A ampla repercussão do linchamento de duas mulheres trans e negras na saída de um samba no Casarão do Firmino, no bairro da Lapa, na última sexta-feira (19), provocou uma onda de indignação, e movimentos sociais prometem uma forte mobilização de entidades em defesa da diversidade. Ativistas na Frente LGBTIA+ do Rio de Janeiro convocaram um ato em repúdio às agressões transfóbicas e racistas para o próximo dia 26 de janeiro, quando o crime completa 7 dias, a partir das 19h, com concentração na Cinelândia. De lá, os manifestantes farão passeata até o próprio Casarão do Firmino.
As vítimas, identificadas como Lua, Zuri e Anny, foram agredidas com socos, chutes e empurrões por cerca de 30 homens na porta do estabelecimento, na madrugada do dia 19 de janeiro. Nesse mesmo local, na semana anterior, outra mulher negra havia levado uma garrafada na cabeça e precisou passar por uma cirurgia de reparação. Como se a situação já não fosse absurda o suficiente, entre os agressores estavam seguranças da própria casa, que ficavam repetindo discursos transfóbicos enquanto as agressões eram cometidas, além de ambulantes e um motorista de aplicativo. Os criminosos ainda incentivaram mais golpes sob o argumento de que as vítimas “não eram mulheres de verdade”. O episódio só não terminou em tragédia maior graças a intervenção corajosa de outros frequentadores, que testemunharam o crime e ajudaram a retirar as vítimas do local. Durante o linchamento, todos os pertences das mulheres, como bolsas e celulares, foram roubados pelos agressores.
Os organizadores definiram 5 demandas urgentes ao poder público: o fim da violência contra a população LGBTIA+ na Lapa; a rigorosa punição de todos os envolvidos no crime; a responsabilização cível do estabelecimento, com base na Lei Estadual Antidiscriminação em Estabelecimentos Comerciais; a exigência de um sistema de monitoramento por câmeras e implementação de protocolos de segurança nos estabelecimentos da Lapa; canais seguros para denúncia e acolhimento de violências LGBTfóbicas e machistas; e a mudança no comando da 5ª Delegacia de Polícia Civil, devido ao que afirmaram ser ‘comprovada incapacidade de investigar e processar absolutamente todos os crimes conhecidos entre ativistas LGBTIA+ na região’.
Mesmo após a repercussão do caso, o Casarão do Firmino não disponibilizou imagens de suas câmeras; não mencionou a necessidade de afastar os funcionários envolvidos no crime; nem reconheceu qualquer responsabilidade em evitar as violências transfóbicas e racistas no estabelecimento. Inicialmente, o perfil oficial chegou a declarar que o episódio era “um boato”. Depois da pressão da mídia, a casa tentou justificar as agressões culpabilizando as vítimas.
Um lugar de fomento de cultura, no qual se pretende celebrar a vida e a alegria, deveria acolher e respeitar todas as pessoas e não agir com truculência e promover o preconceito. A região da Lapa costumava ser um reduto cultural para a diversidade, mas nas últimas semanas houve dezenas de casos de violência contra pessoas LGBTIA+, sem responsabilização dos culpados. O Brasil é o país que mais mata a população trans e travesti no mundo. Não podemos admitir atitudes bárbaras em um Estado Democrático de Direito. A impunidade não pode prevalecer. É por nossas vidas!
SERVIÇO:
Ato “Levante contra a LGBTIA+fobia”
Sexta-feira, 26/01
Às 19h Concentração e passeata: Cinelândia/Lapa/Praça Tiradentes