Os meus últimos dois posts no Diário do Rio tinham uma relação bastante próxima. O primeiro, que teve mais de 1300 likes e quase 200 comentários (a maioria tentando me desqualificar ou simplesmente me atacando) versava sobre dois pontos específicos do plano de cargos e salários proposto pelo sindicado dos professores. O segundo, sobre o orçamento da cidade do Rio de Janeiro teve meros 39 likes e menos de dez comentários.
O que liga os dois textos, porém, é que o primeiro trata de dois pontos que tem um impacto muito agressivo sobre as contas públicas, tanto no curto quanto no longo prazo. Respectivamente a questão dos salários e das aposentadorias, os temas que abordei na crítica ao plano da SEPE. E o segundo texto trata do orçamento do município, ou seja, do planejamento das verbas da cidade e de onde sairá o dinheiro para qualquer beneficio, salário, aposentadoria, etc. E é claro, de onde também sai o dinheiro para todas as outras áreas do município, seja educação, seja saúde, habitação, transporte público e por ai vai.
A ligação está clara para todos, espero. Claro que o segundo texto é muito menos interessante do que o primeiro. Afinal de contas, falar de orçamento é tratar de restrições é chato. Falar de benefícios é legal. Todo mundo quer falar de benefícios, ninguém quer falar de restrições. E aquele que questionar os benefícios, mesmo que baseado nas restrições, será crucificado.
Esse comportamento, muito comum a meu ver nos últimos meses é o que na minha cabeça defini como a Democracia Fast Food, a “McDemocracia”. A ideia de que ir para rua e pedir uma educação melhor, uma saúde melhor ou um transporte público melhor é o suficiente. E de preferência queremos tudo para agora.
Para mim isso é uma ideia ingênua e fantasiosa. Sim, nossa gestão pública é ineficiente e ainda há muita corrupção. Mas essa corrupção não está somente no nível mais alto. Está presente do planalto central até o fulano que paga um cafezinho para não ser multado pelo guarda (que é igualmente corrupto).
A conquista de melhores serviços públicos, e menos corrupção não se dará nas ruas. Não quero desmerecer esse movimento, que é positivo em relação à apatia politica, quase completa, que vivíamos antes. O fato é que, este é apenas um pequeno passo.
Voltando a analogia do restaurante. Uma democracia forte e que de fato presta ao cidadão aqueles serviços a que ele tem direito não é um “fast food” e nem um “self service”. Ela requer que sejamos parte da produção, que sejamos os “cozinheiros” daquilo que queremos servir, e isso por sua vez requer empenho. Sim, tratar das restrições é muito mais trabalhoso do que pedi o prato pronto, mas é a única maneira de não depender da boa vontade daqueles que até hoje eram eleitos para ficar na cozinha enquanto esperávamos o nosso prato na varanda.
Trocando em miúdos. Não basta ir a rua pedir salário ou passe livre. É preciso convencer e provar como fazer, como pagar, como se pretende concretizar essas ideais para que elas possam se tornar realidade.