A Igreja do Centro do Rio que vem convertendo com tradição e beleza

Um depoimento pessoal de um agnóstico e bastante cínico ex-católico de IBGE que se torna católico praticante depois de começar a frequentar as missas e cerimônias na Igrejinha dos Mercadores, na Rua do Ouvidor. A beleza converte.

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Missa da Reabertura da Igreja da Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores- Foto Daniel Martins/DIÁRIO DO RIO

Sempre fui Católico Apostólico Romano; bem, isso não é bem verdade; nunca fui verdadeiramente praticante; católico de IBGE, talvez, ou algo um pouco melhor: católico por achar a Igreja uma instituição formidável (se não fosse não estaria aí até hoje, passados 2000 anos). Na infância, frequentava missas semanalmente, família portuguesa, sabe como é. Em especial, durante meu período em Portugal, levado por meu saudoso avô, frequentava as celebrações quase diariamente. Entretanto, enquanto criança, o entendimento sobre Deus era limitado, e a hóstia, mesmo nunca tendo comungado, parecia mais um chiclete, assim, de longe.

Desde cedo, desenvolvi uma inclinação para a dúvida, o que me levou a não concluir a primeira comunhão, perturbando as aulas. Na adolescência, adotei uma postura básica de descrença, e na vida adulta, via a Igreja Católica como algo necessário para a civilização, mas sem fé pessoal. Tipo: “que bacana algo ser o mesmo, ontem hoje e sempre” ou “que legal ter uma religião que onde quer que a gente esteja tem alguém rezando por nós em algum mosteiro ou convento“.

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O destino quis que meu amigo e sócio, Cláudio André de Castro, se tornasse Provedor da Irmandade de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores, uma organização que existe deste 1743. Concordando com o apoio direto do DIÁRIO DO RIO ao projeto de restauração da igreja, por sua importância histórica para nossa cidade, percebi que isso estava alinhado com a razão mais flagrante da existência do jornal, a defesa do Patrimônio do Rio. Histórico, cultural e religioso.

Com a reabertura da igreja, passei a participar de algumas missas específicas. Em algum momento, sem saber ao certo quando, passei a acreditar. Se foi uma intervenção de Nossa Senhora da Lapa para transformar um agnóstico em quase um devoto, não sei. Mas passei a rezar o terço e fazer as orações noturnas.

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Missa da Reabertura da Igreja da Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores – Foto: DIÁRIO DO RIO

A beleza das missas solenes realizadas ali aos finais de semana, com suas procissões de entrada e saída, orações em latim, polifonia sacra e canto gregoriano, assim como as homilias dos Padres Vitor Pereira e Victor Hugo tocaram profundamente meu coração. Não esperava que isso acontecesse, considerando a minha filosofia e persona muito cínica. No entanto, a igrejinha elíptica do Centro do Rio me proporcionou uma experiência única e divina.

O Provedor compartilhou comigo relatos de outras pessoas que decidiram se converter ou retornar à Igreja Católica após frequentarem a Igrejinha do Ouvidor; relatos que chegam de vez em quando no instagram da irmandade, que já alcança mais de 24 mil seguidores, com muito engajamento em apenas 1 ano. O Padre Vitor Pereira, um estudioso dedicado, chama isso de “conversão pela beleza”, de acordo com George Harnephilosophy doctor em musicologia pela Universidade de Princeton “Se cremos na unidade fundamental da Verdade, do Bem e da Beleza, então devemos reconhecer como a Beleza pode nos levar mais profundamente à Verdade e à Bondade“, “A beleza pode tornar mais fácil para uma pessoa aceitar as solicitudes da Igreja e seus ensinamentos morais

Padre Vitor Pereira descreve a igreja dos mercadores como um “hospital de campanha” do Catolicismo, que vem atraindo aqueles que andavam (ou sempre foram) afastados da igreja, ateus ou de outras denominações, pela posição de destaque que ela assumiu, recebendo as pessoas de braços abertos para assistir a uma liturgia bem cuidada, com muito incenso, objetos sacros históricos, beleza e fé. Isso acaba invadindo a gente; é muito interessante e para mim foi muito inesperado. E as cerimônias, o coral, a orquestra, as flores e as obras de arte têm o poder de conduzir as pessoas de volta à fé fundada por Cristo sobre Pedro, a pedra.

A reabertura deste precioso pedaço do século XVIII não tem um ano, mas já desempenha bem um papel de apostolado, um papel pastoral. Dentro dela, sinto-me mais próximo de Deus, e nas missas, a emoção aflora. Assim como tantos outros que já me disseram que sentem o mesmo. Não vou nem começar a contar aqui que nesta minha nova vida espiritual como católico uma das coisas que mais me diverte é dizer aos outros que não posso fazer uma coisa naquele horário porque tenho que ir à Missa. Acho que que cada vez que um católico que muitos acham improvável diz isso, um diabinho passa mal lá no inferno.

Essa transformação na minha vida também reflete em decisões pessoais; após 20 anos com Ivv, me casarei na Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores. Ainda não sei se haverá um bloco de carnaval abrindo caminho para a noiva. Mas teremos casório.

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2 COMENTÁRIOS

  1. Que bom. Parabéns.

    Amo a Igrejinha de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores.

    Sou de outra paróquia, mas gosto de assistir Missa dias de semana lá – que são bonitas (imagina as solenes dos finais de semana). Trabalho perto da 1º Março e da rua do Ouvidor.

    Mas, sinto falta também de uma outra igrejinha abandonada no Centro da Cidade. Até já postei aqui no Diário do Rio: A NOSSA SENHORA DA IMACULADA CONCEIÇÃO E BOA MORTE na rua do Rosário com Av. Rio Branco. A Arquidiocese não parece interessada nela (mas dever ser ordem terceira): Temo até mesmo que coisas ruins aconteçam com ela q está abandonada e sofre com a falta de manutenção. Dom Orani? Vai deixá-la se acabar?

    Mas, retornando à Lapa dos Mercadores…é um Céu na Terra. Amo aquela igreja – assim que possível irei num dia de sábado assistir à Missa Solene em Latim.

    Parabéns Diário do Rio, pela matéria.

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