O Rio de Janeiro permite viajar sem sair da cidade. É só ter um dia livre. Fiz isso há pouco tempo. Acordei disposto a tirar a rotina para bailar e aproveitar a folga. Primeiro peguei um ônibus 409 até o Horto. Ele vai pela Praça Saens Peña, passa na Lapa, e o ponto final já traz outra vibração, no meio do mato. Dali subi andando até a entrada da Cachoeira da Gruta. Fiz a trilha rapidamente, com desenvoltura, e ainda ajudei uns turistas que me viram entrando. “Sigam-me os bons”.
Era hora do almoço e estava cheia de gente. Um pitbull se banhava alegre, uns fumavam, o pai se molhava enquanto o filho não queria água fria. Fui para debaixo da queda d’água e foi aquele banho de lavar a alma. Foi-se o tempo em que praia era minha preferência, mas sigo gostando e ela ainda vai surgir nesse texto.
Depois da ducha, fui até a Vista Chinesa. Esse nome viria do fato desse local ter sido habitado durante certo tempo por chineses, os quais vieram na época de D. João VI para cultivar chá no Jardim Botânico. E lá estava o RJ se abrindo num belo dia de sol. O céu azul banhava o Cristo Redentor e, ainda por cima, num dia sem roteiro fechado, vi minha próxima parada, a Pedra do Arpoador. Sim, depois de apreciar o pagode desse ponto turístico tradicional, com seus dragões que olham para baixo para ver o visual, ao invés de para cima, como de praxe no Oriente.
Que viagem
Antes disso, fui para o Largo do Machado comer comida árabe. Arroz com lentilhas e húmus. Sobrou e ainda levei para a viagem. Meia-noite eu comeria as sobras cheio de felicidade. Porém, queria ver o sol se pôr, lindo como ele só.
Nas ruas, uma música tocava e grudava em mim: “Eu já deitei no seu sorriso, só você não sabe. Te chamei pro risco, então fica à vontade”, sucesso da Marina Sena. Foi a trilha sonora da viagem. Esse dia teve outra magia, de conhecer uma assistente social, mistura de negra com cabocla, e trocar ideias sobre música, fé, viagens.
Quando a gente está aberto para o universo, ele se abre para nós. A Pedra do Arpoador estava cheia, fui subindo buscando um lugar para sentar e tinha um grupo com um rapaz e seu violão. O cara tocou enquanto o sol descia. Cantou uma canção linda que eu não conhecia. Claro que rolou a tradicional salva de palmas. No meu narcisismo momentâneo, imaginei que era para mim. Que viagem.
Engraçado que antes, no celular, uma mulher dessa galera botou aquela da Marina Sena que citei antes. O que o violonista cantava, nem lembro mais. Rio é tela viva.