturas intensificam a evapotranspiração e a formação de nuvens, que devolvem a umidade à superfície em forma de chuva, geralmente em grande volume. É uma relação de causa e efeito simples, já bem conhecida pelas grandes cidades mas que segue fazendo estragos.

O adensamento populacional dos bairros cariocas, com  crescimento desordenado e sem planejamento, piora o cenário. O avanço significativo da expansão imobiliária sobre as paisagens naturais e os corpos hídricos, sobretudo na Zona Oeste, pioram o efeito devastador. Com boa parte dos nossos rios totalmente canalizados, sem mata ciliar, assoreados e/ou sofrendo com o grande acúmulo de lixo, as águas das chuvas não têm para onde escoar. É por isso que tão frequentemente os noticiários estampam o choro e lamento de famílias inteiras que perdem tudo para as enchentes.

Em resposta às tragédias anunciadas, a Prefeitura apresentou o Plano Verão, que prevê  uma série de medidas preventivas para “resolver problemas estruturais da cidade, um esforço para minimizar os impactos das chuvas mais fortes”. Segundo o próprio prefeito Eduardo Paes, ele abarca a realização de 235 obras para a contenção de encostas, a dragagem de rios e a limpeza de ralos em toda a cidade, entre outras medidas, que totalizam o investimento de R$ 1,2 bilhão. A quantia é infinitamente maior do que a destinada a esse fim pela gestão Crivella, período em que a Geo-Rio e a Rio Águas agonizaram. Assim, o atual governo encontrou quadro ainda mais catastrófico e carente de respostas urgentes quando assumiu. 

Paes destacou que a maioria das intervenções programadas para este verão acontecerão na Zona Oeste, que receberá cerca de 112 obras. Isto representa 49,15% do total do previsto pelo plano para a cidade, o que é justo pela extensão territorial e número de habitantes que aqui moram. É também nesta região que encontramos o maior índice de vulnerabilidade social causada pelas enchentes. Exemplo disto é o loteamento Jardim Maravilha, localizado no bairro de Guaratiba, que todo ano sofre com os alagamentos. Ali, em área de várzea equivalente à Copacabana, vivem mais de 30 mil pessoas.

Já para o restante da cidade, o prefeito anunciou o seguinte número de ações: 81 na Zona Norte (35,04%), 31 na Zona Sul (14,95%) e 11 (0,85%) no Centro. Entretanto, ao investigar a localização daquilo que foi anunciado e executado pelo Poder Executivo para o Plano Verão 2022/2023, identificamos uma desigualdade no andamento dessas intervenções. 

Embora a Zona Oeste lidere o percentual de obras anunciadas, ela foi a mais negligenciada na agilidade dos trabalhos na comparação com as demais regiões.

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No mapa acima, divulgado em novembro de 2022 pelo Escritório de Dados da Prefeitura do Rio de Janeiro, percebe-se que a maioria das intervenções entregues ou com previsão de conclusão até o final de 2022 estavam localizadas na Zona Norte, Zona Sul e Centro. Enquanto isso, a Zona Oeste, principalmente na Área de Planejamento 5 (que possui os bairros mais populosos), apresenta previsões de entrega somente para final de 2023, isso sem falar nas obras que ainda estão em fase licitatória. Sendo assim, o Plano Verão para esta área da cidade é, na verdade, para 2024. Isso significa mais um ano em que as famílias que aqui moram continuarão aflitas a cada previsão de chuva.

Por este motivo, nosso mandato está organizando o Diagnóstico dos Rios da Zona Oeste, a ser divulgado ainda neste primeiro semestre de 2023. Nele, averiguamos o andamento das obras e a atual situação dos corpos hídricos a partir de visitas efetuadas ao longo do mês de dezembro. Fomos a cerca de 40 deles espalhados pela AP4 e AP5, orientados pelo  documento da Rio Águas “Rio de Janeiro: um manual dos rios, canais e corpos hídricos da cidade do Rio de Janeiro”, de 2020. Tal publicação apresenta a listagem dos rios da cidade de acordo com suas três macrorregiões drenantes. Nosso dossiê procura, além de investigar os pontos de alagamento, apontar as reformas estruturais necessárias e acompanhar de perto todo o desenrolar das obras para cobrar a Prefeitura. 

Ao descortinar o Plano Verão 2022/2023, conseguimos apresentar a real situação da desigualdade na cidade, por vezes maquiada por números extravagantes que induzem ao erro. Se a Zona Oeste é a que mais necessita de obras de urgência, porque os trabalhos por aqui avançam a passos de tartaruga? Não há lógica nisso, principalmente quando tais ações miram a minimização dos impactos das chuvas deste verão. A verdade é que, com isso, por mais um ano, a região mais populosa do Rio ficará à mercê das prováveis enchentes. Precisamos de um planejamento estratégico, eficaz e de aplicação imediata, que não esteja condicionado a alguns meses do ano, para garantir de vez a segurança, o patrimônio e a qualidade de vida dos moradores.

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