Papo de Talarico: Valeu, Madame Nômade

A mulher que vendia conteúdo

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Planta no RJ por Alvaro Tallarico
Rio tem natureza que atrai nômades (foto: Alvaro Tallarico)

O Rio de Janeiro segue recebendo personagens do muito inteiro. Outro dia conheci uma mulher alta, negra e forte com longos dreadlocks e olhos de onça. Era dos Estados Unidos. Conversamos em inglês, pediu algumas dicas, falou que iria para a Bahia no dia seguinte e depois talvez voltasse ao Rio de Janeiro. Ensinei a expressão popular: “valeu”. Sim, que belo presente lhe deixei. Disse que poderia repetir essa palavra seguidamente se alguém lhe importunasse: “valeu, valeu, valeu” e assim era só sair andando.

Uma semana depois, ela retornou e foi até onde trabalho. Descobri então que essa mulher tinha um motorhome em Las Vegas esperando sua volta e que vivia viajando sozinha pelo mundo. Curioso, perguntei com o que trabalhava e ela disse que vendia fotos de seus pés na internet, entre outras partes do corpo, e era paga para lutar, seja com homens, mulheres ou o que for. É um tipo de fetiche. Ah, agradeceu pelo “valeu”. Usou bastante.

Fiquei surpreso. Não com o uso perfeito do valeu. Mas sim com seu trabalho diferenciado. Ela ainda disse que tinha vindo direto do Jiu-Jitsu e resolveu me mostrar um vídeo explicativo de seu ganha-pão. Lá estava a mulher lutando com diversas pessoas, geralmente, com pouca roupa. Chamei uma amiga para ver e ela morreu de rir. Não acreditou que ela vivia daquilo. Era uma segunda-feira e a orgulhosa estrangeira estava animada para ir até a Pedra do Sal. E foi. Nossa despedida foi o clássico soquinho que dei bem de leve, já com certo medo. Ela parecia um urso, e eu estou mais para uma garça. Um pouco antes a moça havia contado sobre o que fez com um homem que resvalou em seus seios.

No dia seguinte, ainda a vi novamente, num boteco conversando com seu amigo venezuelano, nos arredores da Escadaria Selarón. Em seguida, um canadense branco de cabelos compridos e grisalhos visitava prédios querendo comprar algum. Entrava em um, saía do outro, com o corretor de imóveis ao seu lado explicando toda a beleza da história do centro da cidade.

Duas pessoas da América do Norte, completamente diferentes. Nesse momento, o homem faz contas e pensa onde comprará seu imóvel no Rio de Janeiro. Por outro lado, a Madame Nômade deve estar atravessando o Deserto de Mojave fazendo vídeos e produzindo conteúdo na internet para um nicho. Amanhã irei até o Saara, comprarei um boné para proteger-me do sol.

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