No século XVIII, Rio de Janeiro teve uma muralha para chamar de sua. Não era tão grande quanto a da China ou de outros locais, mas era nossa. Ou não, pois a população não firmou completamente a ideia.
Como as informações não são tão precisas, esse momento da história do Rio de Janeiro não é tão comentado por historiadores e pesquisadores. Dá para dizer – com o perdão do trocadilho – que muitos ficam em cima do muro.
Vamos escalar essa história. Após as investidas e invasões dos corsários franceses Duclerc (mal sucedida) e Duguay-Trouin (que teve bastante êxito no que se propôs fazer), a população ficou insegura e novas ideias para a segurança foram colocadas em debate.
Antes do muro, havia uma longa e pesada corrente, idealizada pelo governador Francisco de Castro Morais, entre o morro Cara-de-Cão e a Fortaleza de Santa Cruz, para servir de “cancela” na entrada da Baía de Guanabara. Não funcionou.
Em 1713, após um debate no Conselho Ultramarino (que envolveu também gente interessada no ouro de Minas Gerais que passava pelo Rio de Janeiro), o rei decidiu mandar para a nossa cidade o engenheiro militar João Massé, com o propósito de planejar o aprimoramento das nossas fortificações. Ele deu a ideia do muro, que foi construido entre 1713 e 1725, de acordo com as pesquisas da época.
“Embora suas dimensões variassem de acordo com as características de cada terreno, há registro das seguintes medidas oficiais: altura de 1,76m a 2,20m, largura de 3,08m e distância entre contrafortes de 5,50m. O engenheiro visou proteger a faixa de terreno que corria junto ao mar, com início na Ponta da Fortaleza de São Thiago (onde hoje está o Aeroporto Santos Dumont), no sopé do Morro do Castelo (derrubado no séc. 20), e término no trapiche da Prainha (atual Praça Mauá), na base do Morro da Conceição. A muralha passava pelo atual Largo da Carioca e seguia paralelamente à Rua da Vala (hoje Rua Uruguaiana), por detrás da capela de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos (ao lado do Largo de São Francisco). O portão ficava na Rua da Quitanda do Marisco (atual Rua da Alfândega)”, conta o pesquisador Celso M Serqueira.
O relatório da tripulação da nau L’Arc-en Ciel, que visitou o Rio de Janeiro em 1748, registrou que “a muralha era construída de pedra e liga de massa forte e preta, de aparência pouco sólida”.
“Talvez não devesse comentar, mas a fidelidade ao leitor me obriga: esse engenheiro contratado pelos portugueses para projetar as defesas cariocas contra os franceses era… francês, ora pois! Só podia dar no que deu”, escreveu Serqueira em seu site Mapas Antigos, Histórias Curiosas.
Contudo, como disse no começo do texto, os cariocas não abraçaram muito a ideia. A principal crítica era de que a muralha não servia para defender a cidade, pela sua pouca altura e localização indevida. O Morro de Santo Antônio ficou fora da área protegida e, se um inimigo o tomasse, lá de cima poderia bombardear facilmente todo o Rio. Teria, também, total controle sobre o aqueduto e o chafariz da Carioca, principal meio de abastecimento de água da população à época.
Ainda, a muralha definiu o que era cidade e o que não era. Fora do muro era considerado “arrebalde”. Regiões importantes ficaram do lado externo na nova demarcação e perderam muito com essa desvalorização.
“Em pouco tempo, tornou-se prática comum a retirada de pedras da muralha para construção de casas particulares. A situação era tão caótica que um padre jesuíta, Gabriel de Malagrida, teve a ousadia de enviar uma carta ao governador, em 1756, solicitando autorização para retirar 400 braças (880 metros!) de pedras como doação para construir um novo seminário na cidade. O pedido foi negado. Quanto às faixas de segurança em torno do muro, a população passou a construir suas casas tão próximas a ele que muitas delas o tinham como parede. Paradoxalmente, a muralha de João Massé, projetada para defender a cidade contra os invasores, acabou sendo relegada e destruída pelas autoridades e população que objetivava defender. Foi tragada pela urbe”, pontua Celso Serqueira.
Aos poucos, o muro acabou. Uma planta do Rio de janeiro, de 1767, feita pelo sargento-mor Manuel Vieira Leão, não registra nenhuma indicação de muralha, levando a crer que nessa época ela já estivesse completamente descaracterizada, absorvida pela expansão imobiliária ou simplesmente demolida.
Hoje em vez de muros nos edifícios usam-se grades onde os moradores ficam trancafiados e a bandidagem é dona das ruas, porém, isso irá mudar porque o governador Witzel – BLÁ BLÁ BLÁ colocará um SNIPER em cada cobertura de prédio na cidade.