Justiça determina despejo do Estação Net Rio, em Botafogo

Grupo Severiano Ribeiro, dono do prédio em Botafogo, alega atraso no aluguel; prédio que abriga cinema pode virar imóvel residencial

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Além de 5 salas de cinema, espaço abriga uma cafeteria e o sebo Luzes da Cidade. Foto: Site oficial

Um dos poucos cinemas de rua que ainda restam no Rio pode estar com os dias contados. Funcionado há 25 anos sob a atual gestão, no bairro de Botafogo, na Zona Sul da cidade, o Estação Net Rio recebeu uma intimação da Justiça, a pedido do proprietário do prédio, o Grupo Severiano Ribeiro (GSR), que pode resultar no fechamento das portas e despejo a qualquer momento. Em decisão da 27a Vara Cível de 26 de outubro, o grupo GSR alega que os atuais inquilinos não pagam o aluguel do imóvel desde março de 2020, quando teve início a pandemia da Covid-19 e os cinemas tiveram que ser fechados. A informação foi publicada nesta terça-feira (09/11) pelo jornal O Globo.

Embora não haja confirmação, o Grupo Severiano teria a intenção de vender o espaço para uma construtora e transformar o cinema em prédio residencial. Já o Estação diz que, mesmo antes da pandemia, vinha tentando renovar o aluguel com o GSR, sem sucesso. A dívida do Estação Net já estaria na casa dos R$ 860 mil.

No documento judicial, consta que o Estação “não negou a existência do débito”, mas argumenta que “a alegação de dificuldades financeiras em razão da pandemia causada pela Covid-19 não é motivo suficiente para justificar o inadimplemento dos alugueres”.

Com muitas dificuldades financeiras por conta da pandemia, o Estação chegou a arrecadar R$ 736,9 mil através de uma vaquinha virtual (crowdfunding). O valor arrecadado foi destinado a manter a operação básica do local e pagar os funcionários.  

Entrave judicial

O atrito entre as partes não foi desencadeado pela pandemia, nem pelo contrato de despejo movido pelo Grupo Severiano. Cobranças de aluguéis consideradas impraticáveis também já estremeceram essa relação.

Incialmente, conforme explica a matéria do Globo, o contrato de aluguel era renovado a cada cinco anos, com um preço mínimo mensal mais participações na bilheteria e nas receitas do café. Em 2019, o GSR pediu um valor mensal maior, que os administradores do Estação avaliaram ser acima do valor de mercado praticado. A discussão foi parar na Justiça, que estipulou um aluguel provisório, maior do que era pago antes, mas menor do que foi ofertado pelo GSR, até que houvesse uma resolução para a questão.

Adriana Rattes conta que procurou os proprietários diversas vezes para tentar negociar o pagamento dos atrasados e também para chegar a um valor de aluguel definitivo para a renovação do contrato. Só que, em setembro de 2020, o GSR entrou com uma reclamação sobre não pagamentos à juíza que havia determinado o aluguel provisório, e o processo de renovatória foi cancelado — o Estação está recorrendo dessa decisão em segunda instância. Já a ação de despejo foi movida em dezembro.

Em julho de 2021, tivemos uma reunião no Estação Net Rio com o administrador do GSR, Mauricio Benchimol. Nesta reunião, ele finalmente confirmou que o objetivo da família era derrubar o cinema e construir um edifício residencial com uma pequena área comercial embaixo. Do nosso lado, repetimos que nossa intenção era lutar para ficar no imóvel e explicamos o gigantesco problema econômico que perder este cinema representa, pondo em risco inclusive nossa existência. Por e-mail, fizemos uma proposta de contrato até 2024, com pagamento da dívida negociada e a volta do aluguel normal em dezembro de 2021”, explica a diretora-executiva do Estação.

