Em março de 2023, propusemos no DIÁRIO DO RIO, uma discussão para um olhar atento para a desigualdade e a pobreza existente em nossa sociedade, tanto a nível de Brasil como no Rio de Janeiro. É uma realidade que a presente geração precisa solucionar, pois não faz nenhum sentido tantos irmãos habitando na pobreza e na fome, se nosso país é uma nação rica, fértil e com uma economia pujante e oportunidades para geração de renda?
Quando se fala em combate às desigualdades, logo nos vem à mente os programas sociais de renda mínima, bolsa-família, programas de transferência de recursos e segurança alimentar, modelos de taxação de fortunas com destinação para assistencialismo. Importante destacar que tais políticas são importantes e que é preciso que avancem dentro de uma discussão ampla com a sociedade para que tenham uma progressão de foco e que não se tornem mecanismos permanentes de manutenção e dependência. O Estado tem um papel fundamental de ação no combate à desigualdade.
Mas o Estado em si não vai resolver as questões da desigualdade sozinho. E aliás, pode perpetuar um modelo de estagnação social e da implantação de uma cultura de desincentivo ao trabalho, manutenção da pobreza, estigma social e falta de empreendedorismo e de inovação. A história demonstra que a melhor forma para dar dignidade às pessoas acontece quando se fortalece sua capacidade de empreender e gerar sua própria renda e com isso maior independência. Em algumas sociedades, os governantes garantem o apoio popular com esmolas e cestas básicas e assim mantém o cabresto sobre o povo. Estranhamente temos no Brasil algumas regiões de extrema miséria e dependência e que votam maciçamente em partidos com promessas socializantes e de outro lado temos regiões com maior inovação, negócios e que valorizam a liberdade de empreender, conquistar sua renda sem necessariamente depender de programas assistenciais.
Aqui não se pretende uma discussão sobre o papel de políticas governamentais. Temos clareza de sua importância e apoiamos a discussão de como devem ser apresentadas e implementadas políticas públicas de combate à pobreza. Não se atua em uma nação sem um Estado presente, com ações estratégicas de longo prazo que não o populista, ideológico e partidário. O que se pretende, é colocar há um caminho imediato, acessível e que precisa ser mais difundido: O empreendedorismo sustentado em valores.
Empreendedorismo é a capacidade das pessoas de usarem seus dons e aptidões naturais, para construírem soluções inovadoras de negócios, capaz de gerar renda, recursos e manter suas famílias. Nosso pais é fabuloso e oferece oportunidades para criação de valor, há recursos disponíveis e capacidade humana. Há um estado com regras capaz de proteger quem está começando. Portanto o que precisamos é de fortalecer uma cultura de que é negócios, lucro e empreender são atividades positivas. Combater uma visão de que empresários são especuladores que exploram os mais pobres e trapaceiam nos negócios. Ao contrário, se queremos um país prospero, precisamos de muitos empreendedores, gente capaz de correr riscos para gerar lucro. E assim termos mais empregos e mais impostos.
Mas há um empreendedorismo que precisa ser aplicado imediatamente. Trata-se de fomentar negócios e renda na base da pirâmide. Há centenas de milhares de cariocas, em situação de vulnerabilidade social, aliás um número bem maior no Estado do Rio de Janeiro. São pessoas que não trabalham de carteira assinada e não tem uma atividade regular de renda, muito embora tenham capacidades e dons para produção de riqueza. E estudos demonstram que a geração de empregos formais não vai absorver esse contingente humano, aliás o trabalho de carteira assinada tende a se reduzir, como o entendemos. Novos arranjos estão se apresentando e o futuro do trabalho deve ser alterado com advento de novas tecnologias de IA e automação. Resta então dois caminhos para essa gente: Ou depender de programas assistencialistas e sociais ou puxarem para si novos meios de geração de renda. E nesse sentido há sempre o risco para atividades ilícitas ou do aliciamento pelo crime organizado. Portanto é muito importante que nossa sociedade possa ofertar um caminho de prosperidade.
E a solução vem do passado: Desde as civilizações mais remotas que o comércio é um meio de prosperidade. Em todo o mediterrâneo se observou o florescer dos comerciantes e de como a troca de mercadorias permitiu a prosperidade e crescimento econômico. É da circulação de mercadorias que se gera valor, que se criam novas oportunidades, que se desenvolvem mercado e se estimula a produção de novos bens. O comércio também teve um impacto significativo na disseminação de ideias, tecnologias e conhecimentos, contribuindo para o avanço das sociedades em toda a região.
E para que exista comércio, é preciso que as pessoas sejam educadas no interesse de vender, de obter lucros, de poupar o que se conquista de modo a se possuir recursos para novos investimentos. E aqui está a chave para mudança de cultura. A ideologia dominante e que a mídia vende é do consumismo, do prazer imediato e de que vender é algo ruim e que o lucro é pecado ou indesejável. Precisamos mudar essa chave e construir centros de empreendedorismo voltado para aqueles que não tem acesso ao mercado de trabalho, mas que possuem plenas condições e aptidão para negócios.
Neste cenário, vale destacar que o caminho do empreendedorismo vai ocupar o centro do cenário econômico, da geração de renda e trabalho. E, portanto, que é preciso desde já criar um ambiente favorável para inserção das pessoas, especialmente daqueles que tem vontade de trabalhar, possuem dons, habilidades e vontade; mas que não tiveram tantas oportunidades. E aqui surge a Pastoral do Empreendedor. Um movimento nascido em Salvador, na Bahia, inspirado por Frei Rogério Soares e tendo como referência a Doutrina Social da Igreja. Um movimento para incentivar empreendedores que desejam construir negócios lucrativos, onde é possível ver a experiência religiosa, além dos recursos financeiros. A experiência de aplicar os dons de Deus a serviço das pessoas e para geração de riqueza, que atenda às pessoas e que gere um excedente social, naturalmente distribuído, seja pela criação de empregos, pelo pagamento de impostos, pela circulação de mercadorias e por tantas outras maneiras.
O caminho da prosperidade está no risco para empreender, para entender que não se constrói riqueza com esmolas de governantes, mas que cada pessoa tem seus dons e capacidades a serem desenvolvidos. Existem barreiras e dificuldades, mas há mecanismos para avançar a partir de organizações como Igrejas, escolas, e entidades sociais.
Frei Rogério está ministrando o curso Doutrina Social na Prática, através da ADCE (Associação de Dirigentes Cristãos de Empresa), e há bastante conteúdo na youtube. A ADCE propõe algumas iniciativas para apoiar o empreendedorismo com valores a nível local, seja para formação de jovens em uma cultura de negócios. O Brasil tem muitos recursos e oportunidades acessíveis. Precisamos tornar o caminho para a prosperidade acessível para todos que tenham o desejo, capacidade de trabalho e estejam dispostos a correr riscos. Há alguns projetos muito propositivos e desafiantes para implementarmos no Rio de Janeiro e com impacto na vida das pessoas. Está aí um desafio para jovens determinados.
Referências:
- ADCE https://www.youtube.com/watch?v=KaHkrq6ELDk
- Frei Rogério e Pastoral do Empreendedor https://www.youtube.com/watch?v=cIJ4ayo0Tpc
- Políticas Públicas de Combate à Desigualdade https://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/9323/1/Implementando%20desigualdades_reprodu%C3%A7%C3%A3o%20de%20desigualdades%20na%20implementa%C3%A7%C3%A3o%20de%20pol%C3%ADticas%20p%C3%BAblicas.pdf