A expressão “Maria vai com as outras” é conhecida em todo o Brasil como uma forma de descrever pessoas que seguem os outros sem opinião própria. Mas poucos sabem que essa expressão popular nasceu no bairro do Cosme Velho, na Zona Sul do Rio, no século 19. Essa descoberta me surpreendeu durante uma pesquisa, há algum tempo, para meu TCC sobre a urbanização do antigo Vale do Rio Carioca, especialmente com a leitura do livro de Cícero Sandromini, que detalha a história desse bairro pitoresco.
O Rio Carioca, com suas águas que eram consideradas curativas, atraiu atenção desde os tempos coloniais. Atualmente, boa parte do córrego é subterrâneo, sendo visto apenas no trecho que cruza o Largo do Boticário. Lendas indígenas afirmavam que suas águas tinham propriedades medicinais, e essa reputação não passou despercebida pelos médicos da corte. Entre os mais ilustres frequentadores da fonte estava a rainha Dona Maria I, conhecida como “A Louca”. A rainha, impressionada com as supostas propriedades curativas, passou a visitar regularmente a fonte, sempre acompanhada de suas damas de companhia.
E lá ia a turma, que subia o vale, rumo à encosta do Morro do Corcovado. Foi essa rotina que deu origem à expressão “Maria vai com as outras”. A vizinhança fofoqueira do Cosme Velho, observando a procissão liderada pela rainha e seguida pelas damas da corte, começou a comentar como que a Maria vai com as outras. Essa expressão, inicialmente usada de maneira local, acabou se espalhando e se tornou parte do vocabulário popular brasileiro.
A fonte que Dona Maria I frequentava, conhecida como a Bica da Rainha, ainda está de pé no Cosme Velho. Após a morte da rainha em 1816, a bica continuou a ser frequentada por figuras ilustres, incluindo Carlota Joaquina, esposa de Dom João VI. Dizem que Carlota ia até a fonte para “refrescar os ardores do seu temperamento”.
Hoje, a Bica da Rainha é um ponto turístico importante no Cosme Velho, um bairro que, juntamente com Laranjeiras, na minha opinião, é um dos mais bucólicos da cidade. Uma verdadeira viagem pelo Rio antigo e aristocrático. O monumento foi tombado pelo IPHAN em 1938 e recentemente passou por uma restauração para conservar suas estruturas e proteger contra vandalismo. Localizada ao lado da Casa de Candido Portinari e próxima ao Largo do Boticário, ao Solar dos Abacaxis e à estação do Bondinho do Corcovado, a Bica da Rainha é parte integral do corredor histórico da Rua do Cosme Velho. Vale a visita!