Chico Alencar: Richarlison, craque dentro e fora dos campos

Chico Alencar, deputado federal eleito e colunista do DIÁRIO DO RIO, fala sobre Richarlison, sensação da Seleção Brasileira na estreia da Copa do Mundo

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Richarlison comemorando gol em Brasil x Sérvia pela Copa do Mundo 2022 - Foto: Lucas Figueiredo/CBF

Esta é uma Copa que começou sob o signo da polêmica. Como o Catar, sem tradição futebolística, território menor que o de Sergipe, menos de 3 milhões de habitantes, até 1971 dominado pela Coroa britânica, pode abrigar um evento do tamanho e importância planetária de uma Copa do Mundo?

A explicação está nos interesses financeiros da FIFA, a federação internacional que governa o futebol mundial. Há muito que a entidade escolhe o país-sede da Copa movida por interesses pecuniários, e não esportivos.

O Catar joga contra os direitos humanos, principalmente das mulheres e dos LGBTQIA+. Para se ter uma ideia, o amor entre pessoas do mesmo sexo é punido por lei, com apedrejamento e prisão.

Quando o país foi escolhido como sede da Copa de 2022, no longínquo ano de 2010, não havia estádios suficientes por lá. A maioria das luxuosas arenas precisou ser construída do zero, com orçamento recorde de US$ 220 bilhões.

As obras custaram a vida de trabalhadores intensamente explorados. Os números oficiais falam em 37 mortos, mas levantamentos de organizações de direitos humanos estimam milhares de mortes, sobretudo de imigrantes.

Apesar de proibir manifestações políticas, a todo-poderosa FIFA não conseguiu evitar, porém, uma merecida goleada de protestos. Profissionais de imprensa usaram braçadeira e camisas com as cores do arco-íris. Antes de Inglaterra x Irã, os ingleses ajoelharam no gramado em campanha contra o racismo. Durante a execução do hino do Irã, os jogadores iranianos ficaram calados e ouviram-se vaias de torcedores do próprio país, que exibiam cartazes pedindo liberdade para as mulheres, e lembrando a morte da jovem Mahsa Amini, presa após violar regras de uso do véu nos cabelos.

Na quinta-feira (24), chegou a vez do Brasil estrear na Copa. Sob desconfiança de parte da torcida, ressabiada com o uso indevido da camisa amarela do time pela parcela mais fanatizada do bolsonarismo.

Mas aí os deuses do futebol chutaram a favor do Brasil e colocaram como destaque da partida o atacante Richarlison, autor dos dois gols da vitória sobre a Sérvia.

Richarlison tem trajetória semelhante à de vários outros garotos que têm a sorte – e a virtude – de passar pelo funil da base e alcançar o sucesso no futebol profissional.

Não é fácil. São anos de provações e perrengues em busca de um lugar ao sol. Quando, enfim, chegam ao ”estrelato”, tudo muda: atingem outro ”patamar”, para usar a expressão consagrada pelo jogador rubro-negro Bruno Henrique. E aí passam a viver cercados de empresários, usufruem de mordomias e recebem salários milionários.

A origem humilde, para a maioria, fica para trás, e com ela vai toda a consciência social e a lembrança da realidade do que é o Brasil real, do que foram um dia.

Felizmente, esse não é o caso de Richarlison. Hoje defendendo o Tottenham, um dos principais times do Campeonato Inglês, ele continua com o fio terra ligado em suas raízes, engajado em lutas sociais, e preocupado com a desigualdade gritante de nosso país.

Em entrevista no fim do ano de 2020, disse à coluna do jornalista Ancelmo Gois: ”É por isso que eu falo, me posiciono e mostro a minha indignação: pelo mínimo de dignidade e igualdade para todos os brasileiros que não tiveram a mesma sorte que eu”. Richarlison é bom de bola e de solidariedade com seus irmãos brasileiros.

Chico Alencar é professor e escritor, além de vereador e deputado federal eleito pelo Rio de Janeiro

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