Hoje completam 100 dias do governo do Prefeito Marcelo Crivella na Cidade do Rio de Janeiro. Normalmente dizem que este é um período de carência para o novo governante, enquanto ele arruma a casa, se adapta ao novo emprego e dá início às novas políticas públicas que serviram de promessa para a campanha.
Acontece que os últimos 100 dias mais serviram para alarmar a população carioca e mostrar que a gestão Crivella, ao que tudo indica, será uma verdadeira bagunça. Ressalto que, independentemente de qualquer coisa, é claro que sempre vou torcer para o sucesso da gestão, afinal, eu quero viver no melhor Rio de Janeiro possível – só que está difícil.
A primeira medida de Crivella foi lançar uma edição extraordinária do Diário Oficial do Município com dezenas e dezenas de decretos, ainda no dia 1º de janeiro. Apesar de não termos tido a transição que se esperava entre Paes e ele, parecia ser um bom indicativo de que estava tudo em ordem. Mas o diabo mora nos detalhes…
Dentre todos esses decretos, o primeiro erro: foram exonerados todos os funcionários que estavam em cargo de comissão (os famosos cargos de confiança, o que, até aí, tudo bem) e também os funcionários de carreira com funções gratificadas. Ou seja, a Prefeitura tinha Prefeito, tinha secretários, mas não tinha gerentes, coordenadores, supervisores, fiscais… E aí quem é que vai licenciar as obras? Quem vai coordenar o trabalho de manutenção dos postes? Quem vai fazer a escala de limpeza da Comlurb? É… E isso gerou um profundo caos nos corredores do Centro Administrativo São Sebastião. Afinal, sem chefe, sem comando, sem trabalho. Ainda nessa seara, Crivella demorou – e até hoje ainda não terminou – de nomear todos os assessores e de distribuir as gratificações aos funcionários. Prova disso é que o Previ-Rio, instituto que cuida da aposentadoria dos funcionários públicos, ficou sem comando por mais de dois meses.
No meio disso tudo, foram dadas diversas declarações contraditórias, a começar com o desejo de morar e construir um muro no Palácio da Cidade que, diga-se de passagem, nunca foi residência, enquanto o município está com um rombo nas contas públicas de R$ 4 bilhões. Morar lá significa fazer uma série de reformas para adaptar o imóvel aos seus novos inquilinos. Mas, com qual necessidade, se já existe a residência oficial do Prefeito, que é a Gávea Pequena? É…
Outra coisa é a falta de sincronia com seu próprio secretariado e pior, com seu vice-prefeito, quando este disse que a Linha Vermelha poderia ter um pedágio e, imediatamente, Crivella o desmentiu. Ora bolas, quem está com a razão? O zelo com a coisa pública parece que também não está no radar quando decidiu por nomear seu filho para Secretário da Casa Civil e quando nomeou duas pessoas já falecidas.
Para continuar, nos dois primeiros meses não houve qualquer tipo de investimento na cidade, segundo a execução orçamentária publicada no Diário Oficial do último dia 30 de março. Nenhuma rua foi asfaltada, nenhum projeto foi iniciado, nada. Crivella também quebrou uma tradição de décadas, ao não entregar a chave da cidade ao Rei Momo e não abrir o carnaval na Sapucaí. A desculpa oficial era de que estava auxiliando a esposa em uma “forte gripe”. O que ele não sabe, é que sendo uma figura pública, fica difícil mentir, ainda mais em público: Crivella foi visto em um torneio de tênis na Hípica, quando deveria estar com a esposa. Ops.
A sua relação com a Câmara Municipal, os representantes diretos da população carioca, não é lá das melhores, pelo contrário. Sua base é extremamente frágil, seu líder do governo critica os projetos do Executivo e praticamente não há interlocução entre os poderes. Segundo dizem assessores sêniores do Palácio Pedro Ernesto, com mais de trinta anos de política, nunca foi vista e imaginada uma situação como a vivida atualmente entre um Prefeito e a Câmara.
Para não dizerem que não falei das flores – apesar de ser difícil – Crivella parece, às vezes, ter boas intenções. A Secretaria de Saúde já realizou diversos mutirões para tentar acabar com as filas de cirurgias na rede municipal. Outra coisa é a promessa de construir um novo autódromo no bairro de Deodoro, já que o Rio não conta mais com um equipamento deste, desde que Eduardo Paes demoliu o antigo em Jacarepaguá. Além do mais, cortou 25% dos contratos de todas as secretarias e diz ter diminuído cargos comissionados gerando uma economia estimada em cerca de R$ 700 milhões.
Por fim, em um evento na Cidade das Artes para fazer o balanço dos seus 100 dias, Crivella basicamente reclamou da herança maldita deixada por Paes e fez promessas para o restante do governo. O que era para ser um período de lua de mel com a imprensa e com a população mais serviu para assustar os cariocas. Hoje em dia é quase unânime a reação das pessoas: afinal, se não queria governar, pra quê se candidatou? Ruas continuam esburacadas, camelôs proliferam, todas as obras estão paradas, a Prefeitura está sem comando e os funcionários públicos pedem socorro, etc, etc, etc…
Infelizmente o período que se avizinha para nossa cidade é de completa incerteza. Um cenário em que o Prefeito parece estar sempre sem paciência para lidar com os problemas, falta de dinheiro, falta de diálogo com a população e com a Câmara, falta de motivação, falta de projetos, falta de tudo. Mais uma vez, não desejo um governo ruim, pelo contrário, mas está cada dia mais difícil ter esperanças.
Salve-se quem puder.