Ediel Ribeiro: Lailson, um pop star

Colunista do DIÁRIO DO RIO fala sobre Lailson n´O Papa-Figo

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Eu editava o ‘Cartoon’, um jornalzinho de humor , no Rio de Janeiro, nos anos 90, quando conheci Lailson n´O Papa-Figo, um tablóide de humor do Recife.

Um dia, Lailson me mandou uma charge que retratava o ex-presidente Collor de Mello, na igreja, vestido de noiva, segurando um buquê de flores. A charge foi publicada na página central do ‘Cartoon’ número 3, de novembro de 1992. Fez maior sucesso.

Na época, Lailson já era um cartunista consagrado; colaborava com O Pasquim e junto com Ral, Bione, Paulo Santos e Teles editava “O Papa-Figo”, um tablóide de humor do Recife.

Lailson de Holanda Cavalcanti foi um cartunista, chargista, desenhista de histórias em quadrinhos, músico, cantor, publicitário e jornalista brasileiro. Foi curador de salões de humor e pesquisador. Tem inúmeros trabalhos publicados no Brasil e no exterior, sendo inclusive autor de adaptações de clássicos da literatura portuguesa e brasileira para os quadrinhos.

A carreira artística começou ainda na adolescência, quando Lailson morava nos Estados Unidos, onde recebeu o Award for Best Original Artwork, da Arkansas High School Press Association, em 1971, por uma charge publicada no jornal “The Pine Cone”, editado pela Pine Bluff High School.

Autor de vários livros de humor, charges e quadrinhos, Lailson estreou na imprensa pernambucana em 1975, no “Jornal da Cidade”, no começo dos anos 70. Em Pernambuco, Lailson publicou seu trabalho também no “Diário de Pernambuco”, até 2005.

Suas charges eram distribuídas pela agência internacional Cagle Cartoons, para os jornais e revistas “The Guardian”, “Der Stern”, “Slate/MSNBC” e “Miami Herald”, entre outros.

Mas foi na página de humor “O Papa-Figo”, publicada no ‘Jornal da Semana’ – que em seguida virou um tablóide alternativo – que seu humor e seus desenhos ganharam notoriedade. “O Papa-Figo” era uma espécie de Pasquim pernambucano, que deu início ao movimento de humor nos quadrinhos pernambucanos dos anos 1970.

Manoel Bione era fã do texto ferino e do traço fino e rebuscado do amigo: “A gente se reunia na casa de Lailson, no Espinheiro, e era uma criação coletiva. A gente não gostava de chargista editorial, que vê o que o jornal vai publicar e faz algo em cima. A gente gostava de fazer nosso trabalho em cima do que estava na boca do povo, e Lailson era muito bom nisso”.

Em pouco tempo, o nome e o humor de Lailson já eram reconhecidos nacionalmente. O artista foi o vencedor do “4º Salão de Humor de Piracicaba”, em agosto de 1977. Seu trabalho foi o escolhido entre 417 cartuns de 12 países no mais importante prêmio do humor gráfico brasileiro.

Na ocasião, ele declarou que o mercado de trabalho no Recife era difícil para os ilustradores:

“É preciso que os jornais se conscientizem da importância dos cartuns e das histórias em quadrinhos nacionais. Que fale dos problemas extraídos da realidade em que vivemos. Que as empresas também reconheçam os ilustradores, profissionais tão sérios como jornalistas.

Nesse meio tempo, Lailson viu seu trabalho alcançar vitrines importantes como “O Pasquim” – que passou a publicar “O Papa-Figo” nos anos 1980 – , a “Revista Bundas”, o “Pasquim 21” e “Cartoon”. Também colaborou com a edição brasileira da popular revista “Mad” e teve sua obra publicada em jornais e revistas do mundo todo.

Se dedicou também ao humor gráfico não só enquanto artista, mas também como pesquisador, produzindo trabalhos sobre o tema pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e pela Universidade de Alcalá, na Espanha.

Foi membro fundador da Associação Brasileira dos Cartunistas e criador/curador de diversos festivais, como o Salão Nacional de Humor de Pernambuco e o Festival Internacional de Humor e Quadrinhos de Pernambuco. Também se dedicou a produzir biografias, seja em quadrinhos, como foi o caso de Joaquim Nabuco em A Voz da Abolição, publicado pela editora Massangana em 2010, ou em texto, com Magdalena Arraes: A dama da história, escrito ao lado de Valda Colares e publicado pela Cepe Editora.

A década de 70 foi de intensa agitação na vida de Lailson, que também se destacou no meio musical pernambucano. Em 1973, ele se juntou a Lula Côrtes na criação do disco “Satwa”, um marco da música moderna brasileira e da psicodelia pernambucana, sendo precursor do movimento que ficaria conhecido como “udigrudi”, que carregaria nomes como Zé Ramalho, Flaviola e a banda Ave Sangria.

O disco, hoje uma raridade, foi lançado pela lendária gravadora Rozenblit. Na década passada, teve algumas edições em CD e Vinil disponibilizadas pelo selo inglês Mr. Bongo, quando este comprou o catálogo da fábrica pernambucana de discos.

Para além da psicodelia setentista, Lailson de Holanda também se empenhava musicalmente no blues. Nos anos 1990, formou as bandas “Blues Bróders”, “A Garagem” e “The Lailson Blues Bands”, que seguiu até 2011.

Isabela de Holanda, filha mais velha de Lailson, hoje se dedica à lembrança e ao legado deixado pelo pai, morto na madrugada do dia 26 de outubro de 2021, vítima da Covid-19, aos 68 anos.

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Jornalista, cartunista, poeta e escritor carioca. É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG) e Diário do Rio (RJ) Autor do livro “Parem as Máquinas! - histórias de cartunistas e seus botecos”. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) dos romances "Sonhos são Azuis" e “Entre Sonhos e Girassóis”. É também autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty", publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ), desde 2003, e criador e editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!"

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