As notícias recentes que mostram desvios das forças policiais do Rio de Janeiro precisam ser vistas e levadas em consideração com muito mais seriedade do que esta acontecendo atualmente. E o agente principal que precisa refleti com mais seriedade sobre esse tipo de conduta não é o policial, o secretário de segurança pública ou o governador. É o cidadão Carioca.
No dia seguinte à exibição da matéria do Fantástico começou o fogo pesado no Facebook. Campanhas contra e a favor da ação da polícia que matou o traficante Matemático com tiros de fuzil disparados de um helicóptero da Polícia Civil. Síndrome da nossa cultura de individualidade e superficialidade à campanha de apoio à ação teve muito mais apoio que a contrária. “Bandido bom é bandido morto”, é o moto. Afinal de contas, nenhum inocente foi atingido pelas rajadas de fuzil disparadas de uma plataforma aérea que não é nada estável.
Não vou defender o discurso dos “direitos humanos”, que se danem estes. Vamos falar simplesmente dos direitos e deveres estabelecidos em um país que tem uma democracia instalada há umas duas décadas. Dos direitos da polícia, dos deveres da polícia. Em qualquer pais sério do mundo, e não se espante que o Brasil está incluído, a polícia não tem o direito de julgar e sentenciar uma pessoa à morte, e apenas é autorizada a usar força letal em casos extremos. Na maioria destes países todas as vezes que um policial aciona uma arma de fogo em serviço tal ação é acompanhada de um relatório para explicar o motivo do disparo.
É evidente pelas imagens gravadas que uma vasta quantidade de projeteis de fuzil 7.62 atingiu prédios, casas e o entorno de pessoas que não tem nada a ver com a perseguição ao traficante. Ademais, o vídeo deixa evidente que não há confirmação positiva dos ocupantes do veiculo.
Onde eu quero chegar? O trabalho da polícia não é satisfazer a sede de vingança irracional da sociedade para com a violência matando bandidos. O trabalho da polícia é preservar a ordem e fazer cumprir as leis ratificadas pela nossa sociedade através do nosso sistema politico. O sucesso e a justificação de uma operação policial não podem ser realizadas a posteriori. Porque se for esse o caso estamos colocando a manutenção da ordem e da lei em uma roleta russa, aceitando a morte de pessoas inocentes como uma externalidade NORMAL e justificada.
É trabalho da polícia manter a lei e a ordem daquilo que está ratificado nos nossos códigos. Se a sociedade quer dar à polícia o direito de julgar, sentenciar e matar, que lute por isso de forma democrática e transparente, aceitando a morte de civis como o menino de três anos João Roberto, morto pela polícia ao confundirem o carro da sua mãe com o carro de um fugitivo, o administrador Luiz Carlos Soares da Costa, morto quando a polícia decidiu disparar contra o carro no qual estava sendo sequestrado, e tantos outros que são mortos por “balas perdidas”.
Enquanto esse não for o caso, e tenho certeza que a grande maioria no fundo não quer dar esse poder a um policial com fuzil na mão e que ganha pouco mais de um salário mínimo, a sociedade deve começar a lutar por outro moto: “Bandido bom é bandido preso, e preso sem que sejam postas em risco a vida de inocentes!”.