Mulher é investigada há anos pela invasão de casarões no Centro do Rio

Rosimar da Conceição, ou Burunga, agiria através de intermediários nas invasões de imóveis. Segundo a polícia, ela teria ligação com o tráfico do Morro dos Prazeres

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Ruas da Lapa já com iluminação de led

Conhecida da polícia carioca desde o início dos anos 2000, Rosimar da Conceição, ou Burunga, como é conhecida no mundo crime, volta aos holofotes das autoridades em investigações envolvendo crimes, como associação ao tráfico, chefia de quadrilha, tráfico de drogas e invasão de casarões no Centro do Rio, especialmente na Lapa. Entre 2004 e 2011, Burunga cumpriu pena na Cadeia Pública de Magé, por associação ao tráfico de drogas. Foi solta aos 34 anos, quando sumiu dos radares policiais. Ela só foi localizada durante uma operação contra o tráfico, em 2013, na Rua do Lavradio 122, local onde também residiria.

Surpresa, a polícia nada pode fazer por falta de provas. Em outras investigações, também relacionas ao tráfico de drogas, Rosimar apareceu no radar policial, que não conseguiu reunir provas contra a criminosa. Ao longo do tempo, no entanto, Burunga foi se especializando na invasão de imóveis privados no Centro do Rio.

Com a pandemia, as atividades da suposta invasora e da sua quadrilha se expandiram. O que levou uma equipe de investigação da Polícia Militar a apresentar relatórios anuais sobre Burunga à Inteligência da corporação, desde 2021. No último documento, de junho deste ano, constavam 11 endereços na posse de Burunga, sendo a maioria na Avenida Mem de Sá, na Lapa.

A região é dominada por Claudio Augusto dos Santos, o Jiló, gerente do Comando Vermelho, no Morro dos Prazeres. Segundo O Globo, Rosimar o conhecido quando ia aos bailes funks, principalmente no Rio Comprido e no Morro dos Prazeres, entre as décadas de 1980 e 1990, período em que vendia tíner aos adolescentes de rua. Jiló e ela ficam próximos, com a mulher se tornando o “braço-direito” do traficante, por conseguir despistar a atenção das autoridades.

A prisão só aconteceu em 2004, durante a operação “Lapa Limpa II”, que contou com filmagens feitas por policiais à paisana e forte da adesão dos moradores da região, que relataram à polícia que havia uma mulher chefiando uma quadrilha de adolescentes de rua que vendiam drogas nas ruas do bairro boêmio. Os entorpecentes, segundo os policiais eram vendidos diuturnamente, sob a orientação de Burunga.

Em extensa matéria, o jornal O Globo informou que, na legenda do vídeo investigativo, a polícia colocou a legenda: “Cerca de 50 menores são comandados pela traficante ROSIMAR DA CONCEIÇÃO, conhecida também como…..BURUNGA”. Nas imagens captadas nos Arcos da Lapa, Burunga foi flagrada em rápidas reuniões com o seu bando juvenil.

Após ter uma pena de prisão de 16 anos atenuada para 12, Rosimar  foi beneficiada pela anulação de um processo de outros dois réus por crime de tráfico. As provas de que ela vendia drogas, embora estivesse associada ao grupo criminoso, eram insuficientes, segundo jornal. Semente em 2018, Burunga volta a ser citada em novo processo, arquivado pelo juiz que decidiu não condenar os 15 réus, também por tráfico, com base apenas postagens nas redes sociais, como constava na denúncia. Entre os criminosos, estavam Jiló e dois prováveis filhos da Burunga.

As polícias Militar e Civil não souberam informar ao Globo quando a criminosa migrou para o “ramo imobiliário”. Entre denúncias anônimas, ao longo dos anos, e relatos de proprietários e comerciantes ameaçados por ela, a mudança aconteceu. As instituições ressaltam a dificuldade de conseguir informações, graças a habilidade da mulher em ocultar as suas ações, tornando os flagrantes quase impossíveis, já que ela não age diretamente, sempre empregando terceiros que não irão “cagoetá-la”,  por respeito ou medo.

