Conheci João Ubaldo Ribeiro quando ele ainda bebia. Mas nunca bebi com ele.
Um erro imperdoável.
Dizem que nunca é tarde para parar de beber, mas João Ubaldo parou tarde demais. Boêmio convicto, teve de abandonar o uísque para cuidar da saúde. Não deu. João Ubaldo morreu em janeiro de 2014, de embolia pulmonar, pouco tempo depois de abandonar o hábito etílico.
João Ubaldo Osório Pimentel Ribeiro era romancista, contista, cronista, roteirista, jornalista e – claro – boêmio.
Todo boêmio tem seu bar de estimação. João Ubaldo tinha três. Um em Ipanema e dois no Leblon, onde morava.
O de Ipanema, levava seu nome: “Café Ubaldo” e ficava no segundo andar da livraria Letras & Expressões, vizinho do “Bar do Zira”, boteco que homenageava o amigo Ziraldo, no terceiro andar.
Ubaldo era frequentador assíduo da Letras & Expressão do Leblon; quando os donos abriram a filial de Ipanema, resolveram dar o nome do cliente famoso ao boteco da livraria. Ubaldo costuma sentar em uma das mesinhas de mármore e ficar por horas tomando seu uísque, enquanto lia.
João Ubaldo Ribeiro, depois que parou de beber, nunca mais apareceu por lá. Até fechar, a única lembrança do escritor no local era a foto pendurada atrás do balcão do bar.
No Leblon, Zona Sul do Rio, João Ubaldo frequentava o “Flor do Leblon”. Era tão fácil encontrar o escritor nos fins de tarde do bar, em conversa com os amigos, que o Flor era chamado de “escritório do João Ubaldo”.
João Ubaldo era vizinho do boteco.
Com o fechamento do “Flor do Leblon”, Ubaldo passou a frequentar o “Tio Sam”, boteco que fica a uma quadra dali. Era no bar localizado próximo ao cruzamento das ruas Dias Ferreira e General Urquiza que o escritor, um piadista de trato humilde e riso fácil, celebrava a vida com os amigos.
Era na mesa da calçada que João Ubaldo gostava de se sentar. Dois pratos da casa eram os seus prediletos. O principal era o Camarão ao Tio Sam – camarões empanados servidos com arroz à grega – e o outro um tornedor acompanhado por farofa simples e cebola frita.
Com a morte do escritor, os pratos foram imortalizados no cardápio do bar. Viraram o camarão e o filé do ‘Seu Ubaldo’.
“Todos os sábados e domingos ele estava aqui. Chegava por volta das 11h, tomava seu guaraná, fazia todo mundo rir, almoçava e depois ia embora”, contou a gerente da casa, conhecida como Fran.
O “imortal” da ABL, morreu no dia 23 de janeiro de 2014.
Um dia, pediram a Marília Gabriela que comentasse a morte de Tom Jobim. E ela:
“Eu nem sabia que Tom Jobim também morria.”
Eu também não sabia que João Ubaldo Ribeiro morria.