As mães da classe média são muito parecidas. Sonham com os sucessos dos filhos. Sejam de Bauru ou do Rio de Janeiro. O filme “Pérola” dirigido por Murilo Benício baseado num texto de Mauro Rasi onde ele foca na relação com sua mãe é um dos melhores que vi em 2023. A direção de Murilo é singela, delicada, com closes nos momentos certos e cores que representam mudanças de tempos e sentimentos. O longa é sobre memórias, fragmentos de lembranças de intensas relaçõe familiares.
A película conta a história da matriarca Pérola, vivida de forma genial por Drica Moraes. Ela que tem todo um aprendizado do teatro, brilha nessa obra que nasceu para os palcos a princípio. Vemos tudo através do olhar do filho Mauro. E temos um retrato dessa relação entre mãe e filho, com seus conflitos e alegrias, em especial, cheia daquelas expectativas ilusórias. Uma história, acima de tudo, sobre o reencontro de uma mãe e seu filho, com conflitos e sonhos.
Pude ver “Pérola” na pré-estreia para convidados, mas que também foi aberta a quem quisesse comprar ingresso. Aconteceu no Estação Net Gávea, na última terça-feira (19). O fato de ser uma sessão especial com venda para o grande público permitiu que eu encontrasse Amanda Manso, uma moradora de São Paulo que trabalha com contabilidade. Ela veio e voltou de ônibus somente para conhecer pessoalmente o Murilo Benício, artista do qual ela é fã. Chegou de manhã após passar a madrugada no transporte e foi embora logo após a sessão. Essa idolatria me impressionou. “O amor pelo Murilo começou quando eu tinha seis anos e vi a novela ‘O Clone’ pela primeira vez. O talento dele me encanta”, declarou Amanda.
As cores de Mauro Rasi
Logo depois da sessão, conversei com Murilo, que me disse: “Eu tive a felicidade de conhecer o Mauro, convivi com o Mauro. Fiz o filme que acho que o Mauro faria. Sempre tive isso cabeça. Meio que digo que esse é um projeto que nasceu em 1995 quando Mauro me chamou para trabalhar. Era começo de carreira para mim e ‘Pérola’ já estava um sucesso absoluto. Estava em cartaz e eu não tinha visto. Depois que vi e a gente foi jantar, a única coisa que lembro da noite foi de falar ‘Mauro, você tem que filmar essa peça’. E isso ficou na minha cabeça. O Mauro deixou a gente muito novo.”
Murilo e elenco recebiam e falavam com os jornalistas, e fãs, antes da sessão, no tapete vermelho, como chamam. Era um grande burburinho. Nomes como Fátima Bernardes, Marisa Orth, Teresa Seiblitz e Marieta Severo (que fez muitos trabalhos com o Mauro Rasi) estavam por lá. Mas não queria falar com ele antes de ver o filme. Após a sessão, Benício generosamente me cedeu algumas palavras, com ajuda da Lígia, da assessoria Primeiro Plano. Parabenizei verdadeiramente pelo trabalho, pois fiquei impressionado, extasiado com a obra que me prendeu o tempo todo, me fez rir muito, chorar, pensar na minha mãe, refletir sobre esse contexto dos sonhos da classe média, como uma piscina no quintal, que demora anos para ficar pronta e é uma grande metáfora ali presente.
“Mauro era assim, tinha muita cor, extremamente carinhoso com a família dele, com as histórias que ele contava pra gente. Eu vim munido de tudo isso e com uma intimidade que eu tinha com ele para fazer esse filme do jeito que eu acho que ele fosse gostar.”, me disse Murilo Benício.
“Pérola” tem um cheiro, e quase um gosto de Almodóvar, mas uma autenticidade brasileira, e umas marcas que Murilo começa a deixar em sua filmografia como diretor. Com toda sua experiência, ele consegue entregar bem uma mistura de humor com drama. Irreverência e profundidade. Há closes certeiros e pontuais, sem exageros melodramáticos, uma condução eficiente dos atores, que, aliás, não deixam cair a qualidade naturalista em momento algum. E um timing cômico apurado.
Afinal, o filme “Pérola” estreia em 28 de setembro nos cinemas brasileiros e é uma ótima pedida. Mais um filme nacional de qualidade e valor.