Instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU), desde a Conferência Rio 92, o dia 22 de março é uma data de conscientização e celebração da água, como bem universal de preservação da vida humana, clima e biodiversidade. O objetivo desta data é de trazer ao debate a necessidade de preservação e gestão sustentável dos recursos hídricos do mundo, e alertar sobre os desafios enfrentados para garantir o acesso à água potável e saneamento básico para todas as pessoas. E especialmente no Brasil, após os recentes avanços das políticas de saneamento com as reformas implantadas no arcabouço legal e que forçam as autoridades a dar solução do atendimento de água de qualidade e tratamento de esgoto, até 2033.
A água é elemento fundamental para a vida humana, regula a temperatura corporal e participa de toda a fisiologia e do metabolismo. Por isso é tão importante a hidratação continua para nossa saúde. Também é de vital importância na produção de alimentos pela agricultura, nos processos de higiene e saúde pública, como mecanismo de conforto ambiental e da qualidade de vida da cidade. Em todos os campos da economia, a água é um fator de destaque, seja como meio de transporte nas hidrovias ou da navegação, seja como insumo dos processos industriais e da geração de energia, ou ampliando no sentido planetário, temos os mares e atmosfera onde a presença de água é o grande regulador climático, sem o qual a vida não poderia existir na Terra.
Mas há uma reflexão que julgo oportuna, não só para o povo cristão, mas dirigida a todos que percebem que há um grande mistério do amor divino na vida, como a conhecemos. Na medida em que a ciência amplia suas pesquisas sobre o universo, percebemos o quanto a vida é rara e da complexidade de circunstâncias para que possa existir em outras regiões do universo. A vida inteligente e consciente, tal qual nossa humanidade experimenta é ainda mais rara e improvável. E que, portanto, nossa existência se torna uma grande dádiva. E neste sentido perceber a água como um bem comum da vida e assim um Dom de Deus.
O princípio da destinação universal dos bens, se aplica a água, considerada nas sagradas escrituras como símbolo da purificação. É, portanto, um direito de todos, bem como os serviços a ela ligados, a água potável e coleta e tratamento de esgoto. Nesta semana, como parte da preparação para a quaresma, a liturgia propõe textos para reflexão diária. E me tocou especialmente alguns trechos em que a água era sinal do sagrado e da renovação. Primeiro em Ezequial, 47 1-12 e após no Evangelho de João 5 1-16. No primeiro texto uma fonte de água nasce no templo e se propaga em quatro direções, primeiro como um filete de água e vai engrossando até se tornar como rio caudaloso que leva vida e abundância para todo o mundo. No segundo texto de João, Jesus cura um cego de nascença, na piscina de Betseda. A água aparece como elemento que renova a vida e purifica o ser. O milagre não ocorre pela alma, mas pela fé do cego, entretanto o símbolo da água é sempre uma metáfora da cura e renascimento. Por isso é usada em várias religiões como batismo e limpeza. Seja para cristãos, hindus e povos indígenas.
Que possamos aproveitar essa data, para reforçarmos nosso compromisso com o bem comum, a preservação dos mananciais e dos esforços públicos e privados para ampliar os serviços de saneamento. Evitar que ação populista de novos atores políticos alterem o marco do saneamento e tragam insegurança jurídica para o setor. E do ponto de vista individual, que cada pessoa possa refletir sobre a inclusão de hábitos para proteção e garantia dos recursos hídricos, do uso consciente. E finalmente que possamos entender a água como uma ligação do nosso mundo material com o grande amor e mistério divino.
Já que a água e a vida que nela habitam são tão “sagradas” – ainda que haja um certo saber por trás dessa visão mística -, que tal abolirmos para sempre a abominável atividade da pesca esportiva ou da pescaria recreativa? Qual o sentido da crueldade contra animais marinhos apenas por esporte ou por lazer? Existe algum respeito à vida nestas práticas tão sádicas? Reflitam…