A legendária fabricante suíça de relógios de luxo, Patek Philippe, tem uma longa, criativa e requintada história com a cidade do Rio de Janeiro, especialmente com a joalheria e relojoaria carioca Gondolo & Labouriau, que no século XIX, estava situada na Rua da Quitanda, nº 81, no Centro da cidade. Gondolo era a mais chique, refinada e importante joalheria do Brasil do século XIX até os anos 30.
A relação entre as empresas data de novembro de 1872, quando a Patek enviou à casa carioca um belo relógio de bolso, ainda com caixa em prata. Em 1902, tem início a criação de uma verdadeira lenda da relojoaria internacional, com a encomenda especial dos cariocas da Gondolo & Labouriau à relojoaria suíça, para o desenvolvimento de uma peça que fosse mais resistente à umidade tropical. Pela primeira e única vez, a mais prestigiosa marca de relógios do mundo, produziria uma linha de relógios exclusivamente pra nós, brasileiros.
O primeiro novo relógio, criado exclusivamente para enfrentar as condições brasileiras, era de bolso, mais robusto e contava com o trem de rodas em ouro. A joia foi batizada como Chronometro Gondolo e as suas primeira unidades começaram a chegar na cidade no final de 1902. Ele podia ser totalmente de ouro maciço, e cada unidade cuidadosamente produzida à mão e numerada.
A Gondolo & Labouriau vendeu a linha se relógios de bolso e de pulso produzidos pela empresa suíça exclusivamente para o Brasil, de 1902 a 1927, quando elaborou uma excelente e engenhosa estratégia de marketing para comercializar o Chronometro Gondolo.
A joalheria e relojoaria carioca passou a oferecer aos seus clientes uma oportunidade de comprar cada relógio através de um interessante plano de pagamento, no qual o valor total da joia – 790 francos suíços à época – poderia ser pago parceladamente em, no máximo, 79 semanas, a dez francos suíços por semana. Ali nasciam os parcelamentos fixos oferecidos pelo comércio hoje em dia. O cliente ainda poderia fazer parte de um clube fechado de 180 membros, que teriam acesso a uma série de vantagens exclusivas, como passeios, piqueniques e outros tipos de confraternização, muito badalados na época.
Esse clube de clientes da joalheria realizava ainda um outra modalidade de incentivo à participação dos seus membros – uma espécie de loteria semanal -, o “Plano do Clube Patek Philippe System”. De execução complexa, o Plano tinha dois propósitos: parcelar o valor do Chronometro Gondolo e contornar a recente proibição de jogo no Brasil. Cada turma de membros se chamava “Gangue Gondolo” ou “Gondolo Gang”. Segundo o site da casa de leilões paulista D’Argent, “Ser sócio do clube no início do século 20 era a expressão máxima de ter ‘chegado’ à sociedade brasileira. A Gangue Gondolo ficou famosa pelos chapéus de palha Patek Philippe dos membros, passeios luxuosos e obsessão compartilhada de possuir os melhores relógios já feitos.”
Pelas regras do “Plano do Clube Patek Philippe System”, cada comprador de um Chronometro Gondolo ganhava um cartão de subscrição numerado de 1 a 180. A cada semana, de um total de 79, um comprador diferente era contemplado com o seu relógio Patek Phillipe.
Pelas regras do sorteio da Gondolo & Labouriau, o primeiro contemplado pagaria somente 10 francos suíços pelo relógio, o segundo 20, assim por diante, até o 78º, que teria pago 780 francos suíços. O 79º membro sorteado, na 79ª semana, já teria pago o valor total do relógio. Ele, porém, era reembolsado dos 790 francos pela casa. Os participantes restantes receberiam, à mesma altura, os Patek Philippe que tinham pago na totalidade, mas pelo preço cheio.
Todas esse complexo cálculo de parcelamento e premiação gerava uma grande expectativa nos participantes do clube, que ficavam ansiosos para colocar o seu Chronometro Gondolo de ouro maciço no bolso ou no pulso. A plano elaborado pela Gondolo & Labouriau foi tão genial, que, em 1907, já havia dezenas de clubes semelhantes espalhados pelo Rio de Janeiro e, em outras cidades do Brasil. Os relógios eram acompanhados de luxuoso estojo e de uma corrente também de ouro maciço: cerca de 120 gramas de ouro no total, além de um mostrador “eterno” feito em louça da melhor qualidade: ele não mancha.
O relógio Chronometro Gondolo, por sua vez, não ficou perdido ou esquecido nas memórias dos séculos XIX e XX. Nove outros modelos, de tamanhos variados, foram fabricados e batizados com o mesmo nome, conforme registros oficiais da Patek Philippe. Alguns deles tinham a tal caixa em ouro maciço, com uma janela também em ouro que, aberta, mostrava a assinatura da relojoaria carioca também em ouro; além de ter ponteiros das horas, minutos e segundos. Os mais complexos podiam contar ainda com cronógrafo, pulsômetro e até mesmo um mostrador colorido com 24 horas! A Patek Philippe criou também relógios de pulso, femininos e masculinos, com caixas no estilo “Art Noveau”.
Em 2002, a revista da Patek Philippe, na ocasião do centenário do Chronometros Gondolo, enviou a jornalista Vicky Shorr ao Rio de Janeiro, para descobrir os remanescentes dessa obra prima da relojoaria internacional, mas ela não conseguiu encontrar nenhum modelo sequer. Quanto à prestigiosa casa Gondolo & Labouriau – a H Stern da época – ela também já não mais existia, infelizmente.
Nos antiquários e leilões brasileiros, um Chronometro Gondolo de ouro, mais simples, chega a valer R$ 50.000. Há modelos mais complicados à venda por impressionantes 180 mil reais. Para um relógio feito exclusivamenye para cariocas, e que nasceu a 120 anos, é uma bela história de sucesso.
Hoje, a Gondolo & Labouriau é uma memória distante. Ela importou seu último Patek Philippe em 1927 e esta potência do varejista do passado está há muito fora do mercado. Mas seu nome continua vivo: sempre que um relógio Chronometro Gondolo surge em um leilão, os conhecedores de relógios competem para ter um desses belos exemplos da relojoaria suíça com uma história sul-americana – e carioca – única.
Meu avo tinha 2. Um em ouro com corrente tb em ouro e outro prata.
Tem ex-presidente que adora uma joia, um relógio. Capaz ate de pegar esse pra ele também kkkk
Tem presidente também.
Tem um ex-presidiário que recebeu um relógio do presidente da França, Jacques Chirac, no valor de R$80 mil, e não declarou no patrimônio da União, como fez esse ex-presidente que vc citou e que nunca ficou com jóia nenhuma, o relógio que ele recebeu foi declarado e liberado pelo GSI para venda, ao contrário do seu ladrão de estimação, que surripiou na mão grande.
O analfa foi filmado roubando caneta,imagina o q tinha naqueles containers q ele surrupiou e foi obrigado a devolver,muuuito a contragosto( deve ter colocado a culpa na falecida mudinha)!!!
Amei essa história!!!!
Muito interessante saber que aí surgiu um tipo de parcelamento e um consórcio!!
Parabéns pela reportagem!!