O Rio de Janeiro tenta a retomada pós-pandemia, numa pandemia que ainda não acabou, ou acabou e ninguém sabe, com uma epidemia de gripe pelos cantos. Ou seja, a vida continua sendo o que sempre foi e sempre será: uma incógnita. Sigo minha vida de jornalista. Dessa vez fui na cabine de imprensa de “O Festival do Amor”, novo filme do Woody Allen. O personagem principal, um professor de Cinema, vai para San Sebástian, na Espanha, para acompanhar a esposa em um festival de cinema.
Interessante como San Sebástian lembra o Rio de Janeiro, ao menos nas cenas que vi. Praia, beleza, intensidade. Pela Lapa, nas sexta e sábados, as ruas Joaquim Silva e Mem de Sá já estão lotadas novamente. São bares e boates disputando clientes. As pessoas estão sedentas por cerveja, amor e calor humano. Até porque o calor tradicional carioca está aí novamente, deixando todos suados. Mas ao que parece não era exatamente esse que as pessoas estavam com saudade. Engraçado que no momento em que escrevia isso, uma cozinheira gritou: “ai, que calor”. Uma das frases mais conhecidas do povo carioca, sem dúvidas.
Depressões
Voltando ao cinema, devo dizer que gosto muito dos filmes do Woody Allen. Os diálogos e como ele está frequentemente intrigado com a morte e as questões existenciais. São temas que vem à tona mais do que nunca em meio aos problemas que o mundo enfrenta agora. Aqui ele também fala de amor, paixão, adultério. Assuntos comuns do ser humano. Enquanto isso, as pessoas voltam a sair querendo conhecer outras, rever outros, beijar bocas, colar corpos. O isolamento afetou muitas mentes, e segue afetando. Soube de muitos que passaram a sofrer com depressão, aliás, diversos são adolescentes.
Ao mesmo tempo, a tecnologia finge que conecta, mas afasta. Chuvas de aplicativos. Outro dia conheci uma pessoa através de um. Estava divulgando um trabalho para aqueles que passavam e falei com ela. “Sou a fulana, não me reconheceu?”. Não. Era completamente diferente da foto. Ok, acredito que sou também. Sou melhor ao vivo. Deitamos na grama da Quinta Boa Vista, lotada como estava naquele domingo de sol, perto de onde acontecia uma das minhas feiras preferidas, a Veg-Borá.
Tivemos uma tarde ao ar livre, conversando. Ela falou sobre a terapia que está fazendo no psicólogo. Eu sugeri que praticasse yoga em paralelo. Inclusive, “O Festival do Amor” começa com o protagonista na terapia. Comentei com ela sobre a que faço atualmente, terapia integrativa. Tem sido útil. Viver nunca foi fácil. Mas a busca pela melhora pessoal e a arte são boas companheiras de jornada, enquanto o amor não chega.
“O Festival do Amor” está em cartaz no Festival do Rio. Enfim, nada como o cinema para fugir um pouco da realidade e refletir sobre a vida.