Em coluna anterior abordamos a presença do modernismo em alguns templos católicos na cidade do Rio de Janeiro. Alguns leitores questionaram a ausência de outros exemplares, igualmente significativos, com tal repertório.
Atendendo às sugestões, acrescentamos alguns à lista anterior, aqui apresentados em ordem cronológica, iniciada pela singular edificação que abriga a Paróquia Santa Cruz de Copacabana, localizada no 3º piso do Shopping Cidade Copacabana, à rua Siqueira Campos, 143, sobre a laje do amplo prisma de ventilação
Este conjunto, composto por galerias de lojas, também abrigou casas de espetáculos famosas, como o teatro Tereza Rachel e o Opinião, reduto de resistência contra a censura e a ditadura militar, além da “Boutique Lixo”, ponto de encontro da juventude hippie, para adquirir roupas usadas, principalmente jaquetas e calças Lee surradas e desbotadas, que a lenda urbana indicava originárias da Guerra do Vietnã. Alguns, mais crédulos, chegavam a identificar furos de bala e “manchas de sangue” naqueles blue jeans que duravam anos.
O shopping, o Teatro Teresa Raquel e a igreja foram projetados pelo escritório do arquiteto Henrique Mindlin, em 1956, notável profissional responsável por outras obras referenciais, como o edifício destinado à Associação Religiosa Israelita, de 1958, na rua General Severiano, 170, Botafogo, com sua elegante cobertura curvilínea que faz alusão às tendas das primitivas tribos judaicas. A fachada apresenta delgados pilares demarcando os panos de vidro que conferem iluminação ao salão principal da sinagoga.
A Igreja de Santa Cruz de Copacabana também conta com uma ousada concepção estrutural composta por uma delicada casca de concreto para cobertura, distribuídas em parábolas que se apoiam no solo em suas extremidades. A nave única se comunica diretamente com o exterior densamente construído através de panos de vidro.
A igreja foi inaugurada no dia 03 de maio de 1961 na festa litúrgica da exaltação da Santa Cruz e continua em pleno funcionamento, com algumas reformas recebidas ao longo das seis últimas décadas.
Também em Copacabana, no Posto 6, está a Igreja da Ressurreição, cuja sede primitiva foi a pequena ermida dedicada a Nossa Senhora de Copacabana, no forte de mesmo nome, demolida em 1918.
Através de uma permuta com o Exército, a paróquia recebeu o terreno onde o novo templo seria edificado, construído entre 1973 e 1975, na rua Francisco Otaviano, 99, no limite com Ipanema, com projeto do arquiteto Ibsen Vilaça.
O partido estético adotado recebeu influência direta do Brutalismo, que valoriza o uso dos materiais em seu estado bruto, como acontece no grande pano cego de concreto na fachada principal.
O edifício foi construído em concreto protendido, com a laje apoiada diretamente nas paredes periféricas, liberando totalmente a nave principal que conta com pinturas do artista Mário Mendonça, autor da Via Sacra.
Nos terrenos da PUC-RJ, no bairro da Gávea, foi construído um novo templo, em 2005, dedicado ao Sagrado Coração de Jesus, na rua Marquês de São Vicente, 225. O edifício resultou de um concurso realizado pela universidade católica, vencido pelos arquitetos Maria das Graças Cabral, Luis Erasmo Rocha e Fernando Perez Boscan, que projetaram uma igreja provida de nave com 400 lugares, com vão livre de 17 metros, iluminada por coloridos vitrais.
A fachada apresenta dominância horizontal e conta com volumes despojados, pintados de branco, destacando os vitrais. A sineira se destaca discretamente do conjunto, encimada por uma pequena cruz.
Além desses exemplares, destacados por seus partidos arquitetônicos, outros templos de concepção moderna podem ser encontrados por diversos bairros da cidade do Rio de Janeiro: Sangue de Cristo, na Aldeia Campista, paróquia criada em 1965; Nossa Senhora da Vitória, no condomínio Alfa Barra; a capela Nossa Senhora das Vitórias, nas dependências do estádio de São Januário, inaugurada em 1961.
A adoção de um repertório contemporâneo confirma que a igreja católica, ao longo dos séculos, sempre adotou uma arquitetura inovadora, frequentemente destacada no seu tempo, convivendo com edifícios religiosos mais modestos, muitas vezes construídos com participação direta da comunidade, gerando partidos estéticos populares.
No caso brasileiro, diversos exemplos comprovam essa afirmativa, demonstrando que a arquitetura religiosa nacional está muito além das tipologias estilísticas consagradas do período colonial, como o jesuítico e barroco. O ecletismo adotado pelas igrejas construídas ao longo do século XIX e primeiras décadas do século XX também merecem referência, assim como a coleção de templos modernos ilustrando as transformações da arquitetura nacional.
