Ainda me lembro de quando tinha 8 ou 9 anos e perguntei para minha mãe quem era aquele senhor sentado numa pedra, escrevendo com uma pena. Esse momento marcou minha primeira curiosidade sobre o sincretismo. Na época, não entendi bem porque São Jerônimo não é Xangô e ao mesmo tempo é, mas compreendi o tamanho da fé que minha mãe cultua até hoje.
O tempo passou, abracei a Umbanda e estudei o sincretismo religioso. O ato foi uma resistência dos nossos ancestrais para que continuassem a celebrar os Orixás, enganando os racistas que os aprisionaram. Associando elementos e histórias, aproveitando as datas, a nossa fé venceu.
E as festas de junho reúnem boa parte das tradições da Umbanda e do Candomblé do Brasil. Louvamos Santo Antônio no dia 13, sincretizado com Exu, e partimos para São João, 24, e encerramos com São Pedro, 29.
Não dá para falar de Festa Junina sem lembrar da fogueira. Isso acontece porque há um tempo atrás, os católicos honravam alguns santos com o ato de acender uma fogueira. São João Batista era um deles, o que acontecia no mês de junho. Já Xangô, Orixá da justiça, controla o elemento fogo.
O fogo do Orixá e a fogueira de São João têm o mesmo objetivo: purificação. Ambos transformam o que é mau em algo bom. Um elemento, um poder de transformar. Duas divindades, uma crença: mudança.
“Nossa ancestralidade, através do sincretismo, permitiu que nossos antepassados conquistassem um espaço para celebrar suas próprias divindades. As pessoas abraçaram essa tradição, não apenas pelas comidas, mas também pelo momento de louvar suas divindades. Na umbanda, por exemplo, louvamos Xangô e pedimos ao pai da justiça que queime as maldades e injustiças. Essa é uma data em que pedimos por nosso crescimento e justiça, pois acreditamos na verdade. Para nós, Xangô é sinônimo de verdade”, afirmou o pai de santo de Umbanda Ruy Leite, dirigente do Centro Espírita Irmãos de Fé.
As tradicionais quadrilhas formam pares bem diversos. Quantos são de terreiro? Quais pais das crianças, quando infantis, são católicos? E os ateus? Todos juntos pela dança e pela festa. Assim que devemos agir, independentemente de nossas crenças. Juntos pela vida. Fogo é vida.