Como fazer quando a memória nos prega peças? O mal de Alzheimer é uma doença progressiva que destrói a memória e outras funções mentais importantes. Não tem cura, segue provocando temor e é cada vez mais abordada pela arte. Além de algumas novelas recentes, somente nessa semana vi dois filmes para fazer crítica que trazem essa situação. Assassino sem Rastros, com Liam Neeson e A Suspeita com Glória Pires. Engraçado que o primeiro é sobre um matador de aluguel que começa a sofrer com as perdas de memória e, o outro, uma policial civil.
Aliás, o da Glória Pires é muito melhor, cinema nacional de qualidade. Entretanto, os dois longas conseguiram provocar minha reflexão sobre esse mal. Lembrei de minha avó que não lembrava de nenhum de seus filhos com exceção do mais novo. Na minha pré-adolescência ela não sabia quem eu era. Ficava sentido, não compreendia. Se eu me sentia assim, imagina meu pai, um dos mais velhos? Vovó não durou muito e passou para outro plano.
O que somos sem nossas memórias? O quão frágil ficamos? Em A Suspeita, Lúcia, a personagem vivida por Glória Pires precisa terminar uma investigação que pode salvar ou sepultar sua reputação. De forma muito metódica e disciplinada, ela arruma maneiras de se fazer lembrar do que precisa. Uma amiga crítica logo disse que a doença não afetava exatamente daquele jeito. E ainda por cima falou que a alimentação atual que temos é um dos maiores motivos para o crescimento da doença no mundo.
Não pira
Respirei e fui almoçar. Olhei no celular e li que a carne vermelha pode aumentar os riscos de sofrer de Alzheimar. Consciente, pedi uma refeição vegetariana com arroz de lentilhas, tabule, homus. Saboreei fechando os olhos, buscando acessar a memória que cada sabor ali me traria. Olhei para o cenário e vi o Pão de Açúcar sob o céu nebuloso da cidade maravilhosa. Esqueceria um dia das tantas trilhas que fiz? Das vistas que me encantaram? Dos amores que desabaram? Dos abraços que me acalentaram? E, por fim, que diferença poderia fazer pensar nisso?
A preocupação com o amanhã é outra doença que cresce. Minha jornada é o que me moldou e somente o hoje é o que tenho, escorrendo pelas minhas mãos como areia na ampulheta. Escrevo para sentir um gosto de eternidade, bebo goles de saudade enquanto tenho a permissão de lembrar. Suspeito que o amor que sinto no peito supera cada defeito. Suspiro exaltando a alimentação vegetariana. Enquanto anoitece, a esperança de uma saúde física e mental duradoura permanece. Se depender dos cuidados comigo mesmo, dos exercícios físicos, de evitar tabaco e álcool, e de cultivar a fé, lembrarei de não esquecer. Contudo, sem saber do que pode vir, viverei, viva! É hoje.
Que matéria maravilhosa!!! Me identifiquei muito com seu relato, minha avó tb tem alzheimer e não se lembra mais de nada. É uma doença muito triste e solitária. Rezo todos os dias para caso eu tenha tb no futuro que eu parta logo para outro plano porque é uma doença muito ingrata e injusta… imagina perder todas suas lembranças?!
Sim, é uma doença complicada, Marcelle. Vamos vivendo o momento e nos cuidando, torcendo pelo avanço da ciência. Gratidão pelo seu lindo comentário.