Em coluna anterior, foram apresentadas as escolas públicas do Distrito Federal, projetadas e construídas entre 1926 e 1930, durante a gestão municipal de Antônio Prado Júnior e o trabalho de Fernando de Azevedo com Diretor da Instrução Pública.
Com a Revolução de 1930, Getúlio Vargas assumiu a presidência da República. A prefeitura do Distrito Federal foi entregue a Pedro Ernesto, que nomeou o educador Anísio Teixeira, em outubro de 1931, para assumir o cargo que fora de Azevedo.
Teixeira era defensor da adoção de um sistema educacional público, obrigatório e laico em todos os níveis e durante sua gestão foram construídas diversas escolas municipais, distribuídas por todos os bairros da cidade.
Considerando os princípios ideológicos adotados por Vargas em sua primeira passagem pela presidência, quando havia uma simpatia declarada pelos modelos nazifascistas em ascensão na Europa, é provável que o repertório neocolonial utilizado nas escolas anteriores fosse mais adequado como representação.
No entanto, tratava-se de um modelo representativo de um governo deposto, daí a necessidade simbólica de uma outra linguagem formal que pudesse representar um ambiente novo para o Estado Novo que se avizinhava.
Ao assumir a Diretoria Geral de Instrução Pública do Distrito Federal, Anísio Teixeira se deparou com sérios problemas relativos à educação pública na capital federal, apesar das propostas inovadoras de seu antecessor. Apenas os poucos edifícios construídos na gestão anterior, recentemente inaugurados, se encontravam em bom estado para receber os alunos. Aqueles mais antigos, assim como os alugados se apresentavam inadequados para pleno funcionamento. Além disso, cerca de 55 % das crianças estavam fora do ensino primário.
Imediatamente, Anísio Teixeira iniciou um programa para construção de novas escolas, definindo cinco modelos arquitetônicos, conforme alguns estudos realizados no exterior.
Conforme artigo publicado na Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, de 1962, Teixeira afirmou que “a escola já não podia ser a escola dominante de instrução de antigamente, mas fazer as vezes da casa, da família, da classe social e, por fim, da escola propriamente dita, oferecendo à criança oportunidades completas de vida, compreendendo atividades de estudos, de trabalho, de vida social e de recreação e jogos”.
A principal inovação em relação às escolas anteriores era a implantação da “escola platoon”, constituída de salas de aula convencionais associadas a salas especiais para música, atividades recreativas, leitura e literatura, ciências, desenho e artes industriais, além de auditório, ampliando o programa desenvolvido por Fernando de Azevedo na década de 1920. Assim como aquela proposta, as escolas “platoon” também eram providas de ambientes para atividades administrativas, gabinete médico-dentário, sanitários e biblioteca. Não havia referência à implantação em terrenos arborizados, a presença de pomares e quadras cobertas com seus vestiários.
Neste novo modelo, projetado pelo arquiteto Enéas Silva, os alunos se deslocariam em “pelotões” para as salas especiais nos horários definidos pelacoordenação.
Em relação aos aspectos formais, os aspectos relacionados à tradição colonial, como defendia José Marianno Filho com a anuência de Fernando de Azevedo, forma abandonados definitivamente, substituído por um partido geometrizado, influenciado pelo art-decó e pelas obras do arquiteto francês Mallet-Stevens, cujas obras chegavam ao Brasil através de revistas estrangeiras.
Em comparação com o partido adotado anteriormente, as escolas da década de 1930 apresentavam prejuízos principalmente em relação ao conforto ambiental, pois utilizavam grandes panos de vidro em seus basculantes e a laje plana como cobertura, provocando excesso de luminosidade e aquecimento.
Indignado com as novas propostas, Marianno Filho escreveu alguns artigos apresentando os problemas dos edifícios, lembrando que “em suas escolas, isso não acontecia”, além de apelidá-las de cascos de navio, sem nenhuma relação com a realidade brasileira.
De fato, ainda que apresentassem inovações no programa e na concepção de planta, os aspectos negativos indicados por Marianno Filho eram facilmente percebidos. Em pouco tempo, algumas escolas acrescentaram telhados de barro e brises nas janelas, procurando minimizar problemas ambientais.
Ainda assim, a iniciativa de Anísio Teixeira foi meritória, principalmente pelo aumento significativo no número de unidades escolares distribuídas pela cidade, inclusive por bairros mais pobres que não dispunham de tal equipamento. A maioria das escolas construídas durante sua gestão recebeu nomes de países ou estados brasileiros, valorizando as questões do panamericanismo ou fraternidade entre os povos, acompanhando a iniciativa de Fernando de Azevedo nos edifícios neocoloniais.
O Rio de Janeiro aguardaria por quase três décadas, com raras exceções, para assistir a um novo programa que procurasse integrar modelo escolar e educação, adotando uma construção racional sem abdicar do conforto ambiental.