Uma das mais belas construções da história do Rio de Janeiro não existe mais. Fisicamente falando, pois o Palácio Monroe ainda vive na memória afetiva de boa parte da população mais velha da Cidade Maravilhosa.
O Palácio Monroe foi projetado pelo arquiteto e engenheiro militar Coronel Francisco Marcelino de Sousa Aguiar, no ano 1904. A ideia era fazer uma estrutura metálica capaz de ser totalmente desmontada que serviria de pavilhão do Brasil na Exposição Universal de 1904, ocorrida em Saint Louis, nos Estados Unidos.
“A estrutura fez muito sucesso na Exposição Universal. A impressa norte-americana elogiou bastante a arquitetura e a forma como o palácio foi erguido, chegou a ser chamado de ‘a joia da coroa da feira’” conta a arquiteta e pesquisadora Camila Braga.
Quando a Exposição acabou, a estrutura metálica do Monroe foi transportada de navio cargueiro de volta para o Brasil. Dois anos depois, em 1906, o palácio – que nessa época se chamava Saint-Louis – foi remontado na região da Cinelândia, na antiga Avenida Central (atual Rio Branco), para sediar a Terceira Conferência Pan-Americana.
Durante essa remontagem, o influente Barão do Rio Branco, apoiado na sugestão do intelectual Joaquim Nabuco, propôs que o Palácio mudasse de nome e passasse a ser chamado de Monroe – em homenagem a James Monroe, presidente dos Estados Unidos, criador do Pan-Americanismo. Ideia que foi prontamente aceita.
Quando a Conferência Pan-Americana terminou, o Palácio Monroe não foi desmontado e passou a ajudar na construção do Brasil. Entre os anos 1914 e 1922, o Monroe foi sede da Câmara dos Deputados, enquanto o Palácio Tiradentes ficava pronto. Quando as obras do Tiradentes tiveram fim, os deputados foram para lá e o Senado Federal passou a utilizar o Monroe como sua casa.
O casamento entre o Senado brasileiro e o Monroe sofreu um baque durante a ditadura do Estado Novo (1937-1945), com Getúlio Vargas. Isso porque a Casa foi fechada nesse período. Quando a Era Vargas acabou, o Palácio abrigou o Tribunal Superior Eleitoral, entre 1945 e 1946.
Depois disso, o Senado voltou a morar no Monroe até o ano 1960. Com a mudança do Distrito Federal para Brasília, o Palácio passou a exercer apenas a função de escritório de representação do Senado no Rio de Janeiro.
Historicamente a serviço da democracia, o Palácio Monroe foi transformado em sede do Estado-Maior das Forças Armadas (EMFA) após o golpe de 1964, que levou o Brasil a uma ditadura militar.
Em meados dos anos 1970, devido às obras do metrô no centro do Rio e a outros motivos, Palácio Monroe passou a ter seus dias contados. Muitas campanhas foram feitas para que o Monroe fosse demolido.
“Entre essas campanhas estava uma do jornal O Globo. Na época, Roberto Marinho alegou que o Palácio não tinha mais utilidade, por tanto era coerente que fosse demolido. Além do jornal, o arquiteto modernista Lúcio Costa também era a favor de pôr o Monroe no chão. Esses tiveram apoio do então presidente militar Ernesto Geisel, que também não era favorável ao Palácio. Foram escolhas, opiniões da época, não cabe julgamento de quem está certo ou errado agora, eram outros tempos” frisa o historiador Maurício Santos.
Em março de 1976, o Palácio Monroe foi demolido. No terreno desocupado foi construída uma praça com um chafariz histórico, adquirido pelo governo imperial no fim do século XIX.
“É uma história de final triste, eu diria quase que trágico. Um joia da arquitetura ter terminado assim: desmontada e suas peças em leilão público” pontua Florian Madruga, diretor-executivo da gráfica do Senado.
“O Monroe era lindo. Ficou essa praça feia no lugar. Gostava de passar por lá à noite para ficar admirando a construção” lembra José Carlos, que trabalhou como vigia noturno em diversos prédios no centro do Rio entre os anos 1960 e 1970.
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