Ao contrário do que diz a música de Lenine um pouco mais de paciência é justamente o que não se espera de Phillippe Mars (François Damiens) em ‘Más notícias para o Sr. Mars. O homem passa por verdadeiros testes de resiliência na comédia franco-belga e se consagra como uma dos personagens mais passivos do cinema.
Pra começar, ele atura desaforos do seu vizinho que é extremamente grosseiro, em seguida precisa lidar com o funcionário mais difícil da firma, que, por conseguinte, vem a decepar sua orelha em um acesso de fúria e se abrigar em sua casa foragido de um hospital psiquiátrico, a comunicação com seus filhos adolescentes está praticamente insustentável e sua irmã ainda lhe arruma um filhote de quatro patas que ele não tem intenção nenhuma de cuidar.
O limite da paciência do Sr. Mars beira o inatingível e gera até certa agonia nos espectadores, uma vez que a vontade é de entrar pela tela do cinema e falar “REAGE HOMEM!”. A necessidade de ser um para raios das situações para se auto preservar fragiliza até a forma como educa os filhos, uma vez que possui autoridade e traquejo quase que nenhum na forma como se dirige às crianças.
Nota-se que suas únicas válvulas de escape são os momentos em que dialoga com os pais já mortos (em tomadas incríveis, diga-se de passagem) e em seus sonhos de astronauta, que são continuamente interrompidos bruscamente para trazê-lo de volta a realidade conturbadora.
A comédia ganha um tom leve e assertivo para cativar o público sem cansá-lo e o final, embora extremamente previsível, é uma lavada na alma tanto para o Sr. Mars quanto para nós (qualquer semelhança com a chuva torrencial dos últimos minutos não é mera coincidência). As comédias francesas têm dessas coisas, elas conseguem me conquistar não só nos detalhes, mas com roteiros que em outras produções virariam um pastelão oco. Com o mercado do riso em extinção, essa vale a ida ao cinema.
Más notícias para o Senhor Mars (‘Des nouvelles de la planète Mars’)
País: França, Bélgica; Direção: Dominik Moll; Roteiro: Dominik Moll; Elenco: François Damiens, Vincent Macaigne, Veerle Baetens.
Classificação: 12 anos; Duração: 101 min