História que não deveria acabar (Bar Luiz)

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Foto: Reprodução

O Bar mais antigo do Rio corre o risco de fechar. Nos últimos dias, a notícia de que o Bar Luiz pode estar vivendo seus últimos momentos, pegou todos de surpresa – negativamente. Uma lástima para nossa cidade, que não pode acontecer.

Tudo começou no dia 3 de janeiro de 1887, durante o Segundo Reinado, no número 102 da Rua da Assembleia. Fundado por Jacob Wendling, o Bar Luiz chamava-se originalmente Zum Schlauch (“À Mangueira” ou “À Serpentina” em alemão), uma referência ao fato de, ali, vender-se chope que circulava dentro de uma serpentina imersa no gelo antes de servido.

“Foi a primeira cervejaria da cidade do Rio de Janeiro e, muito provavelmente, do Brasil. Desde o início, era um sucesso“, diz o historiador Maurício Santos.

Apesar de continuar na mesma Rua, em 1901, o Bar Luiz mudou de endereço por conta de problemas na renovação do aluguel. Passou para o número 105 da Rua da Assembleia. À época, o bar também mudou de nome, passando a chamar-se Zum Alten Jacob (“Ao Velho Jacob”), uma homenagem ao velho Jacob, o fundador de origem judaica, que já estava retirando-se dos negócios e havia passado a direção do bar para seu afilhado, Adolf Rumjaneck.

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No ano, 1908, o fundador foi para a Suíça e Adolf assumiu a direção do estabelecimento. Escritores João do Rio e Olavo Bilac eram clientes e faziam companhia ao novo “diretor”.

Em 1915, uma lei de valorização da língua portuguesa obriga a nova mudança no nome do Bar, que passa a se chamar Bar Adolph.

“O estabelecimento era mesmo conhecido como ‘Braço de Ferro’, porque os clientes disputavam quedas de braço nas mesas do Bar”, conta Maurício Santos.

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Adolf, com problemas de saúde, convida o austríaco Ludwig Vöit para sócio. Em 1926, com a morte de Adolf, Ludwig assume a direção do Bar e também a tutela da filha de Adolf, Gertrud Rumjaneck.

Em 23 de fevereiro do ano seguinte, novamente por problemas na renovação da locação, o Bar muda novamente de endereço, se transferindo para seu endereço atual, no número 39 da Rua da Carioca.

No ano de 1942, por conta da Segunda Guerra Mundial e dos movimentos antifascistas no Brasil, o Bar foi ameaçado de ser destruído por estudantes do Colégio Pedro II, que imaginavam que o nome do estabelecimento era uma homenagem a Adolf Hitler.

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“Ary Barroso ajudou e explicou que não era bem isso, evitando o problema maior”, frisa o historiador Maurício Santos.

Contudo, por conta do episódio, Ludwig naturalizou-se brasileiro e adotou o nome de Luiz.

Em 1955, Luiz Vöit afasta-se da direção do estabelecimento, que é assumida pela herdeira de Adolph, Gertrud, e o marido dela, Alfons Kurowsky. Com a morte de Alfons, a viúva e seu filho, Bruno Kurowsky, passam a dirigir o estabelecimento. A clientela, na década de 1960, incluía personalidades da cultura carioca (e nacional) como Ziraldo, Jaguar e Sérgio Cabral (pai).

No mês de dezembro de 2011, o prefeito Eduardo Paes assinou o Decreto de Cadastro dos Bares Tradicionais, conferindo, a onze botequins, dentre eles o Bar Luiz, o status de Patrimônio Cultural da Cidade.

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Nos últimos dias, a notícia triste que pegou todos de surpresa. A possibilidade do Bar fechar.

Segundo Patrícia Reis, pesquisadora e coordenadora do Observatório da Marca Rio da ESPM Rio, o fechamento do bar significa também uma perda econômica para a cidade:

“A região da Carioca, no Centro, onde está situado o bar, há tempos vem se degradando. Sua arquitetura abandonada, prédios e ruas vazios, violência, fizeram com que o Bar Luiz fosse, na verdade, um resistente até o momento. É essencial uma política pública eficaz, que possa conter a especulação imobiliária, restaurar o entorno, investir em segurança, enfim, revitalizar o espaço para que ele possa ser frequentado. A sociedade também tem seu papel de mobilização e de preservação desses espaços. O Rio tem sofrido muitas perdas e o impacto é muito grande, tanto cultural quanto econômico. Sem uma política de preservação, a região não atrai pessoas e o espaço vazio não faz a economia girar”, disse Patrícia Reis.

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