Enquanto o crime muda a forma de atuação, a Polícia Militar mostra que não tem acompanhado a tendência do tráfico de usar mulheres para atravessar armamentos e drogas ilegais através de viagens rodoviárias intermunicipais: Na volta do feriado, manhã de segunda-feira, dois policiais militares, homens, estavam revistando bagagem de passageiras que voltavam de locais considerados rota do tráfico como Curitiba e São Paulo, inclusive conteúdos como roupas íntimas, ainda na plataforma de desembarque da Rodoviária Novo Rio, na Zona Portuária carioca. Não havia sequer uma policial feminina, chamadas de PM FEM, geralmente direcionadas a serviços administrativos da corporação ou lotadas em cidades de baixo potencial criminoso como Teresópolis, uma das mais seguras do país; como também cães farejadores ou simples detectores de metais.
Uma das selecionadas pela blitz, uma morena de cabelos escuros e pele parda, carregava uma mochila de mais ou menos, 30 centímetros e chegou a pedir para ser revistada por uma policial ao invés dos rapazes, que logo deram a “simpática” opção de levá-la à delegacia. O ato foi feito na frente de dezenas de passageiros, a maioria com malas de até um metro, suficientes para ‘abrigar’ fuzil, mas que não foram interceptados ou sarqueados. Ela, moradora do Rio, voltava da capital paranaense após fazer uma prova. “Eu não tinha nada de ilegal, mesmo assim, não queria minhas coisas ali reviradas na frente de todo mundo. Tenho direito à privacidade, sou uma pessoa bem discreta. Sequer tinha uma mulher para acudir, seja policial ou até agente para suporte como também não me ofereceram opção para levar a um canto mais reservado. Em outra vez, foi aeroporto até no Paraná, onde tenho família. Fui escolhida na aleatória e estava com minha filha pequena, que ficou em pânico, pensando que eu iria ser presa. As abordagens são importantes, mas deixam a desejar quando não se pensa no dolo psicológico da revistada e acompanhantes. Fora que se estivesse dentro da roupa, iriam deixar de apreender, certo?”, conta a moça, que ainda pensa em levar o caso à Justiça, mas não quis se identificar.
Para o especialista e ex-secretário de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro, Roberto Motta, falta efetivo feminino para minimizar o impacto das abordagens em passageiras mulheres, como também reforços com cães treinados e até detectores de metais. “Certamente, eles fizeram as abordagens em mulheres por alguma informação de mulheres transportando até armas de menor porte, como pistolas. Mas, faltam mulheres na Polícia Militar para fazer esta ação. Os cães, que aumentariam a eficiência, também são escassos, pois os custos para treiná-los são altos. Entretanto, treinamento dos agentes resolveria a falta de tato na abordagem”, opina Motta.
Na manhã de terça-feira, policiais civis da 31ª DP (Ricardo de Albuquerque) prenderam uma paranaense que desembarcou na Rodoviária de Niterói, no Leste Fluminense, com sete pistolas dentro da roupa. Ela também vinha do Paraná e iria fornecer o armamento ao Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo. Ainda neste mês, uma outra mulher foi detida com quatro fuzis na Novo Rio.
No Carnaval, em outra operação na Rodoviária Novo Rio, os policiais encontraram mais de mil munições em uma mala de uma passageira que vinha de Joinville (SC), como também de outra viajante, que trazia 2,3 mil munições calibre 9mm de Minas Gerais, no dia 25 de fevereiro. Já no último domingo da operação, policiais fizeram o flagrante de uma mulher com quatro pistolas, além de carregadores e munições também no local.
No início do mês, o governador do Rio, Cláudio Castro, mostrou preocupação com a quantidade de fuzis que circulam em território fluminense e afirmou que o estado “não será faculdade do crime”. O Governo do Estado também passou a dar bônus a policiais pela apreensão de fuzis.
Questionada pelo formato das abordagens a mulheres, sem a presença de policiais femininas, a Polícia Militar não retornou ao DIÁRIO DO RIO.
não falta efetivo feminino. falta organização e planejamento…