Nos últimos anos, o conceito de mindfulness tem se expandido além das tradicionais práticas meditativas, abrindo novas possibilidades para sua aplicação clínica e pessoal. Durante o Brain Congress 2024, explorei essa abordagem inovadora, destacando como o mindfulness pode ser efetivo mesmo sem a necessidade de meditação formal. Isso é uma notícia muito boa, especialmente para você que pensa que não consegue ficar parado de olhos fechados durante muito tempo.
O que é mindfulness?
Mindfulness, ou atenção plena, envolve a habilidade de estar presente e engajado no momento atual, observando os pensamentos e emoções sem julgamento. Essa prática tem sido tradicionalmente associada à meditação, mas minha pesquisa e experiência sugerem que o mindfulness pode ser praticado de maneira informal, isto é, de maneiras mais breves e pontuais no dia a dia, trazendo benefícios significativos para a saúde mental e o bem-estar.
Desmistificando a meditação
Há muitas ideias errôneas sobre o que é a meditação. Algumas pessoas acreditam que é necessário parar de pensar, alcançar um estado de paz absoluta ou dedicar muitas horas por dia à prática. No entanto, o mindfulness não precisa ser limitado a estas percepções. Pode ser incorporado em atividades diárias comuns, proporcionando uma forma mais acessível de praticar a atenção plena.
Práticas Formais vs. Práticas Informais
As práticas formais de mindfulness incluem a meditação sentada mais estruturada e pode durar de 20 a 50 minutos. O foco na respiração quando mais extenso também pode ser considerado uma prática formal. O body scan, que inclui prestar atenção em partes diversificadas do corpo, também são práticas formais. Já as práticas informais consistem em trazer consciência a atividades diárias, como comer, caminhar ou realizar tarefas domésticas, de maneira consciente e intencional. Vivenciar os momentos com mais curiosidade, e fazer curtas e breves paradas para pausar e mudar o ritmo do momento. Essas práticas informais, têm de 1 até 10 minutos de duração podem ser igualmente eficazes, e em alguns casos até mais eficazes.
Evidências Clínicas e Benefícios
Diversos estudos apontam para a eficácia das práticas informais de mindfulness em melhorar sintomas de ansiedade, estresse e depressão. Por exemplo, um estudo da Monash University na Austrália (2021) com estudantes universitários mostrou que aqueles que praticaram mindfulness de forma informal tiveram melhor engajamento nos estudos e redução do estresse em comparação com aqueles que seguiram práticas formais de meditação.
Um outro estudo recente da Vanderbilt University Medical Center nos EUA reportou que a quantidade de prática informal entre sessões terapêuticas mostrou resultados positivos significativos melhores no manejo da dor crônica, qualidade do sono e função corporal, quando comparada às práticas formais. A prática regular, mesmo que breve, pode levar a uma melhora nos traços de mindfulness e na saúde mental geral.
Adaptando o mindfulness ao paciente
Um dos principais insights dessas pesquisas é a necessidade de adaptar as intervenções de mindfulness às necessidades individuais dos participantes, ao invés de tentar encaixar todos em um único modelo. Isso pode incluir a introdução de práticas informais como um primeiro passo, aumentando gradualmente a motivação e o compromisso com a prática ao longo do tempo.
O mindfulness sem meditação formal oferece uma abordagem inclusiva e flexível para aqueles que podem encontrar dificuldades com práticas tradicionais, como jovens universitários, adolescentes e pessoas com um alto nível de estresse. Ao reconhecer e valorizar as experiências individuais, podemos expandir os benefícios do mindfulness a uma audiência mais ampla, promovendo bem-estar e qualidade de vida de maneira acessível e eficaz.