Quem vê aquela ruazinha que anda meio abandonada, que liga a rua Escobar à rua Benedito Ottoni, no coração de São Cristóvão, não imagina a sua história. Pra começar, onde está a Benedito Ottoni, era a antiga Praia das Palmeiras, uma bucólica faixa de areia com – como o nome diz – muitas palmeiras, à beira mar. E além disso, não imagina que o quarteirão circundado pelas ruas citadas e a rua São Cristóvão, completado pela Zeferino de Oliveira, tem tanta importância para o Rio de Janeiro.
O lindo palacete tombado que fica bem na esquina da Zeferino com a Benedito Otoni – outrora à beira-mar – dá o tom da nossa história. Era a sede administrativa da Companhia da Luz Esteárica, fundada por ninguém menos que Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá, e responsável inicial por acender as luzes da cidade no século XIX, fundada ainda na década de 1840. Aliás, o próprio Benedito Ottoni foi um dos presidentes da Companhia. Mas a história que estamos contando aqui é outra, e é bem representada pelas duas chaminés tombadas remanescentes, pelo lindo palacete, pelos galpões históricos e pelo próprio quarteirão em si, hoje quase que totalmente limpo e pronto para se tornar algum grande empreendimento.
A companhia se expandiu – produzia sabão, velas, e muitas outras coisas – e acabou adquirida por Zeferino de Oliveira.
Mas afinal, quem foi Zeferino?
Zeferino de Oliveira nasceu no dia 4 de Fevereiro de 1870 em Croca, um pequeno distrito de Penafiel, na região nordeste de Portugal. Aos 17 anos, e com o apoio da família, emigrou para o Brasil, como era muito comum naquela época, estabelecendo-se na cidade do Rio de Janeiro.
Aqui, começou modestamente, como simples empregado. À noite, ia para o Real Gabinete Português de Leitura, onde passava horas lendo. Procurava aprender sobre história, geografia, política e economia. Veio também dessa época seu gosto pelas artes, das quais, mais tarde, se tornaria um protetor generoso e benemérito abnegado.
Casou-se com Anna da Fonseca Oliveira tendo 4 filhos, dos quais o primogênito Mario de Oliveira, se tornaria seu principal herdeiro. Mário ficou muito conhecido na cidade, assim como seu neto, Mariozinho de Oliveira, figuraça carimbadíssima da alta sociedade carioca dos anos 50 e 60.
Progrediu vertiginosamente com a idade. Fundou fábricas, organizou sociedades anônimas, criou um grande banco e cerca de doze indústrias diferentes, todas largamente desenvolvidas e com importância grande para o panorama econômico fluminense. Destacando-se dentre suas maiores empresas, o Banco Português do Brasil, o Moinho da Luz, a Companhia da Luz Esteárica, Cervejaria Hanseática, a famosíssima e Companhia de Fumos Veado, a Fábrica de Calçados Polar, Casa Heitor Ribeiro e Cia, Cerâmica D.Pedro II, Cia Continental de Seguros, dentre outras. Tinha também grandes capitais empregados na Indústria de óleos vegetais.
Um homem conhecido como muito bondoso, estendia sua generosidade por diversos institutos de beneficência e caridade, tais como a Assistência Dentária Infantil e a Casa do Bom Socorro. Era Diretor de diversas instituições portuguesas, inclusive da Beneficência Portuguesa – hoje, Hospital Glória D’Or, de onde era o Vice Presidente.
Tendo feito fortuna no Brasil, não se esqueceu das suas raízes na terrinha portuguesa, da sua Terra Natal e dos seus. Em Croca, além de ajudar seus familiares, preocupou-se com a educação da população, construindo uma Escola que até hoje leva seu nome. Empregou parte da sua fortuna em Penafiel, na Igreja e no Parque do Sameiro, e no Hospital da Misericórdia. Zeferino de Oliveira faleceu em casa, no dia 11 de Junho de 1929.