Tendo passado por uma grande restauração e se tornado referência de música e fé católica com suas Missas Solenes com Coral aos sábados e domingos, a Igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores, localizada na Rua do Ouvidor, nº 35, no Centro Histórico, voltou mesmo a oferecer a cariocas e fluminenses um tradicional e bem elaborado calendário de serviços religiosos. Aos poucos, a joia católica, que ficou quase quatro anos fechada, retoma os ofícios das tradições mais piedosas do catolicismo. No dia 14 de fevereiro agora, após o carnaval, voltará a ser celebrada no templo a Missa de Cinzas, em latim, com a imposição e bênção das cinzas. O padre vai marcar os fiéis com as cinzas durante a bênção, como manda a tradição católica para a celebração da quarta-feira de cinzas, que encerra o carnaval.
A celebração, com toda a pompa e objetos litúrgicos de mais de 300 anos de idade, ocorrerá ao meio-dia de quarta-feira. “Somos a primeira organização formal de comerciantes do país, fundada em 1743. E a quarta-feira de cinzas, além de seu significado católico, abre formalmente o ano comercial no país: é a partir deste dia que o ano de fato começa pros comerciantes”, brinca Cláudio André de Castro, provedor da Irmandade de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores, dona da igrejinha. A Missa será rezada pelo Padre Vitor Pimentel Pereira, em língua latina e “versus Deum”, ou seja, o padre na maior parte da missa olha na direção do altar, e não da porta de entrada da igreja, agindo como um líder dos fiéis ali presentes perante o crucifixo que representa Jesus Cristo. Pra quem gosta de incenso, as missas na irmandade são um festival de odores e fumaça, com o turíbulo tradicional em prata balançando na mão dos coroinhas e dos padres sem timidez.
O órgão da igreja, que data de 1873, também foi meticulosamente restaurado. O instrumento será usado durante as celebrações, na quais serão apresentados concertos de música barroca sob a regência do prestigiado maestro Marcos Paulo. Os fiéis que comparecerem à Missa, que começará às 12h, poderão depositar em uma pequena urna perto do altar todos os seus pedidos, que serão queimados após a missa de Nossa Senhora das Graças, todos os dias 27. O ritual é praticado há 100 anos no templo dedicado à padroeira dos comerciantes.
O próprio provedor deu em comodato mais de uma centena de objetos sacros oitocentistas para voltar a “equipar” o templo, depois de anos sem uso. O mais recente foi a Urna da Reposição do Santíssimo (foto), em madeira revestida de ouro brunhido, que será usada durante a Semana Santa, que terá uma programação de fé de fazer inveja às confrarias espanholas: a Irmandade dos Mercadores vai promover desde o tradicional lava-pés à procissão de Ramos, passando por um esplendoroso domingo de Páscoa com direito a Coral é Grande Orquestra em pleno fim de semana de um Centro que se revitaliza. “Já compramos até as matracas tradicionais”, diz Sylvia Assumpção, da secretaria da Irmandade.
A igreja, que é tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), foi reaberta graças ao empenho do provedor, empresário do ramo imobiliário que foi nomeado pela Arquidiocese do Rio de Janeiro, responsável pela Irmandade com a missão de trazer vida à igreja, aberta em 1750 e que sucedeu um oratório dedicado à Nossa Senhora da Lapa, diante do qual os comerciantes locais se reuniam para rezar. A retomada das celebrações como manda o calendário tradicional católico é o objetivo maior da irmandade, que “valoriza sempre as devoções populares e os sacramentais”, diz Castro.
A Igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores tem em suas laterais as imagens dos avós de Jesus Cristo, os santos São Joaquim e Santana – as imagens são consideradas as mais belas da cidade. A celebração da Missa dos avós, além de tradicional, representa uma belíssima homenagem aos valores tradicionais da família, representada na figura de São Joaquim e Santana. Outra imagem na Igreja que representa uma grande devoção é a de Santo Expedito, assim como a de Nossa Senhora das Graças.
Reaberta em 10 de junho do ano passado, na Igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores passou a ser oficiada a missa em latim aos sábados e domingos, com a belíssima participação do Astorga Coral e Orquestra, da cantora Juliana Sucupira, que conduz o belíssimo espetáculo dos finais de semana, sempre lotado por cariocas e fluminenses de todas as idades.
Para reabrir o templo, a irmandade se dedicou a uma criteriosa pesquisa histórica sobre a edificação e as práticas religiosas e culturais ali desenvolvidas ao longo do tempo – sempre com um olhar às devoções populares, como ocorreu com a concorrida Missa em que foi distribuída a bênção do fiz, no final do ano, ou a bênção das gargantas de São Brás. Uma das tradições católicas é o toque dos sinos das igrejas de hora em hora. A tradição foi retomada por Castro, que providenciou também o restauro do sino da igreja, e conseguiu uma doadora que financiou o restauro da grande clarabóia. Outra joia histórica, presente no templo, é o magnífico relógio da fachada da igreja, que estava parado desde 1922 mas agora voltou a dar as horas com o patrocínio de uma das empresas do provedor.
A administração da igreja guarda uma bala de canhão, que atingiu a sua torre, em 1893, durante a Revolta da Armada. Com o choque, a imagem de Nossa Senhora da Fé caiu de uma altura de 25 metros, tendo quebrado apenas parte de dedos da mão, o que foi considerado um milagre, na época. Atualmente, as imagens de Nossa Senhora da Fé e a que recebia orações dos mercadores, antes mesmo da construção da igreja, estão preservadas e guardadas em uma sala no interior do templo. Outra relíquia pertencente à igreja é um medalhão com a coroação da Virgem Maria, todo trabalhado em mármore e localizado na parte superior da fachada da edificação. A obra foi encontrada, no século XIX, durante escavações no terreno da igreja.
Programação:
Missa das Cinzas
Celebrante: Padre Vitor Pimentel Pereira
Quarta-Feira, dia 14/2 às 12h
Rua do Ouvidor, 35 – esquina com Travessa do Comércio
De segunda à sexta-feira, das 9h às 18h, são realizadas visitações turísticas da nave e altares laterais do templo. Não há serviço nem visitação nos feriados. Os interessados em conhecer a sacristia e o átrio de Nossa Senhora da Fé, podem comparecer à igreja nos dias úteis, das 9h às 14h, aos sábados de 9h às 17h, e aos domingos das 9h às 16h. Não há visitação nos horários das missas, que são sempre ao meio-dia.