Semana passada, escrevi aqui sobre o “Amarelinho”, antigo bar do Centro do Rio que, diziam, estava ameaçado de fechar.
Hoje escrevo sobre o “Bar Luiz”, outro patrimônio etílico carioca que nos últimos dias também esteve ameaçado de fechar (foi salvo por clientes e amigos).
No início do ano, por problemas financeiros o bar – que viu a abolição da escravatura, a Proclamação da República, a Revolução de 1930, duas guerras mundiais, a ditadura de Getúlio Vargas, a Ditadura Militar e a redemocratização do país – quase fechou as portas.
Conheci o bar por acaso, em 1984. Fui levar um cartum na redação do “Pasquim” e lá me disseram que o “seu” Jaguar não estava. Tinha ido tomar um chope com Sérgio Cabral (o pai), no Bar Luiz.
O bar ficava ao lado da redação, no número 39 da Rua da Carioca. Fui lá, entregar o desenho.
Tímido e com cara de moleque, na entrada, fui recebido com um olhar de reprovação do Mongol – um ex-lutador de Catch que era uma espécie de segurança do bar -, figura antológica da Rua da Carioca.
O Bar Luiz, já mudou de rua e de nome, várias vezes. Da rua da Assembléia, onde teve dois endereços – e onde foi fundado, em 1887, com o nome de Zum Schlauch) – mudou-se em 1927 para a Rua da Carioca. Lá, se chamou “Zum Schlauch”, “Zun Alten Jacob”, “Braço de Ferro”, “Bar Adolph” e, finalmente, “Bar Luiz”.
O bar, fundado em 3 de janeiro de 1887, no número 102 da rua da Assembléia, no centro do Rio, por Jacob Wendling, foi palco de encontros memoráveis entre artistas, boêmios e intelectuais. Já teve entre seus clientes, no seu início, os escritores João do Rio e Olavo Bilac, e, nos anos 70 e 80, o jornalista Sérgio Cabral, Beth Carvalho, Martinho da Vila, Ziraldo e Jaguar, entre outros.
Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), submarinos alemães afundaram 36 navios mercantes brasileiros. Em represália, estudantes brasileiros, tendo à frente João Saldanha promoveram um verdadeiro quebra-quebra dos bares alemães no Brasil. Depredaram o “Zeppelin”, o “Renânia”, atual “Lagoa”; o “Berlim”, atual “Brasil”; entre outros botecos alemães.
O bar, que na época se chamava “Bar Adolph”, mesmo nome do ditador alemão, era um dos alvos dos estudantes que imaginavam que o nome do estabelecimento era uma homenagem a Adolf Hitler. Por sorte do proprietário, aquele dia o compositor Ary Barroso estava lá tomando seu chope. O autor de Aquarela do Brasil, então, desfez o mal-entendido convencendo João Saldanha que o proprietário era brasileiro e anti-nazista, salvando o boteco da depredação.
Dias depois, providencialmente pintado com as cores da bandeira brasileira, o bar reabriu já com o nome de Bar Luiz.
Segundo a atual proprietária, Rosana Santos – esposa de Bruno Kuroviski (falecido em 1994), filho mais novo da dona Gertrudes, criadora há 105 anos da famosa salada de batatas – o estabelecimento foi o primeiro a servir chope na Cidade Maravilhosa.
O chope é o melhor da cidade e o kassler com salada de batatas, o melhor prato. Pelos bares que andei, pelo país, nunca experimentei uma salada de batatas igual.
O jornalista Sérgio Cabral, foi mais longe. Na antológica crônica “Bar Luiz”, Jaguar conta que o jornalista, em uma viagem que fez a Alemanha, perambulou pelos botecos alemães a procura de uma salada que lembrasse a do bar. “Comi salada de batatas de todos os tipos, com todos os molhos, mas como aquela do Bar Luiz, nenhuma.” – dizia Cabral.
Por sorte, bares como o Bar Luiz, Amarelinho, Degrau e Bar Lagoa, não tiveram o mesmo fim de botecos como o Zeppelin, Veloso, Pardelas, Zicartola…
Porque, parodiando Millôr Fernandes, deve-se beber sempre e com moderação, independente da quantidade.