Em 1869, a Rua dos Andradas teve um morador ilustre: Machado de Assis. No entanto, não há sinalização de sua passagem por lá. Não há placas, sequer um letreiro simples que o mencione.
Mas antes de nos aprofundarmos na história de Machado, é importante conhecermos a Rua dos Andradas, já que esta foi extremamente importante para a arte no Brasil.
Sua história começa no século XVII, quando era chamada “Rua do Fogo”, por ter sido aberta dentro da Chácara do Fogo, local de fabricação de fogos de artifício.
Consta na sua história, também, um fato transcendental no domínio da arte: ela foi o berço do Teatro no Rio.
Em 1767, instalou-se nela o padre Ventura com sua Casa de Ópera, ou Ópera dos Vivos, que era realizada com pessoas e não mais bonecos, uma inovação na área artística e teatral no Rio. Infelizmente ocorreu um incêndio que destruiu toda a Casa de Ópera.
Dois séculos depois, em 1866, a Rua do Fogo passou a ser chamada “Rua dos Andradas”, para homenagear os irmãos José Bonifácio, Antônio Carlos e Martim Francisco, importantes personalidades no processo de independência do Brasil.
E em 1869, Machado se mudou para lá! E aqui voltamos para nossa história.
Conta a biógrafa, Lúcia Miguel Pereira, que foi nessa rua que Machado morou nos primeiros anos de casado. Casou-se com Carolina no dia 12 de novembro de 1869 e logo mudaram-se para a Rua dos Andradas, antigo número 119, atual 147.
Hoje em dia o local é um estacionamento e não há sequer vestígios de que ali viveu e morou por dois anos, de 1869 a 1871, aquele que para muitos foi o maior escritor brasileiro de todos os tempos.
Lucia Miguel Pereira informa em seu livro “Machado de Assis: Estudo Crítico e Biográfico” que, na época, Machado batalhava arduamente para sustentar a casa: “a pobreza foi o lote dos primeiros tempos de casados. Dava-se a trabalhos diversos para acudir com suprimentos à escassez dos vencimentos”.
A falta de recursos parece ter sido verdadeiramente angustiante nos primeiros tempos, a julgar pelos bilhetes de Machado a seu amigo Ramos Paz:
“Meu caro Paz,
Estimo muito e muito as tuas melhoras, e sinto deveras não ter podido ir ver-te antes da tua partida para a Tijuca. Agradeço-te as felicitações pelo meu casamento. Aqui estamos na rua dos Andradas, onde serás recebido como amigo verdadeiro e desejado.
[…] De ordinário é sempre de rosas o período que antecede o noivado: para mim foi de espinhos. Felizmente o meu esforço esteve na altura de minha responsabilidade, e eu pude obter por outros meios os recursos necessários na ocasião. Ainda assim não pude ir além disso; de maneira que agora mesmo, estou trabalhando para as necessidades do dia.”
19 de novembro de 1869
Por mais difícil que tenha sido financeiramente, ali na rua dos Andradas, Lucia afirma que Machado e Carolina viveram a felicidade cotidiana da vida conjugal. Ali, também, ele escreveu diversos textos, crônicas e contos.
É uma grande tristeza ver que a memória desse prédio foi perdida e que só com muito esforço e árdua pesquisa consegui descobrir o local.
O atual estacionamento, antiga casa de nosso célebre escritor, mantém preservados apenas a fachada e alguns ladrilhos hidráulicos no interior que contam, sob os escombros, o seu importante passado.
E aí, você conhecia essa antiga casa de Machado? Comente.