Nesta segunda feira, 23/10/23, a cidade do Rio de Janeiro viveu a triste experiência do terror urbano. Foram 35 ônibus incendiados e até um trem foi atacado, em função de uma guerra entre forças policiais e milicianos na Zona Oeste da cidade. Além disto nos últimos dias vivemos cenas de grupos encapuzados que atacaram médicos na orla em função de conflitos entre grupos que disputam o poder paralelo na cidade, arrastões gigantes com ataques a banhistas na praia de Copacabana em proporções assustadoras, com centenas de jovens apreendidos e muitos ónibus e equipamentos urbanos também danificados. E no dia de hoje, tivemos a notícia de uma pessoa que tentou colocar fogo na Igreja da Candelária. Um edifício que é ícone da história da cidade e também importante para toda a comunidade católica. Não se sabe ainda as motivações desta ação e se há supostamente alguma ligação com os demais eventos urbanos. Tudo o que se percebe é que há um clima “estranho” no ar. E afinal, o que é o terrorismo urbano?
O médico e psiquiatra Marc Sageman, em seu livro “Understanding Terror Networks” estudou as motivações e modus operandi de células terroristas e de como se organizam e do impacto das ações de terror em populações civis. E das formas como autoridades devem se opor ao extremismo dentro da lei e da força policial. Esse é um tema oportuno, seja pelo que sofre os povos de Israel e da Palestina por ações de grupos terroristas como Hamas no oriente médio, como também pelo impacto na vida de milhares de cariocas de toda a cidade, especialmente na Zona Oeste com as ações das milícias e das redes organizadas focadas em criar pânico urbano.
No mesmo dia 23/10, tivemos na PUC Rio o evento multidisciplinar sobre Inteligência Artificial e Humanidades, organizado por aquela que é reconhecida como a melhor universidade privada do país e também pela ADCE RJ, associação de empresários cristãos. Ser multidisciplinar implica múltiplos olhares e uma visão inclusiva da ciência e das pessoas. Trata-se de uma abordagem de pesquisa que envolve a colaboração e a integração de múltiplas disciplinas acadêmicas ou campos de estudo para debater questões complexas ou problemas que não podem ser adequadamente compreendidos através de uma única disciplina. Esse olhar múltiplo, tal qual a figura de um poliedro, como exemplificou o reitor, padre Anderson Pedroso. O poliedro tem muitas faces, mesmo sendo um só corpo estruturado, é uma figura complexa com equilíbrio dinâmico; e como ciência multidisciplinar as questões sócias de uma cidade como o Rio de Janeiro, apresentam muitos dos desafios do mundo real, como a segurança pública, os conflitos entre grupos de interesse e poder paralelo das milícias, traficantes e grupos que tomam as instituições de governo, como “um polvo”. Há muitas outras questões como saúde pública, desenvolvimento sustentável, geração de renda e invocação. Uma única disciplina não pode fornecer todas as respostas necessárias para enfrentar esses desafios. Em vez disso, a ciência multidisciplinar busca reunir especialistas de diferentes áreas, como biologia, química, física, sociologia, psicologia, entre outras, para colaborar na resolução de problemas complexos que se apresentam no Rio de Janeiro. E nesse sentido, o Simpósio iniciado ontem é um importante momento para todos buscarem entender como a Inteligência Artificial, a análise de dados e os mecanismos de informação podem colaborar na contraofensiva contra o terror local.
Outra autora especialista em segurança é Jessica Stern, que aborda a importância dos serviços de inteligência no combate aos esforços de grupos extremistas de implantar o medo e pânico na população civil. Em seus estudos acadêmicos, Stern ela oferece insights sobre como as forças do estado devem se organizar: primeiramente uma (1) Abordagem Holística: Isso inclui o uso de inteligência para entender as redes de comunicação, identificar ameaças potenciais e criar políticas de segurança eficazes; (2) Ela sugere que agências de segurança e inteligência devem melhorar o compartilhamento de informações entre si, (3) Prevenção – a importância da prevenção, incluindo a identificação e a intervenção em estágios iniciais de radicalização. Isso envolve a colaboração entre serviços de inteligência, aplicação da lei e profissionais de saúde mental; e por fim (4) Inteligência Artificial – uma ferramental importante para monitorar ações em redes sociais, comunicação de grupos locais e o planejamento de comandos, detecção de padrões de comportamento suspeito e na automação de tarefas de monitoramento. Portanto, os serviços de inteligência podem usar a IA para aprimorar a coleta, análise e interpretação de informações relacionadas ao terrorismo.
O Simpósio produzido pela PUC e ADCE RJ é totalmente gratuito e acessível. Aqui trouxemos os aspectos de uma das faces do poliedro, que diz respeito à segurança pública e do combate à ações de grupos radicais. Mas há muitos outros temas que ligam Inteligência Artificial a nossa vida cotidiana, como empregos e novas oportunidades de um lado e restrição a serviços que deixarão de existir. Também os aspectos jurídicos, da comunicação e mercados e até mesmo as questões teológicas ligadas à criação de uma consciência capaz de se voltar contra seu criador, como se sugere os filmes de ficção cientifica e que foi apontado na fala de abertura do Procurador Henrique Lima. O procurador no entanto trouxe uma visão diferente dos filmes, de que os algoritmos estão a serviço do homem e da vida. Artefatos que possam tornar a vida melhor, mais participativa e inclusiva.
A cidade do Rio de Janeiro foi concebida para que seu povo possa conviver na paz e no progresso e não acuada por malfeitores que agem causando pânico na população, com queima de ônibus, atentados, incêndios e arrastões. As novas tecnologias devem ser ferramentas para que autoridades garantam a lei e a ordem.
Quem tiver interesse em participar do simpósio PUC + ADCE RJ pode ainda fazer inscrição no site www.doutrinasocial.com.br. O simpósio ocorrerá sempre nas segundas feiras, nos dias 23/10, 30/10, 06/11, 13/11 e 27/11 no horário de 18:30 até as 20:00.