Quem passa pela rua Uruguaiana hoje em dia, nem imagina que ali há 300 anos havia uma vala.
Conhecida como Rua da Vala, sua principal função era escoar a água da lagoa de Santo Antônio, no largo da carioca, mas com o tempo, o local virou um grande esgoto a céu aberto, onde eram depositados lixos e dejetos.
Como grande curiosa sobre as histórias das ruas, encontrei relatos que afirmam que a rua foi fechada por volta de 1765, a mando do Vice-Rei Conde da Cunha.
Foi revestida de lajes de pedra em razão – era o que então se propagava – de haver caído nela, em uma certa noite escura, no decorrer de uma aventura galante, o mais graduado de seus ajudantes..
Em outro momento, lendo o livro de Joaquim Manuel de Macedo, “Memórias da rua do Ouvidor”, encontrei a peça que faltava: o que de fato aconteceu.
Como o próprio autor afirma, são mistos de histórias e tradições que ele foi coletando com os antigos, um pouco imaginadas e um pouco reais.
E assim, conheci uma das tradições mais interessantes e hilárias da história do nosso rio antigo: o caso do lobisomem da rua da Vala.
Alexandre Cardoso de Menezes, ajudante oficial do vice-rei, tinha tanta confiança que praticamente governava em seu lugar. A coragem e o poder que tinha o tornavam ainda mais perigoso e seguro da impunidade.
Ele, se encantou por Águeda e frequentava a loja/casa de João Fusco, que ficava localizada na rua da Vala além da rua do Cano (rua Sete de Setembro), para jogar a banca (jogo de aposta da época) e ver um jeito de se aproximar da moça, mas nunca teve sucesso.
Águeda estava prometida em casamento ao João Fusco que além de ser seu tio e ter 50 anos a mais, era detestado por ela.
Em uma noite, ao sair da casa de João Fusco, Alexandre viu um homem misterioso vestido com uma capa perto do portão do quintal, que dava para a rua dos Latoeiros, atual rua Gonçalves Dias. Percebendo que o homem era o sacristão e sobrinho do vigário da Igreja de São José, Alexandre recuou e observou curiosamente o encontro.
Jacoba, escrava-amiga de Agueda, espalhava a história de um lobisomem para assustar as pessoas e garantir o encontro escondido dos dois. Essas crenças folclóricas eram comuns na época. Alexandre aproveitando-se dessa descoberta bolou um plano.
Certo dia, ao reconhecer o sacristão perto da casa de João Fusco, enviou um soldado para informá-lo que o vigário o chamava urgentemente para a igreja. Assustado por ter sido reconhecido, voltou rapidamente para a Igreja. Alexandre ocupou seu lugar e vestiu uma capa, bateu suavemente na porta de trás da casa de João Fusco e foi rapidamente recebido por Jacoba.
No entanto, depois de deixá-lo entrar, ela percebeu que ele não era o sacristão, e gritou que havia um lobisomem na casa. Alexandre entrou em pânico e ao fugir pela rua da Vala (atual Uruguaiana) acabou caindo na vala fétida e podre.
Enquanto estava imerso e escondido, Helena, mãe de Agueda, gritou que o lobisomem havia levado sua filha.
Explicação: o sacristão encontrou a Igreja fechada e voltou para a casa de João Fusco. Encontrou a Agueda e Jacoba, que contaram tudo. Diante da situação, ele pediu a mão de Agueda em casamento, e ela aceitou, fugindo com ele. Meses depois, o sacristão e Agueda se casaram.
Alexandre Cardoso ficou tão enojado que mandou fechar a vala, enviando um comunicado ao vice-rei Conde da Cunha, que assinando a aprovação, logo foi revestida de lajes de pedra.
Mas o caso do lobisomem já havia se tornou história popular e a tradição manteve o nome da Rua da Vala até 1865 quando mudou para Rua Uruguaiana.
O Rio é cheio dessas tradições um pouco reais e um pouco imaginadas, e é enriquecedor conhecer cada uma delas, uma vez que fazem parte da nossa história.
E foi assim, que a rua da Vala foi fechada pelo lobisomem.
E você, conhece a rua Uruguaiana ou já ouviu alguma lenda do Rio Antigo?
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Nessa rua também chegou a ser iniciada a construção de um muro que serviria para cercar o limite da cidade. Mas o projeto acabou não acontecendo.