Émilie e eu nos conhecemos em São Paulo em fins de 2013. Na fila do McDonalds da Paulista, quase esquina de Augusta. Estava indo para uma boate com um amigo que temos em comum e ela resolveu se juntar a nós. Fazia um calor horrível, daqueles de fim de ano; minha camisa estava ensopada de suor, e ela tinha cabelo azul. Rodamos a noite paulistana e pulamos de boate em boate até parar num lugar alternativo na Barra Funda, uma espécie de anti-D-Edge. Tentei a sorte com ela a noite toda e levei muitos tocos. Chateado com o fora e a música ruim, fui embora e deixei ela lá.
Mesmo assim, nos adicionamos no Facebook e seguimos conversando por anos a fio. Nos vimos de novo mais algumas vezes, algumas em São Paulo e outra no Rio. Em uma delas, era carnaval e eu morava em Santa Teresa. Ela disse que queria passar o carnaval no Rio, eu indiquei um hostel perto do meu apartamento, o Terra Brasilis. No início da Murtinho Nobre, a vista para o centro é embasbacante. Do outro lado da rua, o parque das Ruínas se debruça sobre a baía de Guanabara e olha vis-a-vis para o Pão de Açúcar. A receita para o romance estava lá, mas ela apareceu com um sueco e ficou grudada nele o carnaval inteiro. Naquele dia, eu desencanei.
O tempo continuou passando e sempre que nos víamos, um de nós estava solteiro e o outro, namorando. Eu nem tinha mais esperanças de nada, embora ela continuasse ficando mais bonita e mais interessante a cada dia. Tínhamos a mesma opinião política, o mesmo gosto arquitetônico e musical, o desprezo pelas mesmas coisas e pessoas. Mas eu tinha me conformado que seria só amizade.
Minha sorte mudou em 17 de setembro de 2016. O grupo Corpo iria se apresentar no Theatro Municipal e Émilie me convidou para acompanhá-la. Um pouco cético, aceitei o convite. Passamos a tarde no hotel dela em Copacabana, bebendo à beira da piscina e dividindo o mesmo fone de ouvido. À noite, apanhei-a de taxi e fomos para o Municipal. Ainda me lembro de nossas mãos dadas no carro e aquela timidez da tensão sexual entre dois quase-amantes; no caminho, contei para ela a história do Aterro do Flamengo e de todos os monumentos que o enfeitam. Nosso primeiro beijo aconteceu na varanda abalaustrada do Municipal, enquanto esperávamos o espetáculo começar, encantados pela exuberância dos materiais empregados naquele prédio.
Duas semanas depois, ela botou tudo num caminhão e se mudou para o Rio. Começamos nossa vida juntos no número 263 da General Urquiza, no Leblon, um conjugado de 45m² num pedacinho do paraíso. Nossos fins de semana eram vividos entre a praia e os bares e restaurantes da Dias Ferreira. A saudade daquela faixa de areia e daquele pedaço de rua pontilhado de gente e boa comida ainda dói aguda em nós.
Um ano depois estávamos nos casando, e outro ano depois nos mudamos para o Canadá, país natal dela. Na terça-feira passada, dia 09 de novembro, aqui em Ottawa, onde o frio já vai chegando, nasceu um pacotinho de amor que nos fez completos. Leonor Jacqueline Antoinette, um pouco franco-canadense e um pouco brasileira, carrega o sangue de João Pereira de Souza Botafogo e outros cariocas fundadores. Carrega a memória de Massimiliano Zeni, meu trisavô italiano, cuja primeira visão do Brasil foi o Pão de Açúcar em dezembro de 1883. Sobretudo, é fruto de um romance que nasceu e foi regado nas ruas do Leblon e nas calçadas de Copacabana, na areia da praia e na varanda do Municipal. Canadense, mas também carioca. Olho para a neve que começa a cair e só desejo que minha querida Leonor possa experimentar o mesmo Rio que eu vivi.
Acho difícil alguém não se apaixonar pela Emilie, uma amiga tão linda e dedicada. Ainda não o conheço Giancarlo, mas sinto como se já o conhecesse, creio que o fato de fazer minha amiga feliz seja o ingrediente desse sentimento.
Me lembro de quando ela disse que estava de mudança para o Rio, só pude sentir felicidade, amo as loucuras de amor e no caso de vocês, com uma deliciosa recompensa chamada Leonor.
Que vocês três possam desfrutar do Canadá, do Rio, de SP e do mundo todo, pois, mais importante que o local em si é quem está junto celebrando a paisagem.
Oi, Marcele! Muito obrigado pelo carinho. Vamos viver muitas aventuras com a pequena Leonor!
Um abraço,
Giancarlo.