Rio de Janeiro, a Rede C40 de Cidades Resilientes

Precisamos falar um pouco mais das cidades brasileiras e de como estão se preparando para os impactos das mudanças climáticas. Especialmente o Rio de Janeiro

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Pontal do Recreio com o Terreirão • Foto: Rafa Pereira, Diário do Rio

Na última semana, circularam na internet imagens de vídeo mostrando a formação de uma grande tempestade na cidade de Dubai, com cenas que parecem efeitos especiais de filmes de terror ou ficção científica (link abaixo). Estes são eventos reais de fenômenos meteorológicos que apresentam volumes e níveis acima da normalidade, com significativos impactos na infraestrutura urbana.

Muitas cidades ao redor do mundo têm registrado esses fenômenos climáticos extremos. Além de Dubai, foram observadas chuvas torrenciais na China, derretimento de neve em regiões do Himalaia, tempestades no norte dos EUA e o inverno mais “quente” da Europa, segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM). O Rio de Janeiro, neste verão, registrou as temperaturas mais altas da série histórica, com sensação térmica de até 59°C, além de alertas de tempestades extraordinárias no último mês, com indicativos da Defesa Civil para que as pessoas ficassem em casa. Tudo isso é um sinal de que já entramos em um novo período das mudanças climáticas, com impactos imediatos na vida da população.

As consequências da emergência climática se manifestam em todos os aspectos da vida humana, mas o reflexo mais intenso está nas cidades, onde se concentram as pessoas, o consumo de energia e alimentos, além de serem centros de geração de resíduos e poluição. É um tema multidisciplinar que deve ser abordado não apenas pelo debate ambiental, mas por todos os aspectos da vida urbana, como economia, infraestrutura, investimentos públicos, saúde e, certamente, eleições e política.

Neste sentido, é muito oportuno aprofundar a discussão sobre cidades resilientes e os mecanismos para alocar recursos e bons projetos. O conceito de cidades resilientes considera aquelas que estão atentas a estudos e projetos capazes de resistir e se adaptar de forma eficaz a desafios como desastres naturais, crises econômicas e mudanças climáticas, entre outros. O termo foi popularizado pela campanha “Cidades Resilientes”, lançada pelo Escritório das Nações Unidas para a Redução do Risco de Desastres (UNDRR) em 2010.

Estamos aqui falando de como as cidades brasileiras estão implementando projetos de adaptação e mitigação diante das mudanças climáticas e dos impactos decorrentes de eventos extremos. Podemos, de forma simplista, classificar esses projetos em cinco grandes grupos de atenção:

  1. Proteção da População: Projetos de adaptação podem proteger as comunidades vulneráveis, como pessoas de baixa renda que vivem em áreas de risco, garantindo sua segurança e reduzindo o impacto negativo dos desastres naturais.
  2. Preservação do Meio Ambiente: Ações que visam mitigar as mudanças climáticas, como a redução das emissões de gases de efeito estufa e o aumento da resiliência dos ecossistemas locais, contribuem para a preservação do meio ambiente e da biodiversidade.
  3. Desenvolvimento Sustentável: Projetos de adaptação e mitigação podem promover o desenvolvimento sustentável, criando oportunidades econômicas, melhorando a qualidade de vida da população e reduzindo a desigualdade social.
  4. Resposta aos Impactos Econômicos: Eventos climáticos extremos têm impactos econômicos significativos, afetando a agricultura, a infraestrutura, o turismo e outros setores. Projetos de adaptação podem reduzir esses impactos e promover a resiliência econômica.

A cidade do Rio de Janeiro, onde o urbano e a natureza se fundem, mas é preciso gestão pública e integridade para transformá-la num habitat mais justo e inclusivo, considerando a transição climática.

E como podemos tirar esses conceitos da teoria e dos slogans vazios das campanhas eleitorais para de fato colocá-los na agenda pública dos atuais e futuros prefeitos? É preciso ter bons projetos, financiamento e mecanismos de acompanhamento e avaliação de resultados. Sabemos que muitas vezes as políticas públicas acabam se perdendo, quando sequestradas por interesses ideológicos ou se os projetos são ruins na sua concepção. Portanto, é preciso trabalhar desde a formatação, uma agenda de projetos de alto impacto e com padrões de governança, critérios técnicos e legais compatíveis com sua instalação e, principalmente, que sejam economicamente viáveis e nesse ponto consideramos a financiabilidade.

Uma boa referência neste sentido é a rede C40, que reúne grandes cidades do mundo comprometidas com a luta contra as mudanças climáticas. Trata-se de uma rede de grandes cidades ao redor do mundo, nascida em 2005 a partir da experiência de Londres, e que visa promover infraestrutura, eficiência energética e a proteção da sociedade com políticas de desenvolvimento. O lema é “enquanto as nações falam, as cidades agem”. Outras cidades globais como Buenos Aires, Cidade do México, Nova York, Toronto e Vancouver nas Américas; Berlim, Paris, Copenhague, Barcelona e Varsóvia entre as europeias; e na África e Ásia podemos citar Tóquio, Xangai, Mumbai, Lagos, Istambul, Nairobi e Addis Abeba. No Brasil estão presentes Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Salvador. Vale destacar que já são aproximadamente 100 grandes cidades aderentes ao programa C40.

O tema das cidades e mudanças climáticas é fundamental para nosso futuro global e especialmente para os residentes no Rio de Janeiro, uma cidade com forte impacto econômico e social de sua localização litorânea e tropical. Vamos desenvolver em torno deste tema uma série de discussões, buscando trazer ao debate as iniciativas oportunas para a cidade, seja de projetos, financiamentos e requalificação do território. São agendas que o futuro prefeito deve colocar como pauta prioritária, e considerando temas que devem ser amplamente debatidos na esfera política, nas instituições e por toda a população interessada. Segundo a ONU, as cidades representam apenas 3% do território terrestre, e que nos próximos 15 anos será ocupado por 70% da população mundial. Portanto, é o espaço prioritário para investimentos de serviços, infraestrutura e das soluções para uma vida social mais digna para todos. E o carioca tem neste debate um papel fundamental. A cidade maravilhosa, que também é a capital oculta do país, merece bons projetos. Nos próximos artigos, vamos trazer alguns caminhos e aguardamos a participação dos leitores e especialistas.

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