Segundo Rattes, o Grupo Severiano não aceitou a proposta e disse que “não haveria qualquer acordo para ficarmos no imóvel”. O Estação fez, então, uma nova tentativa:

Em 27 de outubro, enviei nova mensagem propondo fazermos um acordo de pagar integralmente todo o valor devido pelos meses da pandemia, e voltar ao aluguel mínimo a partir daquele momento. Expliquei que não tínhamos o dinheiro para isso, como eles obviamente sabiam, mas que tentaríamos ajuda da Net, faríamos nova vaquinha ou pediríamos ajuda ao poder público. Os cinemas estavam voltando a encher e nosso ânimo aventureiro nos deu coragem. O administrador disse que levaria a proposta à reunião do conselho do Grupo Severiano no início de novembro”, conclui Rattes.

Dois dias depois, porém, veio a decisão judicial para esvaziar o imóvel. A partir do momento em que for notificado, o Estação terá 15 dias para desocupar o cinema voluntariamente — se não o fizer, o despejo será executado à força.

O que diz o Grupo Severiano Ribeiro

Em nota ao Globo, o “O Grupo Severiano Ribeiro informou que “através do seu Diretor de Patrimônio, Maurício Benchimol, informou que deu ao Grupo Estação todas as chances de quitar seus compromissos. Os valores devidos de aluguel e IPTU já não são pagos desde março de 2020. O valor do aluguel, que já foi anteriormente determinado via decisão judicial, não vem sendo pago desde então. Entendemos que toda a indústria de cinema foi afetada pela pandemia, inclusive o próprio grupo Severiano Ribeiro, que teve todos os seus cinemas fechados por cerca de 8 meses, mas infelizmente a situação de inadimplência do grupo Estação se tornou incontornável.”

O Estação, por sua vez, afirma que já acionou seus advogados para tentar protelar a ordem de despejo na Justiça e manter as tentativas de negociar com o Grupo Severiano Ribeiro.

Kinoplex anuncia fechamento definitivo do Roxy, em Copacabana

A crise sanitária do Coronavírus também afetou outras redes de cinema, em junho deste ano, o icônico Cine Roxy, em Copacabana, anunciou fechamento definitivo depois de 83 anos. Na ocasião, o mesmo Grupo Severiano Ribeiro, dono da rede Kinoplex, informou que ”lamentava profundamente o fechamento” e que “a decisão levou em consideração os resultados que o Cine Roxy vinha apresentando”. Ainda segundo a empresa, “vê com receio a inclusão do cinema no Cadastro de Negócios Tradicionais e Notáveis do Rio de Janeiro”, pois “atrelar o imóvel à sua atividade não garante que a mesma será desempenhada pelo proprietário e nem poderia”.

Durante este tempo, nenhum exibidor conseguiu pagar aluguéis para ninguém, e nossos esforços estavam concentrados em não deixar de pagar a folha de pagamentos, que somava quase R$ 200 mil por mês”, afirma ao Globo Adriana Rattes, diretora-executiva do Circuito Estação Net de Cinema.

O prédio onde hoje fica localizado o Estação Net Rio, no número 35 da Rua Voluntários da Pátria opera com salas cinematográficas desde 1944, quando ainda era chamado de Cinema Star, alguns anos depois, ele foi adquirido pelo Grupo Severiano Ribeiro e passou a se chamar Cinema Botafogo. Em 1995, o GSR alugou o prédio para o Estação, que reabriu as salas para o público em 27 de outubro de 1996, como Espaço Unibanco.

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2 COMENTÁRIOS

  1. Fecha tudo que a economia a gente vê depois.
    Bem vindo aos problemas que isso ocasionou, tive um amigo de família que perdeu suas duas lojinhas e se matou por causa disso, 35 anos de trabalho pedidos e uma dívida enorme por ter sido obrigado a fechar

  2. É o fim de uma era, o fim de um ícone da nossa cultura. Lamentável ver todas as salas de cinema fechando as portas assim dessa maneira.
    Na realidade isso já vinha acontecendo nos últimos anos mas a pandemia trouxe o golpe de misericórdia. É o cinema sendo substituído pelo streaming…mas na boa, nunca será a mesma coisa.

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