Claudia Chaves: Tráfico – Sem rumo

Colunista do DIÁRIO DO RIO fala sobre o monólogo Tráfico, autoficção do franco-uruguaio Jacques Tati

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Foto: Divulgação

Tráfico quer dizer ato mercantil, negócio, comércio; tráfego. Mas também  negócio clandestino, ilícito, ilegal. Tratado como comércio ilegal, lá está o clássico Traffic de Steven Soderbergh. Há também o divertido e irônico Traffic de Jacques Tati. O monólogo Tráfico, autoficção do franco-uruguaio.

Sergio Blanco com direção de Victor Garcia Peralta, trata do mais grave dos atos: como a alma humana pode ir de uma imorredoura redenção até a pior das abjeções.

No palco está o ator Robson Torinni, em excelente interpretação,  que  vive um garoto de programa, um solitário, um piloto descoordenado, easy rider que não escolhe nem as estradas, nem as pousadas. Segue em frente na motocicleta que pilota, em algo que torna  metáfora de uma vida,  na qual mal se livra das ultrapassagens e dos perigos que aparecem. A direção de arte de Gilberto Gawronski transforma o cenário em uma instalação,  digna de estar em qualquer bienal, que simula o objeto moto, mas também os limites com que o  personagem se defronta.

O texto é um caleidoscópio de emoções. Surpresa, redenção, superação, paixão, encontro, desespero, não vida e morte. Sergio consegue um efeito único: não há qualquer possibilidade de a platéia piscar, perder um sílaba sequer. O tom confessional é, em parte, a própria escrita de si do autor. Mas também um olhar que se derrama de uma pessoa com quem , dificilmente, temos contato tanto íntimo, tão próximo.

A direção de Victor Garcia Peralta faz dos gestos, da voz  e da movimentação de Robson roteiro  de um ballet, no qual cada palavra é apoiada pelo corpo, pela voz e pelo  lugar do palco no qual está.  A peça fala de erros,  desencontros, mortes brutais mas o que se vê é pura arte, poesia e aquele emoção que só o bom teatro provoca.

  • Serviço:
  • Teatro Poeirinha
  • Quintas, Sextas e Sábados às 21 h
  • Domingos às 19 h

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Jornalista, publicitária, professora universitária de Comunicação, Doutora em Literatura, Bacharel em Direito, gestora cultural e de marcas. Mãe do João e do Chico, avó da Rosa e do Nuno. Com os olhos e os ouvidos sempre ligados no mundo e um nariz arrebitado que não abaixa por nada.

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