Ediel Ribeiro: Viva João Ubaldo Ribeiro

Se vivo fosse, Ubaldo teria feito 80 anos no último dia 23

Advertisement
Receba notícias no WhatsApp

Conheci João Ubaldo Ribeiro quando ele ainda bebia. Mas nunca bebi com ele.

Um erro imperdoável.

Dizem que nunca é tarde para parar de beber, mas João Ubaldo parou tarde demais. Boêmio convicto, teve de abandonar o uísque para cuidar da saúde. Não deu.  João Ubaldo morreu em janeiro de 2014, de embolia pulmonar, pouco tempo depois de abandonar o hábito etílico.

João Ubaldo Osório Pimentel Ribeiro era romancista, contista, cronista, roteirista, jornalista e – claro – boêmio. 

Todo boêmio tem seu bar de estimação. João Ubaldo tinha três. Um em Ipanema e dois no Leblon, onde morava.

O de Ipanema, levava seu nome: “Café Ubaldo” e ficava no segundo andar da livraria Letras & Expressões, vizinho do “Bar do Zira”, boteco  que homenageava o amigo Ziraldo, no terceiro andar.

Ubaldo era frequentador assíduo da Letras & Expressão do Leblon; quando os donos abriram a filial de Ipanema, resolveram dar o nome do cliente famoso ao boteco da livraria. Ubaldo costuma sentar em uma das mesinhas de mármore e ficar por horas tomando seu uísque, enquanto lia.

João Ubaldo Ribeiro, depois que parou de beber, nunca mais apareceu por lá. Até fechar, a única lembrança do escritor no local era a foto pendurada atrás do balcão do bar.

No Leblon, Zona Sul do Rio, João Ubaldo frequentava o “Flor do Leblon”. Era tão fácil encontrar o escritor nos fins de tarde do bar, em conversa com os amigos, que o Flor era chamado de “escritório do João Ubaldo”. 

João Ubaldo era vizinho do boteco.

Com o fechamento do “Flor do Leblon”, Ubaldo passou a frequentar o “Tio Sam”, boteco que fica a uma quadra dali. Era no bar localizado próximo ao cruzamento das ruas Dias Ferreira e General Urquiza que o escritor, um piadista de trato humilde e riso fácil, celebrava a vida com os amigos. 

Era na mesa da calçada que João Ubaldo gostava de se sentar. Dois pratos da casa eram os seus prediletos. O principal era o Camarão ao Tio Sam – camarões empanados servidos com arroz à grega – e o outro um tornedor acompanhado por farofa simples e cebola frita. 

Com a morte do escritor, os pratos foram imortalizados no cardápio do bar. Viraram o camarão e o filé do ‘Seu Ubaldo’.

“Todos os sábados e domingos ele estava aqui. Chegava por volta das 11h, tomava seu guaraná, fazia todo mundo rir, almoçava e depois ia embora”, contou a gerente da casa, conhecida como Fran.

O  “imortal” da ABL, morreu no dia 23 de janeiro de 2014.

Um dia, pediram a Marília Gabriela que comentasse a morte de Tom Jobim. E ela:

“Eu nem sabia que Tom Jobim também morria.” 

Eu também não sabia que João Ubaldo Ribeiro morria.

Advertisement
Receba notícias no WhatsApp
entrar grupo whatsapp Ediel Ribeiro: Viva João Ubaldo Ribeiro
lapa dos mercadores 2024 Ediel Ribeiro: Viva João Ubaldo Ribeiro
Avatar photo
Jornalista, cartunista, poeta e escritor carioca. É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG) e Diário do Rio (RJ) Autor do livro “Parem as Máquinas! - histórias de cartunistas e seus botecos”. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) dos romances "Sonhos são Azuis" e “Entre Sonhos e Girassóis”. É também autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty", publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ), desde 2003, e criador e editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!"

Comente

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui