Sucesso do Botafogo em campo ainda não garante saúde financeira a longo prazo

Reestruturação da dívida bilionária e equilíbrio entre receita e despesa são essenciais, alerta especialista financeiro

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Luiz Henrique e Léo Pereira em Botafogo x Flamengo pelo Campeonato Brasileiro 2024 - Foto: Vítor Silva/Botafogo

O Botafogo liderou o Campeonato Brasileiro de 2023 por 31 rodadas e está na frente da atual versão, além de disputar uma vaga nas semifinais da Libertadores. Mesmo com uma campanha mais sólida em 2024 e um futebol envolvente, o clube ainda enfrenta desafios financeiros sérios. Após anos de dívidas, má gestão e rebaixamentos, o futebol se reergueu graças à transformação em Sociedade Anônima do Futebol (SAF), liderada pelo investidor americano John Textor, dono de um grupo com outros 4 clubes espalhados pelo mundo.

Apoiado pelo ótimo momento em campo e com salários em dia, especialistas em finanças alertam que o Botafogo precisa de ajustes econômicos para que a atual fase se transforme em estabilidade a longo prazo. Em 2023, o clube viu seu endividamento crescer, atingindo a marca de R$1,3 bilhão que se divide em três grandes categorias, como as dívidas bancárias, totalizando R$449 milhões, resultado de empréstimos e financiamentos que o clube contratou ao longo dos anos, dívidas operacionais que somam R$ 265 milhões e estão ligadas a compromissos de curto prazo do clube, incluindo despesas correntes da temporada, impostos e acordos que estão no valor de R$604 milhões e englobam dívidas fiscais, previdenciárias e acordos judiciais, muitos deles relacionados a gestões passadas, nesta semana, o time pagou mais de 6,5 milhões em dívidas do FGTS.

Segundo o especialista financeiro Urandir Fernandes de Oliveira, “o sucesso esportivo não pode mascarar os desafios financeiros que o Botafogo ainda enfrenta, o clube precisa fazer uma gestão rigorosa para evitar erros do passado e garantir a sustentabilidade do projeto da SAF.

Especialistas apontam medidas que o Botafogo precisa adotar para evitar uma crise financeira futura:

1. Equilíbrio entre receitas e despesas

O Fair Play Financeiro da UEFA é um exemplo claro de como é essencial que os clubes não gastem mais do que arrecadam. Atualmente, o Botafogo tem aumentado seus investimentos em jogadores, mas precisa manter o equilíbrio financeiro. “O Botafogo deve alinhar as contratações com a sua capacidade de gerar receita, especialmente com direitos de TV e patrocínios”, comenta Urandir. A Premier League, com seu sistema de “Profitability and Sustainability”, é uma referência que o Botafogo pode seguir.

2. Reestruturação da dívida

Embora a SAF tenha ajudado o Botafogo a reorganizar suas finanças, o clube ainda carrega um histórico pesado de dívidas, que precisam ser reestruturadas para não comprometer o futuro. O exemplo da La Liga, que impõe limites rigorosos de gastos, poderia ser adotado pelo Botafogo. “Negociar prazos e juros mais favoráveis é essencial para manter o fluxo de caixa saudável”, diz Urandir. Esse movimento ajudaria a aliviar o impacto financeiro a longo prazo, algo que clubes como o Barcelona enfrentaram após anos de má gestão financeira.

3. Foco nas categorias de base

Investir nas categorias de base não só diminui os custos com grandes contratações, mas também gera ativos importantes para o clube. Jogadores formados em casa podem ser vendidos com alto lucro, como é visto em ligas como a França, onde a DNCG incentiva clubes a priorizarem a formação de jovens talentos.

4. Novas parcerias comerciais e patrocinadores

Para aumentar as receitas, o Botafogo deve aproveitar sua excelente fase e buscar mais patrocínios e parcerias comerciais de longo prazo. A gestão de John Textor já trouxe novos patrocinadores, mas ainda há espaço para crescimento, especialmente com a exposição que o clube está ganhando com sua campanha no Brasileirão.

5. Controle sobre contratações e salários

Uma política de contratações mais criteriosa é fundamental para evitar desequilíbrios financeiros. O exemplo da Premier League, que adota regras rígidas sobre os gastos com transferências e salários, poderia ser um modelo para o Botafogo seguir. “Investir em jogadores de qualidade é importante, mas dentro de um planejamento financeiro sustentável. Não adianta trazer nomes de peso se isso vai colocar o clube em risco financeiro novamente”, alerta Urandir.

6. Engajamento e monetização da torcida

A força da torcida botafoguense é um ativo que pode ser melhor explorado. Programas de sócio-torcedor mais atrativos e a venda de produtos licenciados são formas de aumentar as receitas do clube. “O Botafogo deve fortalecer a relação com seus torcedores, convertendo paixão em receita”, comenta Urandir. Além disso, experiências exclusivas para os fãs e a ampliação das plataformas digitais do clube podem trazer novas fontes de renda.

7. Planejamento financeiro a longo prazo

O Botafogo precisa ter um planejamento sólido para os próximos anos, garantindo que não apenas se mantenha competitivo, mas também financeiramente saudável. “Sem um planejamento de longo prazo, qualquer sucesso será momentâneo. O clube deve traçar metas claras de crescimento, tanto esportivo quanto financeiro, e monitorar constantemente os resultados”, conclui Urandir Fernandes de Oliveira.

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