Conheci o jornalista, escritor e produtor Sérgio Cabral, quando eu produzia, na rádio “Metropolitana – AM”, um programa de humor esportivo chamado “PRK7”.
Mas, a minha admiração por ele vem da época de “O Pasquim”.
Já acompanhava sua carreira no “Última Hora”, do jornalista Samuel Wainer, de onde saiu para, junto com Tarso de Castro e Jaguar fundar o revolucionário “O Pasquim”, depois, “Pasquim”, sem o artigo.
Nascido em Cascadura e criado no bairro de Cavalcanti, no Rio de Janeiro, Sérgio Cabral começou a trabalhar como jornalista no “Diário da Noite”, em 1957.
Dali, foi para o “Jornal do Brasil”, onde escrevia a coluna “Onde o Rio é mais carioca”. Por ocasião da Copa de 62, participou da mais famosa mesa-redonda esportiva do rádio; a seminal “Resenha Facit”, ao lado de João Saldanha, Armando Nogueira e Nelson Rodrigues.
Assinou colunas no “Jornal dos Sports”, “Última Hora”, “O Globo” e “O Dia”, onde escreveu até 1993.
Desde então, atuou como produtor de discos, repórter, redator, cronista e editor em diversos jornais, revistas e emissoras de TVs.
Sérgio Cabral era querido por todos. Pelo pessoal do jornalismo, do futebol e da música. Levava a vida na boêmia, regada a cerveja, uísque e longos papos com Cartola, Elton Medeiros, Sérgio Augusto, Jaguar, Nelson Cavaquinho, Lan, Paulinho da Viola, Martinho da Vila, Hermínio Belo de Carvalho, Rildo Hora, João Nogueira, Tom, Vinícius e outros.
A partir de 1977, dedica-se, principalmente, à literatura, já tendo publicado mais de uma dezena de livros, entre eles: Pixinguinha, vida e obra (1977); O ABC do Sérgio Cabral (1979); Tom Jobim (1987); No tempo do Almirante (1991); No tempo de Ari Barroso (1993); Elizeth Cardoso, vida e obra (1994); Antonio Carlos Jobim – Uma biografia (1997); Nara Leão – Uma biografia (2001) e Grande Otelo – Uma biografia (2008), entre outros.
Letrista bissexto, com o parceiro Rildo Hora, Sérgio Cabral escreveu as letras de “Janelas Azuis”, “Visgo de Jaca”, “Velha-Guarda da Portela” e “Os Meninos da Mangueira”.
O jornalista foi preso político. Durante a Ditadura Militar passou dois meses encarcerado na Vila Militar, com os colegas do “Pasquim”, no episódio que ficou conhecido como “A Gripe do Pasquim”.
Em 31 de setembro de 1970, agentes do governo invadiram a redação do “Pasquim”, na rua Clarisse Ìndio do Brasil, 32, em Botafogo e prenderam Tarso de Castro, Ziraldo, Luiz Carlos Maciel, o publicitário José Grossi e o funcionário Haroldo Zager.
Paulo Francis foi preso em casa. O fotógrafo Paulo Garcez foi detido na rua.
Sérgio Cabral e o cartunista Fortuna estavam dando uma palestra em Campos (RJ), quando Sérgio foi avisado pela esposa Magali que o Exército tinha invadido a redação do “Pasquim” e estavam procurando por ele.
Jaguar estava escondido na casa do apresentador Flávio Cavalcanti, tomando uísque com Leila Diniz, quando recebeu uma ligação do Paulo Francis dizendo que se eles não se entregassem para prestar depoimento, os outros não seriam soltos.
Jaguar ligou para o Sérgio Cabral e resolveram se entregar.
Fortuna foi preso logo que chegou ao Rio.
Sérgio Cabral e Jaguar, no caminho para a Vila Militar, se encontraram com Flávio Rangel que decidiu se entregar junto com eles.
Jaguar: “Mas, Flávio, eles nem te chamaram!”
Mas o teatrólogo estava decidido: “Eu também vou. Senão, como fica a minha consciência, depois?”
E foram. Mas antes de se entregarem, pararam num boteco e encheram a cara.
A partir daí, a censura ficou ainda pior. Os custos do semanário aumentaram; eles tinham que mandar o jornal para Brasília, um sufoco. Para piorar, “Pasquim” perdeu toda a receita. Os anunciantes ficaram com medo de anunciar e os jornaleiros sofriam ameaças de explosões caso continuassem a vender a publicação.
1971 foi o pior ano da vida de Sérgio Cabral. Foi despejado e se endividou em vários bancos. Em 72 foi trabalhar em São Paulo na revista “Realidade”, mas a passagem pela capital paulista não durou muito.
“Eu tenho um problema: sou carioca da gema; de nascimento, vocação e profissão. Só sei escrever sobre o Rio de Janeiro, sobre as coisas do Rio”, dizia.
Na volta ao Rio, foi vereador por três legislaturas, de 1983 a 1993 e conselheiro do Tribunal de Contas do Município do Rio até maio de 2007, quando se aposentou aos 70 anos.
O “Pasquim” parou de circular em 1991.
Numa entrevista dada ao jornalista Tom Cardoso – autor das biografias de Tarso de Castro e do jogador Sócrates – Jaguar disse: “todo mundo cheirava no “Pasquim”. Todo mundo. Menos eu e o Sérgio Cabral, que ficávamos na biritinha. Ele já sabia que seria o pai do futuro governador do Rio. Não podia dar bandeira”.
O filho, entretanto, não teve a mesma consideração pela imagem do pai.
O Alzheimer, no entanto, salvou Sérgio Cabral – o pai – da vergonha.