Em relatório da PM, ao qual O Globo teve acesso, no ramo de invasão de imóveis, Rosimar já conquistou indiretamente uns 11 endereços, dos quais seis estão na Mem de Sá. Os demais estão espalhados pela Praça da Cruz Vermelha, na Rua Tenente Possolo, na Rua do Riachuelo e na Rua do Senado, além da Rua do Lavradio 122, a invasão mais antiga, onde ela foi encontrada, por sorte, em 2013.

Entre os imóveis-alvo da criminosa estão os localizados em ruas ermas, com pouco policiamento e comércio, e nas proximidades de casarões decadentes. A maioria das unidades são abandonadas pelos donos por falta de interesse ou dinheiro para reformá-los ou pagar os processos litigiosos, como inventário. Mas, segundo O Globo, os imóveis precarizados e ocupados por moradores pobres também são usurpados, pois os que habitam ali são, muitas vezes, invasores também. A eles, Burunga cobra uma taxa pela permanência, em caso de não pagamento, as pessoas simplesmente são expulsas pela nova “dona” do imóvel.

As ações nunca recaem sobre Rosimar da Conceição, que conta com o suporte de terceiros, de acordo com a polícia. Cabe a eles invadir, quebrar portas e portões, entrar pelas janelas, pelo telhado, expulsar quem for preciso, trocar fechaduras e portas inteiras, além de vigiar as unidas contra as ações policiais e outras ameaças. Em seguida, os espaços são “loteados”.

Segundo a PM, o bando da Burunga deve arrecadar R$ 600 mensais por aluguéis. Valor aparentemente baixo, mas se o prédio invadido tiver 30 apartamentos, a quadrilha fatura R$ 18 mil. Se os 11 imóveis tiverem 30, o lucro é de quase R$ 200 mil mensais. Somando às outras atividades criminosas do grupo, os valores são consideráveis. Os crimes compensam, pois poucos bandidos são flagrados na ilegalidade.

O imóvel da Rua do Lavradio 122 é um caso fora da “curva”, pois é tombado pela Prefeitura no projeto “Espaço de Moradia ao Sul do Corredor Cultural”, desde 1987. No local, há uma pequena vila caindo aos pedaços, que é vizinha do Tribunal Regional do Trabalho (TRT-RJ), da 5ªDP, do “QG” da Polícia Militar e da Secretaria Estadual da Polícia Civil. Por incrível que pareça, na vila, funcionaram por quase 20 anos, residências e a principal boca de fumo da Lapa, sob o comando do tráfico do Morro dos Prazeres.

De acordo com O Globo, só com permissão de Jiló, as pessoas podiam viver nos cortiços, com as famílias servindo como escudo durante as ações policiais. Mas, em 30 de julho, o cenário mudou com a operação da 5ªDP, que prendeu nove criminosos, indiciados por venda de drogas, associação ao tráfico, além de furto de água e energia. Na operação, a polícia arrancou até a porta de ferro que fechava o depósito das drogas. Apesar de as autoridades acharem que acabaram com o tráfico na vila, há pessoas que dizem que vendas já voltaram, mesmo que modestamente.

Depois de operação, a Prefeitura foi obrigada a reformar o local, por meio de uma ação civil enviada à Justiça pela 4ª Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva de Defesa do Meio Ambiente e do Patrimônio Cultural da Capital. O município tem até 360 dias para restaurar a vila, preservando as suas características arquitetônicas. Ao local deve ser assegurada a moradia de quem vivia por lá.

Caso haja descumprimento, a multa diária é de R$ 20 mil. A Procuradoria Geral do Município informou, por meio nota, que “foi notificada e, no momento, analisa a sentença”, finalizou O Globo, que tentou ouvir defesa e a própria Burunga, sem sucesso.

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