No charmoso e cada vez mais bem frequentado bairro da Passagem, em Cabo Frio, podem ser encontrados lindos traços da arquitetura histórica portuguesa. É quase como uma mini-Paraty, mais desconhecida, porém florescente. Suas construções caiadas de azul e branco com jardins coloridos atraem cada vez mais turistas e visitantes. Toda a sua bela arquitetura icônica e histórica, suas ruas de pedra arborizadas e as casinhas coloridas que foram muito bem preservadas ao logo dos anos, acabaram contribuindo para que o lugar se transformasse num dos pontos mais turísticos da cidade da Região dos Lagos e recebesse o título de Patrimônio Cultural e Histórico da cidade. Tudo começou com a construção da pequena jóia que recebeu o nome de Igreja de São Benedito, no século XVIII.
Só que agora que a região está bombando, cheia de restaurantes, bares, pousadas, e com seus jardins bem cuidados, o problema é justamente o mau estado da linda capelinha, que, se antes chamou gente para viver e curtir o local, agora é um ícone de abandono e desprezo pelo patrimônio cultural pela Arquidiocese de Niterói. O telhado construção de 1761 passa por graves problemas, com caibros em péssimo estado, telhas desalinhadas, e risco severo de uma tragédia cultural, apesar dos conhecidos esforços do pároco local para resolver os problemas (fotos). “A morte de uma edificação sempre começa pelo seu telhado. Vazamentos podem comprometer toda uma edificação. Vide o caso dos prédios da mesma época que desabaram no Arco do Teles, no Centro do Rio”, diz o administrador de imóveis Adriano Nascimento, sobre o que já se está chamando de ‘tragédia cultural da Praça XV’, conforme reportamos aqui.
O problema é que a mesma Arquidiocese que não parece ter recursos para fazer ao menos uma simples revisão do telhado da capelinha, permite que sejam aplicados milhares de reais em obras espúrias e desnecessárias como o novo pergolado de outro xodozinho da região dos Lagos, que é a Capela de Nossa Senhora Desatadora dos Nós em Búzios. Lá, como revelado com exclusividade pelo DIÁRIO DO RIO, o padre responsável pela capelinha de Geribá, Douglas Alves Fontes, tomou uma decisão que colocou toda a comunidade em pé de guerra. O sacerdote decidiu destruir uma parede de ex-votos (placas de mármore agradecendo a graças concedidas pela Santa a fiéis da Igreja), e construir um telhado ‘pergolado’ colado bem na fachada artística da igreja, colado na célebre escultura dos anjos do escultor Hildebrando Lima, modificando todo o projeto arquitetônico original da arquiteta Andrea Tristão.
A obra, considerada de “mau gosto”, que adultera completamente a fachada artística da Igrejinha, está deixando a pequena cidade litorânea em ‘alerta’. A capela de Búzios foi construída em 2001 por um grupo de devotos daquela Santa, que se dedicou a edificar e doar ao povo de Buzios a igrejinha que se tornou um dos pontos turísticos da cidade, com sua fachada decorada pelas imensas esculturas de anjos adoradores, mas também por imensos painéis do famoso pintor brasileiro Sergio Martinolli. A embaixatriz Nascimento Silva fez as placas de azulejo pintadas a mão nas paredes da entrada. A Capela conta com obras de arte sacra de diversos artistas, criadas especialmente para a construção, que foi licenciada pela prefeitura.
Consultado por fiéis, o Padre teria dito que “infelizmente ou felizmente, o projeto já foi aprovado e executado”. A obra, que desfigura a Igrejinha, segundo arquitetos e especialistas em patrimônio consultados pela reportagem, está andando rápido. “Só falta a churrasqueira, porcelanato e a aparelhagem de som tocando pagode”, supôs ao DIÁRIO um fiel, que prefere não se envolver na grande confusão que envolve a igrejinha que conta com tantas obras de arte quanto admiradores na região. O debate é tão ferrenho que até uma rádio de Além Paraíba já fez matéria sobre o pergolado da discórdia. Um abaixo assinado está sendo preparado por notáveis de Armação dos Búzios, enquanto a construção – completamente colada na fachada decorada da Igreja – corre solta. Vide matéria abaixo.
A Igreja de São Benedito está localizada no largo do mesmo nome, junto a praça cheia de restaurantes. O site da paróquia à qual pertence a igrejinha conta que por força da provisão de 9 de abril de 1761, o morador de Cabo Frio João Botelho da Ponte, foi autorizado a construir o templo e doou o patrimônio de uma “morada de casas e os foros de outras que se fizeram em terreno pertencente a mesma capela” para que nunca faltasse recursos para sua conservação. Pois é.