Indubitavelmente no Brasil, apesar da maioria do povo ser negro ou pardo não há um protagonismo cinematográfico dessas pessoas. Porém, um evento que procura mudar isso há 15 anos é o Encontro de Cinema Zózimo Bulbul, cujo o foco é em cineastas africanos e afrodescendentes. Isso proporciona ao espectador perceber outros pontos de vista, algo que é uma das coisas mais engrandecedoras para um ser humano. É o tipo de coisa que pode ajudar a gerar empatia, compaixão, reflexão e, consequentemente, evolução.
O evento acontece desde o dia 18 e segue até 24 de outubro. É uma oportunidade rara de ver filmes diferenciados. Por exemplo, a belíssima animação O Autor, de Luis Máximo, que vi na mostra Masculinidades Negras. Além disso, pude ver o primeiro trabalho como diretor do talentoso fotógrafo carioca Paulo César, que trabalhou antes em diversos curtas-metragens e como assistente de câmera no longa documentário Trem do Soul (2021), de Clementino Junior. Ele nos presenteou com o sensível Dias, de 2021, sobre histórias reais da pandemia, com grande atuação de Márcio Januário. Aliás, em matéria de cinematografia essa foi a obra mais espetacular que assisti até agora.
Já o curta-metragem Quantos Mais, de Lucas de Jesus, é um soco no estômago. Mostra um jovem universitário que deseja mudar o cenário brasileiro onde tantos jovens negros são mortos tão banalmente. Interiores, de Matheus Bizarrias, tem aroma de praia carioca e provocações psicológicas.
Abertura de portas
No dia 18, na noite de abertura, a festa contou com muitos tambores, agradecimentos ancestrais e exibição de Calunga Maior, de Thiago Costa, num conjunto de historietas cheias de misticismo e magia. Ainda por cima, na última quinta-feira (20) tive a chance única de ver um filme da Angola chamado Moça que basicamente traz um tipo de lenda urbana desse país lusófono. Consegue ser engraçado e divertido, até com um certo jeito de Brasil, entre malemolência e injustiça. Em seguida, da Nigéria, teve Juju Stories, com uma pegada sobrenatural que namora o terror e chega até a perturbar.
O Encontro de Cinema Negro Zózimo Bulbul Brasil África Caribe e outras Diásporas é um dos melhores eventos cinematográficos do calendário carioca. Podemos encontrar um pouco das culturas africanas que tanto influenciaram e influenciam essa terra tupiniquim. São nossa base, contruíram esse país sob suor e sangue.
Essa reunião de artistas fornece cultura e cinema de graça e surge a partir do Centro Afro Carioca de Cinema, que fica na rua Joaquim Silva, 40, um pouco depois do Bandolim Vegan Cult Bar e da Escadaria Selarón.
A dica do fim de semana é prestigiar esse evento gratuito, voltado para todo o público. No sábado, haverá uma exibição muito especial chamada Ubuntu Filmes dos Crias, às 22h, no Cine Odeon, com alguns daqueles que mantém o Centro Afro Carioca vivo e pulsante. Serão apresentadas as obras No Caminho de Casa, de Hugo Aniculapo Lima; As Alquimistas, de Gleyser Ferreira; O Vampiros Que Pensa Vozes, de Paulinho Sacramento e Ancestrais, de Macário e Jeff. São curtas que prometem iluminar a noite na Cinelândia.
Ademais, impossível não citar as formações gratuitas que o Encontro de Cinema Negro oferece diariamente como Master Classes e debates.
Serviço:
15º Encontro de Cinema Negro Zózimo Bulbul Brasil África Caribe e outras Diásporas
Data: De 18 a 24 de outubro
Locais: Cine Oden, Estação Net Botafogo, Centro Cultural Justiça Federal
Gratuito