Esta noite sonhei com um certo Joaquim José da Silva Xavier. Morto na forca há exatos 231 anos, ele estava vivíssimo, percorrendo as ruas estreitas da Vila Rica de Nossa Senhora do Pilar de Ouro Preto.
Falava com entusiasmo para os ricos e os muitos pobres da cidade: “As Minas são um país, como não há outro, que tem todas as riquezas em si. Alferes da Cavalaria, sempre me vi preterido nas promoções a que tenho direito. Junto minhas amarguras às do povo, que são maiores, e assim a ideia de libertação toma conta de mim!”.
A Conspiração ou Conjuração Mineira – não “Inconfidência”, que quer dizer deduragem, delação – foi um importante movimento de independência da Capitania de Minas, anterior à própria Revolução Francesa.
Articulada por fazendeiros, padres (vários!), filósofos, literatos, médicos, militares e comerciantes (inclusive emprestadores de dinheiro, agiotas), representava a elite e a “classe média” da época, naquela urbe de cerca de 80 mil habitantes, onde “a febre do ouro era sem cura”.
O que os unia era a rejeição da exploração da Metrópole Absolutista Portuguesa. Tinham vagas ideias de construir uma República Confederada. “Uma República Florente” (florescente), dizia Tiradentes. Não se puseram de acordo quanto à abolição da escravatura, pois vários tinham pessoas escravizado(a)s a servi-los…
Tiradentes não foi o principal líder da Conjuração, mas seu maior propagandista. Nos caminhos entre Rio (já capital da Colônia) e Minas – 15 dias a cavalo -, que conhecia na palma da mão, conversava com toda gente.
Tinha preocupação de usar uma linguagem compreensível para os iletrados. Para tanto, valia-se de sua experiência na “escola da vida”: como tropeiro, com a “habilidade de por e tirar dentes”, do conhecimento de ervas medicinais e encanamentos de água. E do gosto pela trova, pelas cantigas. Sua grande popularidade contribuiu para a pena máxima que recebeu, sem perdão.
As imagens que temos de Tiradentes são todas idealizadas. Condenado até a 5a geração, o Império Brasileiro tratou de mantê-lo banido, “cancelado” (afinal, a rainha D. Maria I, que o condenou à morte, era avó e bisavó dos Pedros I e II). Só em fins do século XIX sua figura começou a ser resgatada – como um Cristo, como herói.
Da Conspiração Mineira guardamos a lição da luta pela independência (necessária nesse país de soberania volta e meia ameaçada), da extorsão da “derrama” (nesse país de sistema tributário tão injusto), da violência do poder opressor (nesse país de séculos de concentração de renda e poder), da necessidade de se juntar e lutar por causas coletivas (nesse país do “cada um por si” e da perda de ideais fraternos aos quais se dedicar).
Cecília Meireles (1901-1964) lembrou, no seu “Romanceiro”: “Foi trabalhar para todos/ mas por ele quem trabalha?/ Tombado fica seu corpo/ nessa esquisita batalha/ Suas ações e seu nome/ por onde a glória os espalha?”.
Os algozes da Conjuração Mineira estão no lixo da História. Dos conspiradores da “Liberdade, ainda que tardia” fazemos memória.
Artigo muito xexelento. Professorzinho muquirana que não ensina ninguém.
sua explanação mostra um viés errado: tiradentes era beberrão, piranhudo, vivia nos bórdeis e ele próprio espalhou o movimento. não continha a lingua dentro da boca. só foi morto porque não pediu perdão à rainha. se o tivesse feito, teria se salvado. afinal, a “revolta” nada mais era que uma insatisfação pela derrama, que nunca houve e nem se tem provas de que iria de fato ser decretada. todos os eventos foram narrados depois do golpe militar que depôs o imperador. tiradentes nada mais é que uma personagem insignificante, que não teve nenhum papel de destaque em nossa história.