“De delta formado por alagadiço E depois bonde animal A largo tri fronteiriço Com metrô bem atual”
Ao verter suas límpidas águas via Estâncias dos Laranjais, o rio Carioca chegava ao Campo das Pitangueiras e ali se transformava em alagadiço, que para ter vazamento se transmutava em delta cujos braços principais eram, à esquerda o canal paralelo ao caminho do Catete, já utilizado pelos antigos Uruçu-mirins, e à direita formar um leito, nas hoje conhecidas, Conde de Baependi e Barão do Flamengo, que formam em sua confluência com as atuais Marquês de Abrantes(Caminho Novo – para Botafogo), Senador Vergueiro (Caminho Velho – para Botafogo) e Catete, a Praça José de Alencar, onde lá pelos anos 1577/78 foi montado o primeiro pedágio urbano carioca, na famosa Ponte do Salema, cuja “cabine de cobrança” nenhuma autoridade retirou por aproximados 300 anos, segundo nos conta o prof./historiador Mauricio Santos.
Após promover esse encontro de caminhos e apreciar “por baixo” a beleza da ponte, toda em Madeira de Lei, o braço à direita do delta seguia seu curso, indo encontrar-se, como faz até hoje, na praia do Flamengo com a baia de Guanabara, onde o braço à esquerda do delta, antes de ser aterrado, também chegava após contornar o morro da Glória.
A origem e permanência do nome MACHADO, para o LARGO que funciona até hoje como centro fronteiriço de três bairros cariocas, Catete, Flamengo e Laranjeiras, tem três etapas bem distintas, sendo a primeira a “moda da época”, que era dar nome aos logradouros em homenagem ao doador das terras e no caso André Nogueira MACHADO em fins dos anos 1700.
Na sequência um “antenado empreendedor”, vislumbrando o desenvolvimento da área, instalou ali no início dos anos 1800, sua casa de carnes e valendo-se de seu sobrenome MACHADO e visão de marketing, usou como logotipo e “chamador das atenções” um grande machado, em referência à ferramenta largamente usada para cortar os ossos dos grandes pernis, em todas as boas casas do ramo.
Aparentemente não havia mais dúvidas quanto ao nome do LARGO, porém na década dos anos 1840 a grande igreja Nossa Senhora da Glória “nasceu” e já durante sua construção atraiu todas as atenções e “aí” foi dada a partida para a grande e quase interminável “queda de braço”, LARGO DO MACHADO (povo) X PRAÇA N. S. DA GLÓRIA (autoridades).
Aproveitando a distração entre os dois contendores, outro grupo impôs em 1869 aos usuários do LARGO, que agora o nome seria Praça Duque de Caxias, afinal o “herói das divergências/convergências paraguaias” tinha que ser homenageado e como a “estreia” de Nossa Senhora da Glória (que só aconteceu em 1872) estava lenta, parecida com o andar dos “moderníssimos bondes à tração animal”, com trajeto Rua dos Latoeiros (atual Gonçalves Dias)/Largo do Machado, inaugurado há um ano… “estamos conversados”.
Em 1899, já com a república “dando as cartas”, colocaram bem no centro da Praça/Largo ( é,,,, a “queda de braço” continuou) uma estátua do herói montado em seu alazão.
Nessa segunda metade do séc. XIX, ganhou grande destaque um brasileiro que é reverenciado mundialmente até hoje e gostava de pegar o bonde na Latoeiros e degustar a paisagem proseando com os amigos até a parada final no , para ele e para o povo, LARGO DO MACHADO.
Na época todos sabiam que embora houvesse a imposição do nome “Duque de Caxias” ou “N. S. da Glória”, o nome do LARGO era MACHADO e com a constante presença do grande letrado Joaquim Maria MACHADO de Assis, que passou a morar perto, tanto no Catete quanto no Cosme Velho, o nome do LARGO ganhou mais peso e por isso hoje muitos pensam que o nome surgiu em função do escritor, que quando nasceu – 1839 – o Ex-Campo das Pitangueiras já era LARGO DO MACHADO há muito tempo.
E a estátua do herói e seu alazão? Eles até que aguentaram bastante, mesmo sem jeito por não serem “donos do pedaço”, até que em 1953 alguém, usando a mesma capacidade de conciliação do herói, transladou-os para local, segundo eles, melhor apropriado o Pantheon de Caxias em frente ao suntuoso prédio do Palácio Duque de Caxias, na Av. Presidente Vargas, inaugurada nove anos antes, 7 de setembro de 1944, com grande pompa e desfile militar.
No ano seguinte (1954) foi colocada no centro do LARGO uma imagem bem mais adequada à democracia reinante no local, a de Nossa Senhora da Conceição, que lá permanece até hoje. Essa medida instaurou definitivamente no LARGO, seu nome historicamente aceito pelo povo…MACHADO.
Hoje após grandes transformações, incluindo a instalação de uma das mais movimentadas estações do Metrô carioca, o LARGO com suas constantes feiras de artesanato, livros, roupas, flores/plantas, quiosques para venda de passagens do trem do Corcovado, ambulantes de material web/eletrônico, souvenirs, de frutas, sorvetes, pipoca, lanches diversos, academia a céu aberto(para todas as idades), grande espaço(mesas fixas)para carteado e dominó, espaço para pregadores religiosos de qualquer vertente e bandas musicais de vários estilos, cenário para filmes e vídeos diversos, espaço usado para ensaio e apresentações de grupos teatrais, estacionamento para bicicletas, patinetes e carros, pontos de ônibus para mais de 30 linhas, pontos de taxis e vans, excelente e variadíssimo comércio, tendas para adoção de animais, grande presença harmoniosa de aves e animais silvestres, colégios, cursos, cinemas, escritórios, consultórios, milhares de transeuntes diários, uns apressadíssimos outros com a mais absoluta calma, e agora provido de posto fixo da Guarda Municipal.
Tudo isso sombreado por frondosas árvores conhecidas por Abricó de Macaco, espécie trazida das Guianas e América Central para o Brasil por Burle Marx, palmeiras e outras espécies. Isso nos autoriza afirmar que o LARGO DO MACHADO é com seus aproximados 12 mil m², a mais bucólica/efervescente/democrática praça carioca, faça chuva ou faça sol, durante as quatro estações do ano!