Se você já visitou o bairro de Santa Teresa, provavelmente, já se deparou em algum momento com uma senhora que caminha pelas ruas vendendo suas camisetas e livros de poesias. Certamente que você nunca imaginou quem é essa mulher e dificilmente ouviu o que ela tem a nos dizer.
Essa figura icônica do bairro, já cansada de ser conhecida e reconhecida como um “personagem de Santa”, resolveu dar a volta por cima. A atriz e artista plástica Leila Viany acaba de estrear um novo espetáculo teatral, com direção de Gilson Grosso e cenografia de Getúlio Damado, todos artistas de Santa. No palco, além de Leila, apenas o essencial estará em cena: uma cadeira cuidadosamente criada para ela. O local que receberá o espetáculo é o Parque Glória Maria (antigo Parque das Ruínas).
O monólogo é muito sensível e tem um olhar aguçado para as relações humanas, além de trabalhar a nostalgia ao transportar o público para uma jornada de resgate das memórias de uma mulher que dedicou sua vida à arte e à hospitalidade. Com uma interpretação única, a atriz Leila Viany vai costurando suas falas entre o passado e o presente, lançando críticas à modernidade dos tempos imediatistas e fugazes. “O espetáculo tem uma atuação forte, uma pitada de grotesco e de incômodo, o que exige do público a sustentação de uma atenção, algo que é difícil nos tempos de hoje, mas que nos remete a uma metáfora da vida, que não é fácil e nem doce, exige muito de nós”, afirma o diretor Gilson Grosso.
Na trama, Leila remonta uma época em que morou na antiga casa de outra mulher conhecida no bairro, a Jupira, que era muito simpática e convidava todos para um café enquanto varria a calçada de rua. Em meio a essas lembranças, uma personagem se costura à outra. “A ideia de encenar um monólogo sobre Jupira surgiu dos pontos em comum que temos entre criador(a)e criatura — arte, artesanato, contato direto com pessoas desconhecidas nas ruas e luta diária pela sobrevivência — além da coincidência de moradia que ocorreu em tempos diferentes”, conta Leila.
A moradora Jupira morreu na década de 1990, mas com o texto criado por Leila para o teatro, Jupira revive abordando muitas questões atuais, dando a chance da autora e atriz representar outro personagem que não ela mesma. Com texto enxuto, direto e cheio de ironias, o monólogo convida à reflexão sobre a importância de preservar e valorizar as pequenas conexões humanas que fazem toda diferença durante a vida.
Mirante reinaugurado
O mirante do Parque das Ruínas, rebatizado como Parque Glória Maria em homenagem à jornalista morta em 2023, tem uma das vistas mais bonitas do bairro. Ele foi recém-inaugurado no final de setembro e fica localizado no topo do centro cultural instalado nas ruínas do palacete da mecenas da Belle Époque carioca Laurinda Santos Lobo, que descortina um cenário de tirar o fôlego da Enseada de Botafogo e da Baía de Guanabara. E o espaço, além de uma bela vista, tem teatro, centro cultural, café e vasta programação cultural.
Serviço:
“Minha Casa” – Monólogo com Leila Viany
Local: Parque Glória Maria (Parque das Ruínas)
Rua Murtinho Nobre, 169 – Santa Teresa
Telefones: 21 2215-0621 | 21 2224-3922
Temporada: Dezembro a Janeiro
Horários: 14h (aos sábados e domingos)
Entrada Franca