“No Rio de Janeiro não tem mais rio. É tudo valão”, me disse, certa vez, um senhor. Talvez, ele tenha razão. De acordo com o último levantamento do Observando Rios, da SOS Mata Atlântica nenhum dos rios urbanos do nosso município tem indicadores de água de “boa” ou “ótima” qualidade.
“Os dados comparativos permitem constatar a evolução da qualidade da água no período de 12 meses, correspondente a um ciclo hidrológico, e identificar os impactos naturais e antrópicos que interferem na condição ambiental e de saúde desses corpos d’água. Esses indicadores estimulam a sociedade a se engajar nas políticas públicas voltadas à gestão da água, a construir cenários, planejar, propor e a implementar ações que garantam metas progressivas de qualidade da água”, informa o estudo da SOS Mata Atlântica.
No Rio de Janeiro, o monitoramento foi realizado em 15 pontos de coleta e para os dados comparativos neste ciclo foram considerados 11 pontos. Os resultados dos rios urbanos do município do Rio de Janeiro apontam que a capital carioca manteve os indicadores de qualidade da água em regular e ruim em nove pontos. Os dados aferidos indicam que nenhum dos rios monitorados tem qualidade boa ou ótima.
Apenas dois pontos de coleta apresentam tendência de recuperação da qualidade da água, no rio Catarino e na Lagoa de Jacarepaguá, que saíram da qualidade ruim para regular em relação ao último relatório, de 2018.
Com 12% da oferta de água do planeta, o Brasil tem apenas 4% de seus recursos hídricos com qualidade considerada ótima, percentual que caiu seis pontos de 2008 para 2009. Segundo avaliação do “Informe 2011 da Conjuntura dos Recursos Hídricos do Brasil”, divulgado em março do ano passado pela Agência Nacional de Águas (ANA), cem rios estão em situação ruim ou péssima.
Segundo esse estudo da ANA, a água de pior qualidade se concentra perto das regiões metropolitanas de São Paulo, Curitiba, Belo Horizonte, Porto Alegre, Rio de Janeiro e Salvador e das cidades de médio porte, como Campinas (SP) e Juiz de Fora (MG). Entre os rios cuja água é de péssima ou má qualidade, estão o Tietê, que corta a capital paulista, o Iguaçu, que forma as famosas Cataratas do Iguaçu, e o Guandu-Mirim, no Rio – os dois últimos ficam dentro de unidades de conservação, o Parque Nacional do Iguaçu e a Área de Prote-ção Ambiental (APA) do Rio Guandu, respectivamente.
A quarentena, realizada para tentar conter o Coronavírus, (ainda que não feita da forma mais correta) ocasionou em situações inusitadas, como a presença de animais silvestres em áreas urbanas e uma qualidade maior do ar que se respira no Rio de Janeiro – sobretudo nos primeiros meses de isolamento social. Contudo, o mesmo não pode ser dito sobre os rios da cidade.
“Como o saneamento básico é precário no Rio de Janeiro, com as pessoas mais tempo em casa, a tendência é de rios ainda mais poluídos e com menor qualidade de suas águas, pois o número de esgoto despejado nesses rios aumenta”, pontua o ambientalista Roberto Diniz.
Outra questão que vem sendo levantada por ambientalistas em tempos de pandemia é a presença do Coronavírus no esgoto – que muitas vezes é despejado nos rios.
“Um trabalho conjunto, entre sociedade, estudiosos do tema e poder público ainda pode mudar essa situação. Existem alguns exemplos pelo mundo de cidades que despoluíram seus rios e alguns viraram ou voltaram a ser até cartões postais, estimulando outros serviços, como turismo, comércio, desses lugares. É possível fazer aqui também”, afirma Roberto Diniz.
Alguns exemplos de rios despoluídos em outros países são: Rio Sena, Paris (França), Rio Tâmisa, Londres (Reino Unido), Rio Tejo, Lisboa (Portugal), Rio Han, Seul (Coreia do Sul) e Rio Cuyahoga, Cleveland (Estados Unidos).
“No Rio de Janeiro não tem mais rio. É tudo valão”, Talvez o senhor que me disse essa frase tenha razão no que diz quando se refere aos tempos atuais do Rio de Janeiro. Mas a afirmação, em um futuro melhor e com mais ações conjuntas e eficazes para solucionar o problema, pode transformar o que foi falado em águas passadas.
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