Padre Valtemario: a mensagem de Lourdes e os enfermos

Pe. Valtemario S. Frazão Jr., colunista do DIÁRIO DO RIO, fala sobre Nossa Senhora de Lourdes

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Foto: Shutterstock / João Bidu

No dia 11 de fevereiro a Igreja celebra o Dia Mundial dos Enfermos, exatamente no dia de Nossa Senhora de Lourdes, quando, então, se faz memória litúrgica da primeira de suas 18 aparições à menina Santa Bernadete Soubirous. Nesta 1ª aparição, Bernadete relata que após ouvir um barulho de vento uivante e reparar que não havia movimento algum nas árvores, surgiu na gruta uma jovem Senhora vestida de branco, com uma faixa azul celeste à cintura e uma rosa de ouro em cada um de seus pés, da cor do rosário que portava nas mãos. A menina diz ter pego o rosário que carregava consigo no bolso do vestido e começado a rezar com aquela belíssima Senhora, que desfiava o rosário, porém sem mexer os lábios e nada lhe dizer tanto nesta 1ª (11/02/1858) quanto na 2ª aparições (14/02/1858). Foi somente na 3ª aparição (18/02/1858) que a Senhora lhe falou e disse: Far-me-ia a graça de vir aqui durante 15 dias? Com palavras tão doces e gentis Maria manifesta o desejo da companhia de Bernadete no silêncio e no recolhimento daquela gruta e, ao mesmo tempo, nos recorda que é no silêncio e no recolhimento da alma que encontramos e ouvimos a Deus. E como a agitação deste nosso tempo nos perturba, desequilibra e nos afasta da intimidade com Deus! Neste sentido, as palavras daquela aparição soam-nos, antes de tudo, como um convite à conversão: deixarmos de lado as preocupações com as coisas deste mundo, fazermos ouvidos moucos ao vozerio da vida agitada por tantas turbulências e, simplesmente, com muita humildade, voltarmo-nos a Deus e à vida de oração. É exatamente numa gruta que Maria convida a jovem vidente e todos nós a entrarmos no mistério de Deus. Pois, a gruta nos recorda que por detrás das nossas obscuridades, sempre podemos encontrar a certeza confortadora de que Deus nunca nos abandona e nunca nos deixa sozinhos. E à medida que nos entregamos com humildade ao Senhor, descobrimos a felicidade da vida em comunhão com Ele.

Em Lourdes, Maria nos ilumina a consciência de modo a compreendermos que doentes são não somente os que sofrem no corpo, porque acometidos foram por alguma enfermidade física, mas doentes somos todos nós acometidos pelo veneno do pecado. Até mesmo porque, conforme nos ensina a tradição bíblica, todas as enfermidades presentes no mundo são fruto do pecado, não propriamente do pecado pessoal daquele que é doente, mas do pecado dos nossos primeiros pais no paraíso, cujas consequências todo filho de Adão traz consigo. Entretanto, da mesma forma que Maria manda Bernadete ir às águas para beber e banhar-se – e foi precisamente neste episódio que surgiu a fonte d’água da Gruta de Massabielle, quando Bernadete foi à direção do Rio Gave, em frente do rochedo, e a Senhora disse à menina que ela deveria cavar no interior da gruta até encontrar a água à qual ela se referia – ela também nos indica o retorno às águas do nosso batismo, das quais a água de Lourdes é símbolo e recordação. Nós também precisamos cavar e encontrar em nosso interior a água viva que o próprio Senhor nos deu em nosso batismo pelo Espírito Santo. Este é um gesto precioso de conversão que pode nos tornar fontes de água viva a jorrar para a vida eterna, como Jesus nos diz em Jo 4,14.

Na Gruta de Massabielle, a Santíssima Virgem Mãe de Deus se mostra à Santa Bernadete especialmente como a Virgem Mãe de Misericórdia cheia de compaixão por todos os que sofrem e, de modo muito particular, pelos enfermos, seja no corpo, seja na alma. Pensemos não somente nas dores físicas causadas pelas doenças corporais, mas pensemos também nas enfermidades da alma causadas pelos vícios, pelos inúmeros pecados que cometemos. Na Gruta de Lourdes, Maria não somente é a Mãe de Misericórdia, como também é a Saúde dos Enfermos, o Refúgio dos Pecadores, a Consoladora dos Aflitos e o Socorro dos Cristãos. Ali ela exercita a misericórdia de modo muito particular para com aqueles que sofrem, consolando-os em suas aflições, encorajando e fortalecendo-os na caminhada de fé em vista da superação de todas as dificuldades. Assim como esteve intimamente associada ao seu divino filho na cruz, ela acompanha solícita a todos aqueles que carregam cotidianamente a sua cruz com resignação e esperança, trilhando os mesmos passos de Jesus, que por sua cruz e ressurreição a todos salvou e concedeu a participação na sua vitória final.

Com efeito, depois desta terceira aparição em que a Virgem falou à Bernadete pela primeira vez, houve mais 15 aparições, em que ela disse muito mais, deixando-nos preciosíssimas lições de humildade, desprendimento, confiança, fé, amor e esperança.

Em Lourdes, a Virgem Santíssima fala-nos de conversão, de penitência, de tempos agitados, da felicidade eterna na vida futura. A mensagem de Lourdes é antes de tudo um apelo dos céus à conversão da humanidade, ao retorno das pessoas a Jesus por Maria. Por isso, Lourdes continua a ser um sinal atualíssimo mesmo 165 anos depois das aparições. Uma ilha de fé e devoção cristãs numa Europa cada vez mais descristianizada.

Tudo em Lourdes nos chama à conversão, ao retorno àquilo que é essencial no Evangelho, ou seja, à fé, esperança e caridade. Lourdes será sempre a gruta da misericórdia de Deus. A própria famosa fonte d’água que brota da gruta desde a 9ª aparição é símbolo de tudo isso, como anteriormente indicamos. Pois se da gruta de Lourdes brota a milagrosa água, que é fonte de cura e conforto espiritual para tantos enfermos, isto deve ser, antes de tudo, para nos recordar ainda que é também do coração misericordioso de Jesus que brota a verdadeira fonte de água viva, a fonte da misericórdia e da salvação divinas que devemos beber buscando a cada dia a conversão e a santidade de vida, apesar dos nossos erros e fraquezas. Tenhamos a certeza de que Maria, a Senhora de Lourdes, continua a convidar todos nós, enfermos, devotos, missionários… Enfim, todos os seus diletos filhos, à conversão e a trabalhar com todas as forças pela salvação do mundo, tendo sempre presentes as pessoas enfermas, seja no corpo ou no espírito.

Pe. Valtemario S. Frazão Jr.

Pároco da Basílica N.S. de Lourdes

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O Padre Valtemário Frazão é pároco da Basílica de Nossa Senhora de Lourdes, e escreve sobre cristianismo no jornal da Arquidiocese do Rio, onde este artigo foi originalmente publicado

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