Em 1969, bares gays em Manhattan, Nova York, eram frequentemente invadidos por policiais, que agrediam funcionários e clientes. Na madrugada de 28 de junho, no bar Stonewall Inn, os clientes resistiram à violência policial, o que rendeu dias de rebelião. Conhecida como a Revolta de Stonewall, essa resistência se tornou um marco para o movimento pelos direitos civis LGBTQIAPN+.
O preconceito está longe de terminar. Quando líderes religiosos espalham discursos de ódio contra a comunidade, a violência é interpretada como um ato divino para quem só precisa de um empurrão para pôr em prática suas intolerâncias. Recentemente, Leonardo Rodrigues Nunes, foi assassinado, em São Paulo, após marcar um encontro por aplicativo de relacionamento gay.
“Ele morreu porque ele era gay. A gente está vivendo em um mundo de ódio. Mas é um ódio que é direcionado. Você não vê ódio contra héteros, você não vê ódio contra brancos ou contra ricos. Você vê ódio contra preto, pobre e contra gays”, afirma o pai da vítima.
As religiões afro- brasileiras são as mais perseguidas e tem razão para isso. Os terreiros abraçam quem a sociedade quer excluir. As divindades são negras, as mulheres são líderes, assim como a comunidade LGBTQIAPN+ senta na cadeira do sacerdócio, além de ocupar outros cargos de liderança nos barracões.
Como um homem gay e macumbeiro, posso dizer que tenho orgulho. Muito orgulho. Eu tive sorte de ser abraçado pelos meus pais, mas fazer parte de uma religião com tanta representatividade trouxe um sentimento de aceitação mais amplo, como a consciência de que tenho o meu lugar no mundo. Eu me preocupava se os meus colegas da escola gostariam de mim e até mesmo se teria amigos na faculdade, mas ter o meu lugar no axé trouxe segurança e coragem para enfrentar o preconceito.
Fui sorteado. O apoio familiar e as boas relações que construí durante os estudos e na vida profissional não é comum, infelizmente, para a maioria da comunidade LGBTQIAPN+. Por inúmeras vezes, testemunhei o choro de filhos rejeitados pelos pais por sua orientação sexual, no abraço de um pai ou mãe de santo e de uma entidade. Os terreiros não curam as dores, mas fortalecem os filhos de axé e oferecem o que nem sempre encontram nos seus próprios lares: amor.
A Umbanda e o Candomblé realizam cerimônias LGBTQIAPN+. Não há discrminação, tampouco demonização. Ser do axé é um ato de resistência porque se você não faz parte do oprimido abraçado pela família espiritual, você é quem anda com eles e toca tambor lado a lado.