A área do Gasômetro, na Zona Portuária do Rio, está no centro das atenções por causa da desapropriação do terreno de 88 mil metros quadrados pela Prefeitura, para que o Flamengo construa um estádio no local.
Há evidentes aspectos eleitorais na decisão do prefeito (inclusive com o anúncio feito junto com o vice de seus sonhos). Aguarda-se também como serão enfrentados os prováveis transtornos que o estádio deve causar na região – afetada por trânsito intensíssimo. Mas isso merece um outro debate, bem detalhado.
O que quero lembrar aqui, como professor de História e cidadão, é de quando o Gasômetro quase se tornou parte do que poderia ter sido uma das maiores tragédias da história brasileira.
Durante a ditadura empresarial-militar, os militares criaram um plano, arquitetado pelo brigadeiro João Paulo Burnier, de explodir o Gasômetro, que já chegou a ser o maior do mundo, com capacidade para fornecer 180 mil metros cúbicos de gás por dia.
O objetivo – como no malogrado caso do Riocentro – era culpar as organizações de esquerda pelo atentado, e aumentar a repressão contra os movimentos de resistência ao regime.
Burnier ordenou que o então capitão Sérgio Ribeiro Miranda de Carvalho, conhecido como Sérgio “Macaco”, coordenador do grupo de paraquedistas de salvamento e resgate – Para-Sar – efetuasse a ação.
Sérgio, com muita coragem, se recusou a cumprir as ordens do comandante de extrema direita e denunciou o caso à imprensa.
Foi punido por insubordinação e, com o AI-5, compulsoriamente reformado.
Não fosse pelo capitão Sérgio Macaco, milhares de pessoas teriam sido assassinadas.
Apesar disso, só em 1997, três anos após seu falecimento, o militar finalmente teve a sua patente reestabelecida. E foi, inclusive, promovido a brigadeiro.
Sua família, então, foi indenizada pelo período que ele deixou de receber o soldo.
Em 1994, por ocasião de sua morte, quando exercia o mandato de vereador, elaborei um Projeto de Lei, depois transformado em decreto pelo prefeito, que deu o nome de Sergio “Macaco” ao antigo viaduto do Gasômetro. Uma justa homenagem a um craque humanista e patriota de verdade, que amou o seu país e o seu povo, e não se submeteu aos chefes fascistóides!