Após 22 anos, a Imperatriz Leopoldinense venceu o Carnaval. Parte da responsabilidade do título passa pelo resgate da comunidade, compromisso firmado pela presidência e direção da escola. Talvez a mais importante ação da verde e branco de Ramos tenha sido uma escolha especial, que já sonhavam os torcedores há anos, a escolha de uma rainha de bateria da comunidade.
Maria Mariá, aos 20 anos, tornou-se a imagem da reconstrução da Imperatriz e a inspiração de jovens sambistas de Ramos, que antes acreditavam que para se tornarem rainha da sua escola, teriam primeiro que alcançar o estrelato. Agora, o sonho virou realidade e tantos outros podem se tornar também.
Nascida em Ramos, Maria mora na rua da quadra da Imperatriz. Quando pequena, pedia para a sua mãe levá-la ao som da bateria, que ecoava pelo bairro. ‘’Mesmo com essa onda de passistas e meninas da comunidade subindo de posto, a gente nunca acha que vai acontecer com a gente. Quando acontece, custamos acreditar. A ficha ainda está caindo. Com o tempo, vamos entendendo a relevância para nós e para quem está de fora e se inspira’’, explicou emocionada, Mariá.
O Complexo do Alemão está cheio de Marias. Marias que ainda sonham em desfilar pela primeira vez, Marias que sonham em ser destaques, sair na comissão de frente, defender o pavilhão e Marias que almejam o posto de rainha de bateria, agora inspiradas por Maria Mariá.
‘’Ser rainha de bateria é o sonho de todas as passistas. Ver que as escolas vêm dando essa oportunidade para meninas da comunidade é uma alegria imensa. Estive com a Maria Mariá na ala e quando a nossa presidente anunciou que ela ocuparia esse espaço, foi muita felicidade. Vê-la como rainha e representando todas nós é emocionante’’, afirmou a passista e moradora de Olaria, Isabelle Ferreira.
Maria Mariá conhece bem o sentimento de representar a sua comunidade: gratidão. ‘’É gratificante representar tantas meninas e tantos sonhos. Eles acontecem, ainda que pareçam impossíveis e distantes, eles acontecem. Quando a oportunidade chega, devemos fazer o possível para valorizá-la’’, disse a rainha pé quente da Imperatriz.
No último sábado, 04, a Imperatriz Leopoldinense desfilou para a comunidade do Complexo do Alemão, em comemoração ao 9º título do Carnaval. Lá estava Maria, à frente da bateria Swing da Leopoldina com a sua exuberante fantasia vermelha, tão brilhosa quanto os olhos de quem enxerga na jovem a esperança de dizer o que o intérprete da verde e branco, Pitty de Menezes, tanto fala: o sonho virou realidade.
‘’Ela não representa só a nossa comunidade, mas sim todas aquelas meninas que sonham ter essa oportunidade. Eu me sinto feliz, realizado e isso ao mesmo tempo me fez buscar conhecimentos, não desistir e acreditar que a qualquer momento um de nós pode estar ali. Nada melhor do que nossa comunidade ser representada por uma pessoa que seja cria da comunidade do CPX’’, afirmou Gabriel Copelli, passista da Imperatriz e morador de Ramos.
Maria Mariá não foge da responsabilidade. Deixou claro na conversa com a coluna que entende a importância de ponderar as suas atitudes e de que tem consciência que tudo o que fizer agora impacta na vida de pessoas que se inspiram na sua trajetória.
Fora do samba, Maria Mariá é apaixonada por livros, cultura, museu e boas companhias. Deseja fazer a diferença na vida das pessoas, enquanto acompanha uma boa série, pratica esportes e dá boas risadas. Em suas palavras, Maria Mariá é muitas coisas, muito plural. Para o futuro, ela diz que podemos esperar seu estudo, aperfeiçoamento e a busca por contribuir ainda mais na melhora de cada quesito da escola. ‘’Queremos o bicampeonato.Vai ser lindo’’, completou Maria Mariá.
Pode ser que Maria Mariá ainda não tenha dimensão da sua importância para a comunidade da Imperatriz Leopoldinense. A virada na sua vida chegou de forma rápida e intensa, contando com um título no meio do caminho. Ela perceberá a cada ensaio o quanto a sua trajetória inspira meninas que sonham como ela um dia sonhou. Ao olhar as crianças da comunidade, Maria verá seus olhos com pouco mais de sete anos assistindo aos desfiles da Imperatriz.
Mariá cresceu e, hoje, faz parte da gigante que acompanhava pela TV da sala. Hoje, ela é gigante. Nasceu para ser uma constelação inspiradora. Brilha!